A atriz canadense Ellen Page, 27, estrela de filmes como "Juno", pelo qual foi indicada ao Oscar, e da série de longas "X-Men", veio ao Brasil disposta a não ser incomodada.
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No sambódromo, onde faria filmagens para um documentário sobre o universo gay, ela, que é homossexual, se cercou de um staff de seguranças e assessores preparados para afugentar as milhares de pessoas que, imaginava-se, não a deixariam em paz. "Sei ser rude", chegava a dizer um de seus guarda-costas.
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No camarote da revista "Quem", Ellen via os desfiles e, nos intervalos, tinha à sua disposição uma sala reservada. Preferia sair do espaço e se esconder numa das ruas laterais da passarela do samba.
A coluna a flagrou sentada ao lado de uma lixeira, de boné e cercada pelos câmeras de sua equipe. "Oh! Shit [merda]", soltou ao perceber que estava sendo fotografada.
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"Sim, sim", respondeu a atriz, monossilábica, quando indagada se estava gostando do Carnaval do Rio. E o filme que está fazendo? "Que filme?", desconversou Ellen, para então se calar.
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"Desculpa, desculpa, não pode [fazer perguntas à atriz]", alertou uma assessora. Um integrante da equipe revelou: "Ela tem uns contratos chatos pra caralho, ela não pode falar". Só gravou para a revista "Quem".
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Na caminhada entre o camarote e a concentração da Unidos da Tijuca (que ela escolheu para filmar por ser, nas palavras de Lia Rangel, assessora de imprensa da escola, "a mais gay do Rio"), o estresse em torno da canadense se mostrou um exagero.
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A única equipe de repórteres que seguiu Ellen foi a da Folha. A atriz não foi reconhecida por um único folião do Sambódromo.
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"Globo! Ô Globo!", gritava um homem, imaginando tratar-se de uma equipe da rede de televisão brasileira.
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Ela só atraiu alguns olhares por estar cercada de guarda-costas. Na era da selfie, apenas uma pessoa se aproximou para arriscar uma foto, em quase duas horas. Desistiu por não saber de quem se tratava.
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Na escola, ainda antes do desfile, ela entrevistou Carlos Carvalho e Annik Salmon, diretores de Carnaval. Fez basicamente três perguntas: Como é o processo de criação? Quantos setores tem a escola? Quanto tempo vocês têm de descanso por ano?
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"It's amazing [é incrível]", dizia Ellen de mochila nas costas, garrafinha de água na mão e gestos muito contidos. "Não é parecido com nada que eu já tenha visto. Há muita energia aqui, muita energia." Ela subiu em um carro alegórico. Vestiu fantasias.
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A atriz fazia mais uma entrevista em inglês quando Nilton Barbosa, o Niltinho, vice-presidente da escola Unidos da Tijuca, entrou no meio da conversa.
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Cutucou o entrevistado: "Não dá! Não dá!". Ellen estaria atrasando a escola, que em breve entraria na avenida. "Agora não é hora", repetia, sem perceber que estava sendo filmado.
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Já no final do desfile, ela acenou para os destaques de um dos carros alegóricos, que permaneceram imóveis. A assessora de imprensa, atrás de Ellen, agitava os braços, indicando que eles deveriam responder para serem filmados. Os bailarinos enfim entenderam. Começaram a pular e a gritar.
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GUINÉ? QUE GUINÉ? "EU SOU BEIJA-FLOR"
Cláudia Raia só queria pensar nos detalhes da sua fantasia na concentração da Beija-Flor, na noite de segunda (16).
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Do polêmico patrocínio da Guiné Equatorial, país africano governado por um ditador, ao desfile da escola, a atriz preferia passar longe.
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"Meu amor, eu nem sei disso. Não acompanhei. Estou gravando uma novela. Isso tem que ser perguntado ao presidente da escola", dizia ela, no ar em "Alto Astral". "Eu sou Beija-Flor!"
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"Toda polêmica é boa, mas tem que ser feita de maneira inteligente", desconversava também o técnico Vanderlei Luxemburgo. "Eu agora sou Beija-Flor. Saí da Salgueiro. A presidente [Regina Celi] lá fazia umas coisas... Eu não concordava."
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Já Isis Valverde dançava livre, leve e solta no camarote da revista "Quem". A atriz comemorava seu aniversário de 28 anos.
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"Eu saí no bloco ontem", dizia aos risos, como se confessasse uma peraltice. "Ponho uma máscara e vou assim", contava, erguendo os braços e balançando a cabeça.
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A atriz não quis detalhar o disfarce que usou no Bangalafumenga e no Boi Tolo, no Rio. "Senão me entrego."
com JOELMIR TAVARES, MARCELA PAES e LETÍCIA MORI
Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.