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    Mônica Bergamo

    Mauricinho também tem o direito de protestar, diz o estilista Sergio K.

    15/03/2015 02h00

    O estilista Sergio K., 31, diz que não gosta de multidões. Também conta que não se sente bem em ambientes com pessoas que ele não conhece. Hoje, no entanto, ele vai quebrar as próprias regras para participar de uma manifestação contra o governo da presidente Dilma Rousseff.

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    Desde as eleições do ano passado, o empresário se engajou na disputa política. Comprou briga com os que o criticam pelo voto em Aécio Neves (PSDB-MG). Lançou a camiseta "Uai, we can", com o rosto do tucano e as cores da campanha do presidente americano Barack Obama.

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    O próprio Aécio e o ex-jogador Ronaldo usaram a peça. Neste ano, o estilista criou outra, com a frase: "A culpa não é minha, eu votei no Aécio". Vendidas a R$ 99, as 2.000 unidades esgotaram.

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    "Tem todos esses escândalos estourando. Não me lembro de época que tenha sido tão crítica e absurda. Nem no período do [ex-presidente] Collor. Se eu acho que ela [Dilma] vai sair? Não. Vou pra rua, mas não acredito. Mas precisa mudar. Ela precisa dialogar, não pode sumir", afirma Sergio à repórter Marcela Paes.

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    Ele bateu e também levou. "Fechei meu Instagram porque agora apareceu um monte de cientista político de rede social." E desabafou no Twitter: "A burguesia fede? Fede! Mas a podridão da política fede mais". E, em seguida: "Go fuck yourself!".

    "O que acontece é que as pessoas entram no Instagram e veem uma foto minha jantando num restaurante. Então tá: se você está jantando no Fasano e lutou para chegar lá, você não pode protestar? 'Playboy, almofadinha, mauricinho' Já falei que sou, mas ainda assim protesto. Eu sou, mas meus funcionários não são. E quero continuar sendo", diz.

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    Sergio K. lançou sua grife há mais de uma década, quando tinha 19 anos. Hoje diz empregar 300 pessoas. Tudo começou quando ele percebeu que os amigos universitários precisavam de sapatos sociais para usar nos recém-iniciados estágios (o estilista abandonou quatro faculdades –de administração, relações internacionais, direito e administração depois de uma segunda tentativa).

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    "Comecei a vender meio que para esse grupo. E vendia, viu? Olha o tamanho do meu nariz armênio. Era uma época em que você ainda podia fumar dentro dos lugares. A loja era praticamente uma balada. Tinha bebida, música e era uma fumaça dentro!"

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    O negócio cresceu depois da abertura de um ponto no shopping Iguatemi, em SP. Sergio, que mantém uma planilha com o faturamento diário de cada loja desde a abertura, lembra-se de detalhes da inauguração, em 2006. "Tinha fila pra entrar. Eu faturei R$ 7.000. Isso porque funcionou só meio período."

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    A alegria durou pouco. O estilista, com 21 anos na época, foi intimado pela Polícia Federal por problemas financeiros de sua loja. "Eu não fiz faculdade e sou um semianalfabeto. Só sabia trabalhar, organizar estoque, encostar a barriga no balcão. Aí acabava tendo algumas coisas que não eram 100% legais. Tive que pagar uma multa absurda. Tudo que eu tinha ganhado acabou. Recomecei do zero."

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    Nove anos depois, se diz recuperado do baque. Mas a rotina segue puxada. "Meus amigos falam que trabalho demais e me chamam para esquiar, ficar 15 dias em Saint-Tropez [balneário francês]. Até vou, mas por menos tempo."

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    Recentemente, Sergio deu um carro de presente para o pai. "Foi uma realização", diz. "Eu tinha comprado um Mercedes pra mim uma semana antes e ele elogiou. Fiquei muito mais feliz de ter dado pra ele do que de ter comprado o meu."

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    A família do estilista veio parar no Brasil com a avó Sirvat, 86, fugindo do massacre armênio pelo império otomano, que completa cem anos em abril. "Nada vai mudar a barbárie, porque quem morreu morreu. Mas seria importante o reconhecimento [pela Turquia]", diz. O país já apresentou pêsames pelas vítimas, mas não reconheceu o genocídio. Cerca de 1,5 milhão de pessoas teriam sido mortas.

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    A entrevista, feita no escritório do estilista, nos Jardins, é interrompida frequentemente por pendências, cheques e documentos que precisam ser resolvidos e assinados por ele. Quem também entra na sala é Montanha, seu copeiro, que é anão.

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    Numa bandeja prateada, ele traz a água do patrão em um pequeno copo de plástico. À repórter ela é oferecida em uma grande taça de vidro.

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    "Eu preciso consertar isso este ano. Eu tenho TOC [transtorno obsessivo-compulsivo]. Tenho mania de copo descartável. Uma 'FDP' de uma amiga falou assim: 'Tá vendo esse copo alto? Você acha que quem lavou enfiou a bucha até lá embaixo?' Depois disso, fiquei com essa mania", diz ele.

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    A água serve para o estilista tomar uma das muitas vitaminas e suplementos que guarda em seu escritório. "Depois dos 30 anos eu entrei em uma de vida regrada. Tô viciado! Tomo suplemento, antioxidante, tudo!"

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    Assim que Montanha sai da sala, ele revela: "Quando eu tinha nove anos, li que anões viviam pouco. E aquilo acabou comigo. Agora todas as minhas festas têm anões. O Montanha está sempre aqui e quero contratar outros. Ele sambou aqui na minha mesa hoje, porque o time dele ganhou ontem. Ele é demais. Sou canceriano, né? Coração mole".

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    Sergio anda com segurança particular em São Paulo. Ainda assim, já foi assaltado três vezes. "Acredita que eu estava com carro blindado e abri o vidro? É tão louco. Já fui procurar um psicólogo por isso." As sessões de terapia são esporádicas. E ele diz já ter a sua receita, controlada, para a inquietação: o ansiolítico Rivotril.

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    "Minha perna não para. Tenho DDA [distúrbio de deficit de atenção] muito forte. Tomo desde os 15 anos. Eu acordava tão cansado que não conseguia ir pra escola. Não atingia o nível de sono profundo por causa da minha ansiedade."

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    Neste ano, pretende parar com a medicação. "Não quero amanhã ter alzheimer. O Rivotril atingiu minha memória. Eu tenho problema com nomes. E agora eu tô nessa 'vibe' tipo saúde, porque tenho que aproveitar tudo que eu já consegui."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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