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    Mônica Bergamo

    Dan Stulbach diz buscar 'instabilidade' e 'risco' ao deixar Globo e ir para 'CQC'

    25/01/2015 02h00

    Passados só cinco minutos após o horário combinado –15h30 de domingo passado (18)–, Dan Stulbach, 45, entra no Teatro Tuca (zona oeste de SP). De chinelos e roupa preta, cor que em breve será a de seu figurino toda segunda-feira, ele chega falando baixo, com uma tranquilidade que só sairá de cena quando pisar no palco, em algumas horas.

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    A pontualidade será mesmo importante para o ator e apresentador conciliar todos os projetos de sua agenda para 2015. "Pra conseguir fazer tudo, tenho que chegar na hora e fixar um limite para ir embora", diz ele ao repórter Joelmir Tavares. "Mas ainda nem começou a loucura toda. Vai ser uma doideira, né? Acho que não me toquei."

    O rebuliço vai chegar para valer em 9 de março, quando estreia como apresentador do "CQC". Com o tradicional terno escuro do programa, vai substituir Marcelo Tas, que ocupou o posto por sete anos. A atração da Band, uma mistura de jornalismo e entretenimento, volta reformulada para tentar reverter o cenário de queda de audiência e repercussão em baixa.

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    "Tem duas maneiras de olhar isso: uma é desistir e outra é ver como um desafio", diz Stulbach, que deixou para trás mais de dez anos de Globo. Nunca tinha nem pisado em outra TV. "Só no SBT, quando fui receber do Silvio Santos o Troféu Imprensa [de melhor ator pela novela 'Mulheres Apaixonadas' (2003)]."

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    No canal onde estourou como um vilão que batia na mulher com uma raquete, o paulistano descendente de poloneses já se encaminhava para ser tanto ator quanto apresentador. Cobriu folgas de Fátima Bernardes no programa dela, o "Encontro", e negociava um contrato com as duas funções. Era cotado para comandar uma nova versão de "Encontro" aos sábados ou um programa diário à tarde, ainda a ser criado.

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    Em meio às conversas com a emissora, aceitou o convite para interpretar o jornalista gay Téo Pereira em "Império". "O personagem é muito bom. Eu ia me divertir à beça", diz, ao se imaginar na pele do venenoso repórter. Mas a Globo preferiu discutir melhor se seria o trabalho mais adequado para ele, e o papel na novela das oito acabou nas mãos de Paulo Betti. Nisso, recebeu a proposta da Band.

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    "Aceitei pela possibilidade de fazer algo novo, de arriscar. Achei que faria bem colocar uma certa instabilidade na vida", afirma ele, sentado em uma poltrona do cenário da comédia "Meu Deus!", com a plateia ainda vazia.

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    "Não foi uma decisão fácil. Mas acho que a Globo protege muito. Tem uma hora que você não sabe se está sendo visto porque está na emissora ou se porque você é você. Minha relação lá sempre foi ótima. Mas vai ser bom ir por um caminho próprio. Pretendo ser mais dono de mim mesmo."

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    O contrato é de dois anos, e Stulbach evita falar em valores. Diz que as propostas financeiras das duas emissoras "eram muito próximas". No mercado, estima-se que seu salário vá girar entre R$ 30 mil e R$ 40 mil mensais, podendo dobrar com as participações em merchandising.

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    É discreto também em relação à vida pessoal. Não expõe a mulher e os dois filhos. Dá um riso sem graça quando questionado sobre Anita Albertani Stulbach, 4. O nome consta no programa da peça como pintora de quadros do cenário. "É minha filha." O mantra de preservar a intimidade foi ensinado pelo amigo Paulo Autran (1922-2007). "Ele dizia: 'Quanto mais as pessoas conhecem a vida do ator, menos creem no personagem'."

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    Mas ele vem fazendo concessões. Há oito anos apresenta na rádio CBN o "Fim de Expediente". Na TV, além da experiência "sem máscara" substituindo Fátima, desde 2010 participa das temporadas de verão do "Saia Justa" (só com homens), no GNT. "Com as redes sociais e o jornalismo que cerca o meio artístico, é inevitável que as pessoas formem opinião", afirma. "Já que de todo jeito vão me conhecer, que seja de maneira mais verdadeira."

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    Diz ter maior facilidade em se posicionar sobre "coisas que acontecem no mundo", como fez há alguns dias ao debater no "Saia Justa" o ataque ao "Charlie Hebdo" e relembrar perseguições a sua família, de origem judaica. "No Brasil, a gente é muito cobrado pelas posições que tem. Tal cantor apoiou um partido, aí as pessoas do outro partido não compram seu disco. As coisas se confundem de maneira exagerada."

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    O ator, que estreou nos palcos aos 19 anos, caminha em direção ao camarim para se trocar e mostra anotações feitas com giz na parte de trás do cenário. Ali ele faz uma contagem desde março de 2014 das apresentações da peça. A daquele dia era a 154ª. Na madeira registrou também os palpites do bolão feito com os colegas na Copa do Mundo. Colou um escudo do Corinthians, seu time do coração. Ao lado, escreveu "É nóis!".

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    Na história, Stulbach, que interpreta Deus, procura a psicóloga Ana (Irene Ravache). Na vida real, ele também faz terapia. "Era muito crítico aos outros e a mim. Me cobrava demais." Com sete anos de divã, diz ter aprendido a ser mais generoso. "Mas ainda tenho umas seriedades. Acho que a arte exige certa rigidez."

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    Disciplina que ele espera ter para tocar seus vários projetos. Na Band, além de comandar o "CQC", anima-se para reativar a dramaturgia da emissora, talvez com a produção de uma série. "Fez parte da negociação. E eles toparam a proposta", diz o fã de títulos estrangeiros do gênero, como "Breaking Bad" e "Fargo".

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    Na ESPN, canal a cabo esportivo onde mostrou sua irreverência comentando a Copa, pode fazer algo maior. "Querem me chamar para um programa. Não sei se dá tempo."

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    Nos palcos, fica em cartaz com "Meu Deus!" até março. Comprou os direitos da peça "A Morte Acidental de um Anarquista", de Dario Fo, que pretende produzir neste ano, apesar da "conjuntura econômica ruim". E emenda o oitavo ano como diretor artístico do Teatro Eva Herz, em SP.

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    Nesta semana, roda participação no filme "Meu Amigo Hindu", de Hector Babenco. "Tenho três cenas com meu 'brother' Willem Dafoe", brinca, sobre o ator americano. O auge da exposição deve ser em abril: vai estar no ar em dois canais ao mesmo tempo, já que a Globo vai exibir "Os Experientes", série que Stulbach gravou em 2013.

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    Sem empresário, ele cuida sozinho da carreira. "Pensei em ter assessor de imprensa, secretário. Mas acho meio estranho chegar com um séquito, sabe? Fujo de todo esse exagero. Enquanto eu puder ficar 'low profile', tá bom." Resta saber se a intenção resiste ao tempo de loucura que está começando.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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