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    Mônica Bergamo

    Radicalismo é coisa de quem não sabe falar de política, diz Paulo Gustavo

    26/04/2015 02h00

    O burburinho na porta do Teatro Procópio Ferreira começa bem antes do espetáculo. Faltando mais de uma hora para o início, o trânsito da rua Augusta fica lento. De carro, táxi e até micro-ônibus chegam os espectadores que vão vibrar com a atuação de Paulo Gustavo, 36.

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    No camarim, o ator e comediante já faz a própria maquiagem para interpretar a sequência de seis personagens femininos na comédia "220 Volts". "Não tenho o menor problema de chegar mais cedo. Essa é a minha praia, entendeu?", diz ele, de calça com estampa de zebra e chinelos, ao repórter Joelmir Tavares.

    O niteroiense estreou com dois meses de bilheteria esgotada a temporada paulistana, que vai até junho. "A olheira!", ri ele, apontando para o rosto. Resultado das 12 horas que passou no dia anterior rodando cenas do filme "Vai Que Cola", derivado do seriado homônimo que faz no canal a cabo Multishow.

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    O programa, em que Paulo é ator e roteirista, volta com episódios inéditos no segundo semestre. "Faço TV e cinema porque o teatro acabou me levando pra essas bandas. Mas eu sou mesmo do palco. É menos desgastante." O contrato com o Multishow vai até o fim de 2016. Os "flertes" com a Globo nunca foram adiante por causa da prioridade que ele dá às suas peças.

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    Mesmo se sentindo fora do ninho em frente às câmeras, ele alcança nas telas o mesmo sucesso dos palcos. Derivado do espetáculo homônimo no qual vive a própria mãe e que atraiu 1,2 milhão de pessoas ao teatro, o longa "Minha Mãe É uma Peça" foi a maior bilheteria do cinema nacional em 2013 –4,6 milhões de espectadores.

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    A predileção por interpretar mulheres é satirizada em "220 Volts" pelo colega de cena Marcus Majella. "Eu faço superbem mulher, né?", despista Paulo. "As pessoas morrem de rir. Vou fazer pro resto da minha vida." Para manter o corpo em forma, ele corre, mas evita a musculação. "Se eu ficar forte, não posso fazer mulher. Ou eu fico bonito ou ganho dinheiro!"

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    Lotando casas de shows como o HSBC Arena, no Rio, ele concorda ser um "caso raro" de ator que conquistou a independência financeira com o teatro. Não ficou "milionário", mas está "bem de grana". Comprou um apartamento para a mãe e outro para o pai. "Sustento minha família. Pago R$ 9.000 de plano de saúde por mês pra todos. Foi a primeira coisa que fiz quando ganhei dinheiro."

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    Com a mesma fala acelerada e o tom de voz agudo de seus personagens, vai emendando histórias da vida corrida. Não cala a boca um minuto e só larga o celular ao entrar em cena. Mas gosta também de "ficar sozinho escutando música, tomando Coca-Cola, comendo chocolate".

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    No dia da entrevista, tinha viajado mais cedo do Rio para SP para tentar dormir um pouco em seu apartamento nos Jardins. Não conseguiu.

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    Faz análise há anos. "Bater papo com amigo já ajuda, né? A analista é formada pra bater esse papo! Então você vai na especialista do papo!"

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    Diz ter se comovido com a declaração da atriz Fernanda Montenegro de que ele "é um fenômeno a ser estudado" por ter "força cênica avassaladora" e reunir "plateias de 10 mil espectadores com o arraso do seu talento".

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    "Qualquer coisa vinda de Fernanda Montenegro a gente fica feliz, né? Pode ser só um 'oi'", brinca. Lembra que pediu opinião à veterana sobre o fato de se sentir pouco à vontade atuando na TV. "Ela falou que eu posso escolher o que me dá mais prazer."

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    Na lista de deleites profissionais que anda buscando, está o projeto de viver são Francisco de Assis no cinema. "A prece dele sempre me emocionou." Negocia com Fernando Meirelles para dirigir o longa. E entregou a Patrícia Andrade (roteirista do filme "Dois Filhos de Francisco" e do musical sobre a cantora Elis Regina) a tarefa de escrever a história.

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    "Não vou nem encostar no texto. Falei para ela escrever como se fosse para depois escalar o elenco. Senão eu não vou dar a guinada experimental. Não vai ser um salto no escuro pra mim, entendeu?"

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    Pela primeira vez, ele estará distante da criação. Nem planeja improvisar. "Não quero ficar livre não. Quero que seja uma coisa difícil para eu fazer. Vamos arriscar. Pode ser que seja uma cagada [risos], mas pode ser que seja o máximo. Acho que são Francisco de Assis vai ajudar também!"

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    Diz que crê em Deus. "Sou um pouco, como é que fala, ecu... ecumênico? Acredito em tudo. Vou no católico, vou no kardecista, vou na umbanda. Onde eu puder rezar e me encontrar com Deus."

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    Declara-se eclético também na sexualidade. "Eu sou azarado por homem, mulher, flor, fruta, sapo. O dia inteiro." Com bom humor, afirma que notícias sobre seus relacionamentos são "tudo gente querendo fazer fofoca". "Nunca falei que estávamos namorando. Mas pode falar que eu namoro o Thales, ele é ótimo, não tem o menor problema", diz, referindo-se ao dermatologista Thales Bretas, sua companhia constante. E completa, gargalhando: "Uma vez falaram que eu tava com a [atriz] Fernanda Paes Leme e nem desmenti. Achei o máximo".

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    Só perde a desenvoltura quando o assunto é a situação do país. "Me tira disso de política, pelo amor de Deus. Muito polêmico." De impulso, dispara uma justificativa: "O povo tá extremista demais, entendeu?! Um é Aécio [Neves], o outro é Dilma [Rousseff], e eles podem conversar civilizadamente. Mas não está tendo isso."

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    "As pessoas agridem, mandam a Dilma se foder. A Dilma é uma senhora, acima de tudo, né? E é a presidente do país. Pode estar fazendo uma série de coisas erradas. Tem coisas que sou a favor, outras não. Mas você não pode xingar uma presidente, xingar o outro." Radicalismo, acredita, é atitude de "gente que não sabe falar sobre política". Acha "superválido as pessoas se manifestarem, mas tem que manter a calma, a educação, e conversar".

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    Tranquilidade é algo que ele também procura. "[A vida] É dia após dia. Se eu for pensar que eu tô fechado até a segunda semana de dezembro, infarto aqui dentro do camarim. Penso só no agora."

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    Olha para o lado e mostra o lanche que vai comer antes de subir ao palco. "Torradinha sem glúten e queijozinho 'lacfree' [sem lactose]." E zomba: "Não sei nem pra que serve isso, gente! Falo isso porque todo mundo fala". Risadas em volta. "Daqui a pouco vem um cientista crânio formado em Harvard e fala que glúten é bom! Mais maneiro mesmo é ser feliz. Eu sou muito! E busco ser sempre. Vivo pra fazer as pessoas rirem."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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