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    Mônica Bergamo

    Nancy Spielberg lança filme em SP e diz que o Hamas 'quer destruir Israel'

    03/08/2014 08h05

    Na véspera de apresentar o documentário "Above and Beyond" no Jerusalém Film Festival há cerca de três semanas, Nancy Spielberg, 58, irmã mais nova do cineasta Steven Spielberg, postou uma mensagem fazendo referência ao conflito Israel-Palestina no Facebook: "Estou negociando um cessar-fogo com o [grupo] Hamas [que controla a Faixa de Gaza] para que todos possam ver a exibição".

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    O filme produzido por ela conta a história dos voluntários estrangeiros que ajudaram a criar a Força Aérea de Israel, depois da Segunda Guerra Mundial. Era o embrião de um sistema de defesa que hoje dá suporte à ofensiva israelense em Gaza.

    Na quinta-feira, ainda em sua casa, em Nova York, e prestes a embarcar para SP, onde exibe hoje o documentário na abertura do Festival de Cinema Judaico, Nancy falou, por telefone, com a repórter Eliane Trindade. Sobre o post no Facebook, admitiu: "É um pouco inapropriado, mas o Hamas tinha que cooperar! [risos]. Mesmo com medo, precisamos rir um pouco".

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    Após justificar a necessidade de quebrar a tensão, fala sério. "É claro que a guerra não é engraçada. Ninguém quer matar crianças. O problema é que civis palestinos estão presos no fogo cruzado [Israel controla a passagem em Gaza por terra no norte e no leste e pelo mar a oeste, e o Egito, no sul; viagens aéreas estão bloqueadas], enquanto Israel tenta mirar o Hamas. Judeus e não judeus querem que as mortes cessem."

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    Os ataques resultaram na morte de mais de 1.400 civis em Gaza -pelo menos 250 são crianças. Em Israel, foram registradas três mortes de civis nos primeiros 20 dias de ataques, e de 59 militares. A desproporção de vítimas nos dois lados da fronteira gerou reações no mundo. A ONU classificou um dos ataques, a uma escola, de "vergonha universal". Sua agência para refugiados palestinos pediu o fim da "contínua carnificina".

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    "Houve um tempo em que ninguém questionava o direito de Israel se defender. Eu não sei mais qual é o papel da guerra", diz Nancy sobre as críticas. "Eu creio na paz. Mas não se pode falar em paz quando uma organização terrorista como o Hamas tem como missão destruir Israel."

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    "Estamos lutando contra o terrorismo ao redor do mundo: Hamas, Hezbollah [libanês] e Al-Qaeda [de Bin Laden]. Eles não valorizam a vida. Como lutar quando um lado quer salvar vidas e o outro mata tudo que encontra pela frente? Não tenho respostas." Nancy passou dez dias em Israel em meio ao conflito atual. "Tivemos que correr várias vezes para abrigos. Fiquei chocada com o Hamas jogando foguetes contra Jerusalém, cidade sagrada para muitas religiões", diz ela, nascida em família judia americana.

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    Voltou ilesa para os EUA, deixando para trás sua filha Jéssica, que é cantora e foi participar do reality show "The Voice", em Tel Aviv. A mãe instalou um aplicativo no celular para receber avisos toda vez que um foguete é lançado sobre Israel. "O alarme toca o tempo todo. Não tenho dormido direito", diz. "Brinco que ela tem de usar pijamas legais, pois não sabe quando terá que ir para a rua procurar um abrigo."

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    Um sobrinho dela vive em um kibutz perto de Gaza onde, segundo ela, descobriram um túnel do Hamas. "O plano deles era atacar áreas civis durante o Rosh Hashana [Ano Novo judaico]. Ia ser um massacre. Espero que possamos ajudar os palestinos a voltarem para suas casas e encontrar um jeito de tirar o Hamas do território deles."

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    O filme que ela lançará no Brasil conta o papel de aviadores americanos na guerra de independência de Israel, em 1948. Eles têm hoje entre 90 e 95 anos. Nancy descobriu os personagens ao ler o obituário de um deles. "Encontrei nonagenários que foram como Tom Cruise, em 'Top Gun'. Quanto mais lia e via que tanta gente nunca tinha ouvido falar deles, mais sentia vontade de documentar a história dos 'avôs' da Força Aérea israelense."

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    Amigos se surpreenderam. "Nancy, você e aviões velhos? A gente entende você e bolsas Louis Vuitton", relata. A história estava morrendo com seus protagonistas. Dois faleceram antes do lançamento do documentário. Um deles viu cópia do filme internado, após um ataque cardíaco. "Antes de morrer, ele disse que não queria um funeral. Pediu à família que reunisse os amigos para uma sessão do filme que celebrasse, assim, a sua vida."

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    "Cada um dos voluntários me fez lembrar do meu pai [Arnold, de 97 anos]." Nancy é a mais nova dos quatro irmãos Spielberg. Steven é o primogênito. Ann é roteirista e Sue, consultora de marketing.

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    A caçula diz torcer para que Steven compre a ideia de também fazer um filme sobre os voluntários. "Obviamente, quero puxá-lo para meus projetos. Mas tento também George Clooney, Tom Hanks. O importante é a coisa acontecer."

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    Ser uma Spielberg é "bênção e maldição". "Ninguém vai bater o telefone na minha cara quando eu telefono para falar de um evento em prol das crianças de Chernobyl. Mas tenho de ficar atenta para que não usem meu nome e para saber se as pessoas são amigas pelos motivos certos." Diz que Jessica, quando foi para o reality show, afirmou: "Se vocês me querem por eu ser sobrinha do Steven Spielberg, não vou fazer".

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    "Quando estamos com as crianças no jato do meu irmão, digo: 'Essa não é a realidade. É uma bênção, um sonho. Não se acostumem'", afirma Nancy. Com os filhos já adultos, ela se recorda com carinho de uma babá brasileira. "Quando tive meu primeiro bebê, que agora tem 25 anos, ela veio me ajudar a criar meus filhos. Ainda lembro das canções", diz a americana. "Atirei o pau no gato-to", canta, em português.

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    Em SP, será hóspede da amiga e empresária Alexandra Fructuoso, 47, sócia da grife Davidson Zanine, que tem usado no tapete vermelho. Afirma estar ansiosa para entrar em contato com o "povo mais caloroso e deslumbrante do mundo". E diz, sobre a fama da brasileira: "Eu vou me sentir muito feia. Devia fazer plástica antes de ir".

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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