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    Mônica Bergamo

    Junno Andrade batalha por papéis na TV e homenageia Xuxa em novo disco

    14/12/2014 02h00

    É madrugada de uma sexta-feira e o cantor e ator Junno Andrade, 51, está parado em uma rua do bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. De jeans, camisa xadrez, violão nas costas –e suado como quem acabou de jogar uma partida de futebol–, ele conversa com duas mulheres. "Sou fã da Xuxa há 27 anos, e agora adoro ele também!", explica a vendedora Jane Vieira de Almeida à repórter Marcela Paes.

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    Jane e a amiga, a promotora de eventos Mariane Dalape, acabaram de assistir ao show semanal que o namorado da apresentadora faz na boate Piove. "Muitos fãs antigos da Xu vieram por curiosidade e acabaram gostando", explica Junno sobre a presença das duas, que gargalham juntas a cada frase do novo ídolo.

    "Tem casal mais lindo que ele e a Xuxa? Não, né?", completa Jane. "Você nunca ouviu falar de Angelina Jolie e Brad Pitt?", brinca Junno. Mais risadas. Ela aproveita para dar um presente para o ator. "Ele te falou que é chocólatra? Trago uma barra sempre que venho."

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    A fama que vem no pacote de um relacionamento com a rainha dos baixinhos "faz parte do jogo", diz ele. "Eu lido bem. A Xu é ainda mais tranquila. E, de verdade, ela gosta de parar e falar com todo mundo", diz o cantor, que está com Xuxa há dois anos.

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    Segundo ele, nem o aumento no número de fãs nem o assédio dos "súditos" mudaram sua rotina simples de "músico de bar". Antes da apresentação, nos fundos da boate, Junno mostrava as instalações e apontava o ar-condicionado quebrado. "Achei engraçado quando você combinou de me encontrar e disse 'camarim'. Você não tem nenhum amigo que toque na noite? É só um cantinho [risos]", diz à repórter.

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    No repertório do show –para o público composto em sua maioria de mulheres de vestidos justos e homens de camisa branca e sapato–, entram Lulu Santos, Barão Vermelho, Capital Inicial e Lobão, entre outros. Junno diz que é fã do pop rock brasileiro.

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    Quando menciona Lobão, ele aproveita para falar da paixão que tem por biografias. "A dele é muito boa. Ele fala do Nietzsche [filósofo alemão] o tempo todo. Porque o Nietzsche isso, o 'Anticristo' aquilo. Aí fiquei louco pra ler e comprei dois livros do Nietzsche! Só que já li 18 vezes as quatro primeiras páginas e não saio do lugar. Não é a minha, definitivamente!"

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    O paulistano do Tatuapé também já teve sua cota de sucesso individual. Estourou como cantor nos anos 1980 e fez o périplo nos programas televisivos da época, que incluíam os dos apresentadores Gugu Liberato, Hebe, Angélica e até a própria Xuxa. Foi nessa época que os dois se conheceram.*

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    "Fui lançado por uma gravadora grande com base na minha aparência e no fato de eu ser afinado. Era como se tivessem me dado uma Mercedes e eu não tivesse dinheiro para colocar gasolina. Faltava experiência", diz.

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    E dinheiro. "Fiz mais grana com presença em festas de 15 anos do que qualquer outra coisa", explica ele, que, "com todo respeito", não tem boas lembranças do período. "Voltava com dor no maxilar de tanto sorrir."

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    O cantor Leandro, da dupla Leandro e Leonardo, morto em 1998, foi o estopim para a guinada na carreira de cantor. O sertanejo gravou "Amor de Novela", uma canção escrita por Junno.

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    "O Leandro era um amigo querido. Ele gostou tanto da música que é a única que ele canta sozinho." O hit, incluído no disco "Um Sonhador", que vendeu quase 3 milhões de cópias, abriu portas e iniciou a carreira de compositor de Junno.

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    Com músicas gravadas por artistas como Zezé di Camargo e Luciano, Fábio Jr., KLB e Wanessa, ele se manteve bem financeiramente –até a popularização da pirataria no Brasil. "Foi uma queda vertiginosa. Se não vende disco, o compositor não ganha nada."

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    O momento ruim fez com que ele tomasse duas decisões: montar a banda com que se apresenta até hoje e começar a estudar atuação.

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    Naquela época, estava arrependido de ter recusado um convite do diretor Jayme Monjardim. "Ele tinha me chamado em 1989 para um papel na novela 'Kananga do Japão'. Mas eu, que sou ZL [zona leste] total, não aceitei. Só pensei: qual é a desse cara que quer cortar meu cabelo? Hoje sei que era medo, pânico."

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    Atualmente, entre a carreira de músico e ator, ele fica com a segunda opção. "No Brasil existe muito preconceito com idade. Se você não atingiu o sucesso com 25 anos, parece que não pode tentar mais." Sonha em atuar em um grande musical e em um longa-metragem.

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    Hoje, testes para novelas, filmes e peças fazem parte da rotina de Junno. Entre negativas e muitas "bolas na trave", ele já emplacou dois papéis na emissora da namorada: uma participação na novela "Salve Jorge", em 2012, e outra em "Boogie Oogie", ainda no ar. Tudo isso, segundo ele, sem a ajuda de Xuxa.

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    "Faço testes há muito tempo e corro muito atrás. Já vendi um aquário que eu adorava porque pensei que mudaria pro Rio pra fazer 'Malhação'. Mas desistiram de me dar o papel na última hora. Não existe interferência."

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    Agora, ele prepara um novo disco solo, para lançar no ano que vem. Desta vez, com a tão desejada experiência acumulada na "estrada", que não tinha nos anos 1980.

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    "Não tenho pretensão de fazer um disco para paradas de sucesso. Vou registrar um momento da minha vida, homenagear a pessoa que eu amo." Algumas músicas serão dedicadas a Xuxa.

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    Diz que "a persistência" sempre foi seu grande "trunfo". "Pra muita gente eu já tinha até morrido. Mas vamos lá: eu estou vivo."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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