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    Mônica Bergamo

    Neschling e diretor italiano que fez ópera em SP trocam farpas e rompem

    08/06/2015 02h00

    "Eu sou um dos diretores cênicos mais famosos do mundo e fui tratado em SP como um garçom, um serviçal, um escravo. Quero que esses malditos paguem por sua maldade. Essa gente é perigosa, ameaça. É gente má."

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    As palavras jorram da boca de Giancarlo Del Monaco, 71, que assinou, em março, a direção cênica da ópera "Otello", no Theatro Municipal de São Paulo. Seu alvo: o maestro John Neschling, 68, até então seu grande amigo, e a direção da Fundação Theatro Municipal, que o contratou para dirigir o espetáculo.

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    A resposta de Neschling segue o tom: "Ele foi tratado com bandeja de prata. Mas se crê uma estrela, mal-educada e agressiva".

    Já a fundação diz que a passagem de Del Monaco configurou-se "um equívoco" desde que ele começou a destratar "diversos profissionais" da ópera. Em março, José Luiz Herencia, diretor da fundação, chegou a enviar carta a Del Monaco com acusações graves: "No livro de ocorrências da segurança do Theatro Municipal foi registrado que V. Sa. agrediu fisicamente uma funcionária". E outra: "Contrariando normas de segurança [...] V. Sa. insistiu em continuar fumando dentro do teatro".

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    Del Monaco diz que é tudo mentira. E afirma que os desentendimentos começaram porque Neschling "não conhecia a ópera 'Otello'". "Posso garantir porque meu pai, Mario del Monaco [tenor italiano], foi o maior Otello da história. Ele morreu há 40 anos. É referência. Por isso, posso dizer, depois de ter visto a ópera tantas vezes, que Neschling não a conhecia."

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    "Durante os testes para a transmissão [da ópera] em cinema, o que aconteceu? Os cantores usavam microfones", segue ele. "No intervalo, os microfones eram desligados. Mas deixaram abertos e ouviram o tenor, o soprano, o barítono e eu falarmos mal do senhor Neschling. Dissemos que ele não estava em condições de dirigir 'Otello'." Depois disso, afirma, "eu fui proibido de entrar no teatro".

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    Decidiu então assistir ao espetáculo com o ingresso de uma amiga. Diz que foi expulso no meio, acusado de ter comprado 20 bilhetes para pessoas que vaiariam o maestro. "O assistente artístico de Neschling veio até mim com seguranças e diante do público queriam me colocar para fora. Eu disse: 'Não me toquem, senão faço um escândalo'. Insistiram: 'Por favor, Del Monaco, vá embora, você não conhece Neschling'. O que me fez pensar que eu estava numa república das bananas, minha senhora, que tem um general que comanda", afirma. "Todo o teatro treme de medo diante de Neschling e Herencia. Aquilo não é um teatro, é uma prisão. É uma coisa mafiosa." Segundo ele, "a pessoa ainda mais temida é a mulher de Neschling [a escritora Patrícia Melo]. É ela quem comanda o teatro".

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    Del Monaco diz que desde que chegou a SP teve problemas. "Descobrimos que haviam errado o figurino, e metade das peças foi jogada fora." Ele rebate as acusações da direção do teatro. "Uma funcionária disse que eu a empurrei com violência, mas nem ao menos a toquei. Tenho testemunhas." Fumar, admite que fumou. Mas com autorização, já que o entorno do teatro é perigoso e ele não queria fumar na rua. "O diretor técnico pediu que eu trancasse a porta e abrisse a janela. Disse que desligaria o alarme antifumo do camarim."

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    "Senhora, posso lhe garantir que no mundo todos sabem o que significa hoje ir ao Brasil trabalhar com este senhor [Neschling]. É ser tratado mal. Os cantores não querem mais ir. Não é uma situação isolada. Não foi só comigo", afirma o italiano.

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    Del Monaco estava em Estocolmo na semana passada, acompanhando a mulher, Lana Kos, que se apresenta na cidade na ópera "La Traviata". "Daqui, vou para Bilbao, na Espanha, depois para Florença e também para a China e Cazaquistão. Brasil nunca mais, senhora."

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    Neschling estava na Rússia na semana passada, regendo a Orquestra Filarmônia de São Petersburgo. Diz que não queria se manifestar sobre os episódios, mas decidiu telefonar para a coluna diante de tantas "inverdades" ditas por Del Monaco.

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    "A crítica [de 'Otello'] falou bem da parte musical e mal da parte cênica [sob responsabilidade de Del Monaco]", afirma o maestro, rebatendo a opinião de que não conhece a ópera e dizendo que nem sequer soube que o italiano desaprovara seu trabalho. "Não existem microfones abertos no teatro", afirma.

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    "Mas isso não vem ao caso", segue Neschling. "Ele foi impedido de entrar no backstage [bastidores do teatro] porque eu não queria que agredisse outro funcionário ou fumasse. Uma pessoa que comete infrações graves não pode entrar no backstage. É assim em qualquer teatro do mundo." Sobre a expulsão de Del Monaco da plateia, diz que estava regendo e "nem sabia que ele estava lá".

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    O maestro afirma que jamais foi dada autorização para que Del Monaco fumasse escondido em seu camarim. "Seria um crime contra o teatro." Ainda assim, o italiano "deu até entrevista fumando charuto". Diz que a agressão a uma funcionária não foi fato isolado. "Ele chegou a dizer a uma cantora do coro lírico, que não conseguia ficar na postura correta: 'Pensa em mim e abre as pernas'. O coro ficou indignado."

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    E mais, diz o maestro: "Del Monaco recusou um tenor e me escreveu: 'Não quero esse porco gordo'".

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    O figurino da ópera, de fato, teve problemas, mas Neschling afirma que as peças foram feitas "pela equipe que ele [Del Monaco] trouxe ao Brasil" e que nada será jogado fora. "Vamos aproveitar em outras montagens." Ele rebate a afirmação de que sua mulher "comanda" o Municipal. "Ela é uma escritora premiada, faz mais sucesso do que eu. Você acha que tem tempo e interesse?"

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    Neschling segue: "Ele que pediu para eu colocar a mulher dele [a soprano Lana Kos] em 'Otello'. Eu tinha outras 200 [cantoras] que poderia contratar". O maestro elogia a soprano Lana Kos. "Ela canta bem, embora a Desdemona [interpretada por Lana] não seja o [papel] mais difícil do repertório."

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    Del Monaco teria depois brigado com a mulher e pedido a Neschling que a tirasse da ópera. "Imagina, eu tinha contrato com ela. Ele fez escândalo no teatro e no hotel, quebrou copos", afirma o maestro.

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    A ópera "Otello" marcou o fim de uma longa amizade. Del Monaco, no passado, chegou a convidar Neschling para dirigir a ópera "O Guarani", do brasileiro Carlos Gomes, na Alemanha. Depois recebeu o convite de Neschling para vir a São Paulo. O italiano estava tão maravilhado que até comprou um cãozinho yorkshire no Brasil e deu a ele o nome de Otello. Revelou numa entrevista que Neschling ficou "tão apaixonado que resolveu comprar um [cachorro] igual".

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    "Daquela vez [na Alemanha], foi tudo bem. Porém, quando vim para o Brasil, eu encontrei um monstro", diz Del Monaco sobre Neschling. Que retribui: "Del Monaco é um bronco. Tem diversos teatros do mundo que não querem trabalhar com ele".

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    É MINHA
    O interesse sobre a TV TEM, de J. Hawilla, esbarra em uma barreira: o empresário. O advogado dele, José Luis Oliveira Lima, afirma que ele não quer vendê-la e que Hawilla não teve contato com Boni ou outro empresário. "Todos os compromissos de JH serão honrados sem que ele tenha que se desfazer da TV."

    MÃO DE OBRA
    Dono de um dos maiores cachês da publicidade, Neymar abriu mão de remuneração ao emprestar seu rosto para uma campanha contra o trabalho infantil que começa a circular nesta semana. A veiculação dos vídeos e anúncios é uma parceria do instituto do jogador com o Tribunal Superior do Trabalho.

    CENÁRIO DE PESO
    Inspirado na peça "Carta ao Pai", de Franz Kafka, o próximo espetáculo do Teatro da Vertigem, "O Filho", terá 21 toneladas de ferro na montagem do cenário. Com estreia em 2 de julho, a montagem será encenada no galpão de 570 m² do Sesc Pompeia.

    EM CONSTRUÇÃO
    Quase três anos após sua morte, Oscar Niemeyer ainda tem projetos seus sendo construídos. Uma vinícola particular que saiu da prancheta do arquiteto em 2007 será feita em Provença, na França. Jair Valera, arquiteto que trabalhou com Niemeyer, irá ao país acompanhar a obra.

    CORPO A CORPO
    Representantes da Rede Justiça Criminal, formada por ONGs como a Conectas Direitos Humanos, vão tentar convencer deputados federais a votarem contra a redução da maioridade penal. Os ativistas querem priorizar os parlamentares que ainda não se manifestaram sobre o tema.

    O BONDE PASSOU
    Os atores Sergio Mamberti, Lúcia Veríssimo e Ary Fontoura foram convidados para a pré-estreia da peça "Um Bonde Chamado Desejo", na quinta (4). O espetáculo, em cartaz no Teatro Tucarena, tem os atores Maria Luisa Mendonça e Eduardo Moscovis no elenco.

    CURTO-CIRCUITO

    René Sampaio inaugura nesta segunda (8) a produtora a Barry Company, na Consolação.

    A Sociedade Israelita Albert Einstein faz festa de 60 anos, nesta segunda (8), no Unique.

    O restaurante MoDi inaugura nesta segunda (8) filial no shopping Pátio Higienópolis.

    Marcelo Knopfelmacher faz palestra nesta segunda (8) no aniversário de 80 anos do Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de São Paulo.

    A RED promove jantar beneficente nesta segunda (8) no Epice Restaurante, nos Jardins.


    com JOELMIR TAVARES, MARCELA PAES e LETÍCIA MORI; colaborou ELIANE TRINDADE

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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