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    Mônica Bergamo

    'Me irrita', diz Cleo Pires sobre guinada conservadora em 'Babilônia'

    31/05/2015 02h00

    Cursos pela internet, horas assistindo a séries de televisão e leituras com temas que vão de lógica a vegetarianismo. Todas as atividades descritas se encaixariam facilmente no cotidiano de alguém a quem se convencionou chamar de "nerd", mas fazem parte do dia a dia de Cleo Pires, 32, considerada uma das atrizes mais sexy de sua geração.

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    "Cara, eu sou nerd mesmo. O Rômulo [Neto, namorado da atriz] até me chama de 'Encicleopédia' [risos]. Por falar nisso, você está vendo 'Game of Thrones' [série americana da HBO]? Porque tem uma personagem que se chama Myrcella. Parecido com seu nome, né? Você sabe a origem?", pergunta ela à repórter Marcela Paes enquanto abre a geladeira da casa de sua assessora, nos Jardins, e devora uma sequência de fatias de queijo.

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    "Tentava me desvencilhar dessa coisa de ser sexy de várias formas. Mas achei que estava sendo tirana comigo mesma porque é natural. Posso ser o que sou: sexy, inteligente, delicada, forte, frágil, corajosa, medrosa, nerd. Não preciso ser uma resposta pra frustração dos outros."

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    Mesmo bem resolvida com o rótulo, a atriz arrumou sua maneira para diversificar a forma como é vista: atuar em comédias, filmes de ação e qualquer outra coisa que a faça "se aprofundar em um combo de sentimentos e valores diferentes dos que vive normalmente".

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    O papel na comédia "Qualquer Gato Vira-Lata 2", que estreia nesta semana, é um dos exemplos. No longa, Cleo interpreta uma garota que, no primeiro filme da série, aprende as regras do amor e, desta vez, se prepara para pedir o namorado em casamento em uma viagem romântica.

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    "Não me entendia como uma pessoa capaz de fazer comédia. Durante o primeiro filme eu ainda pensava: 'Não vou fazer isso: é muito mico, é ridículo, é over'. Mas é muito bom se expor porque você fica livre, sabe?", explica, para depois começar a enrolar seu próprio cigarro.

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    O pai da atriz, o cantor e ator bissexto Fabio Jr., faz uma ponta também como pai da protagonista no longa. Os dois já passaram períodos sem se falar, mas agora estão bem.

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    "A aproximação é mais emocional que física. Não nos vemos toda semana. Agora me sinto mais inteira. Porque é um lado da minha vida que, querendo ou não, me inspirou de várias formas e me fez ser quem eu sou."

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    O músico Orlando Morais, marido da atriz Gloria Pires e considerado um pai por Cleo, foi um dos maiores incentivadores da reconciliação.

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    "Se não fosse por ele, nada disso existiria. Ele é o grande amor da minha vida porque é o cara que me escolheu como filha. Ele sempre quis que eu me desse bem com o meu pai. Me mandou uma mensagem esses dias me dizendo que estava muito feliz de me ver tão plena com isso, que eu estava madura. Ele é demais. Não tem isso de egoísmo."

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    A relação com a mãe é mais próxima. Apesar de elas não conversarem diariamente, Cleo conta que ficou "morrendo de ciúme" quando soube que Gloria interpretaria uma ninfomaníaca na novela "Babilônia".

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    "Eu gelei. Falei: 'Nossa, que maravilha. Ainda bem que não estou mais na escola' [risos]. Sou muito protetora da minha mãe desde criança. Mas o legal é que você pode ter uma mulher madura, séria, que tem uma família e uma carreira lindas, fazendo um personagem desse. Ela coloca o poder de escolha da mulher muito em voga."

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    "É complexo. Às vezes eu sinto que esperam que eu seja delicada, sedutora e agradável. E que esteja com a unha feita". Segue Cleo: "E eu amo, amo estar com minha unha feita. Mas, entende? Em reuniões sobre personagens eu falava alguma coisa dando uma avacalhada... E um parceiro falava a mesma coisa e a sugestão era mais bem aceita. Mas não sei se é porque ele é homem e eu mulher."

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    Para ela, a rejeição do público a "Babilônia", que chegou a sofrer boicote incentivado por pastores evangélicos em razão das cenas do casal homossexual vivido pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, é "mentalidade de gado".

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    "É uma tristeza. Não só não estão querendo ver como falam coisas desrespeitosas. Por isso acho importante trabalhar questões de educação. Porque isso é a educação que dá, não a televisão."

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    A mudança na trama, que diminuiu as cenas com casais gays e fez com que a personagem da mãe parasse de seduzir homens em série, é ainda pior para a atriz.

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    "Acho louco que alguém vá transformar a própria obra por causa disso. Isso é bater palma pra maluco dançar. E isso me irrita. Não é bacana reprimir um trabalho que não está fazendo mal a ninguém."

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    Cleo reserva 10% de todo seu dinheiro para projetos sociais e afirma que se envolve diretamente com as causas. Após ir a Cabo Verde, criou um projeto de melhoria do abastecimento de água nas escolas de uma região do país.

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    "As obras já foram feitas e o governo foi superlimpo. Tenho um pouco de pudor de falar dessas coisas. É um desafio pra mim, porque eu não quero parecer a boazinha. Mas também não sou boazinha, então foda-se [risos]."

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    Costumava separar 20% do que ganhava, mas diminuiu a quantia após conversar com um professor de Cabala. "Ele falou: 'Olha, você não tem tanto dinheiro assim. Calma, querida. Separa 10% que é até um número 'energeticamente maravilhoso'."

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    Na contramão de colegas que participaram dos recentes protestos contra o governo federal, Cleo não foi a passeatas. Também preferiu não tirar selfies usando uma camiseta da seleção brasileira.

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    "Quando vejo esse frenesi de achincalhar as pessoas que estão no poder, fico um pouco angustiada. O Brasil é um país complicadíssimo, gigantesco, tem uma herança grave de ser explorado. Mas por que temos que esperar tanto do governo? Por que a gente não pode, também, começar a se mexer, criar?"

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    Um dos projetos pessoais mais caros à atriz é atuar no exterior. Ela voltou recentemente de uma viagem a Los Angeles, onde fez contatos.

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    "Quero muito fazer cinema nos Estados Unidos. E também em Bollywood [indústria cinematográfica indiana], que é um cinema que me toca o coração. Tenho planos ambiciosos. Não sei nem se posso contar, porque as pessoas já acham que eu sou louca. Vão me internar [risos]."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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