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    Mônica Bergamo

    Derrota de Dilma no TSE em processo sobre campanha deixa PT em alerta

    03/07/2015 02h00

    A derrota dos representantes de Dilma Rousseff no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no processo em que o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, é convocado para depor sobre a contribuição financeira que fez à campanha da presidente, em 2014, acendeu o sinal amarelo no PT. O resultado foi acachapante: os ministros rejeitaram os recursos, para que Pessoa não desse depoimento, por unanimidade.

    PEDAL
    Na avaliação de parte da legenda, o resultado mostra que o TSE pode ser um terreno até mais árido para Dilma do que o TCU (Tribunal de Contas da União), que analisa as "pedaladas fiscais" do governo. O tribunal eleitoral investiga irregularidades nas contas da campanha que podem resultar até na cassação do diploma de Dilma. O caso deve ser julgado até outubro.

    PEDAL 2
    Na conta do PT, dos sete ministros do TSE, três tendem hoje a votar contra o governo (Gilmar Mendes, Dias Toffoli e João Otávio de Noronha) e três a favor (Luciana Lóssio, Henrique Neves e Maria Thereza Assis Moura). O placar pró-Dilma no TSE estaria por um voto: o do ministro Luiz Fux, o que é considerado risco extremo para o governo, dado o histórico do magistrado no mensalão. Tido como voto a favor, ele surpreendeu e condenou todos os réus.

    PEDAL 3
    No caso extremo de cassação do diploma de Dilma, quando ela e o vice, Michel Temer, seriam afastados dos cargos, seria aberta a polêmica: o segundo colocado na campanha de 2014, Aécio Neves, assume, como já decidiu o TSE em outros processos (Roseana Sarney, por exemplo, ficou em segundo e assumiu o governo do Maranhão em 2009, depois que o tribunal cassou o então governador Jackson Lago)? Ou o TSE convoca novas eleições?

    PEDAL 4
    A hipótese de Aécio Neves assumir provocaria turbulência até entre os tucanos, em especial os também presidenciáveis Geraldo Alckmin e José Serra.

    NOVO PACTO
    Entre as hipóteses contempladas em Brasília, todas partem da premissa de que Dilma ou perde, ou divide ainda mais o poder.

    NA LUA
    O ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Luís Inácio Adams, que também estaria de "saco cheio" do cargo, tem sinalizado nos bastidores que fica pelo menos até o julgamento das contas da presidente Dilma no TCU. A turbulência interna no órgão, com dirigentes deixando seus postos motivados por questões salariais, está ajudando o ministro a tomar a decisão de sair.

    TODAS AS LETRAS
    O ator Pascoal da Conceição, que já personificou Mário de Andrade, interrompeu uma mesa da Flip para declamar um poema do escritor, homenageado desta edição. A ensaísta argentina Beatriz Sarlo foi uma das participantes do painel, que abriu a Festa Literária de Paraty, na quarta (1º). A atriz Elisa Lucinda, o empresário Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, e o escritor Eduardo Alves da Costa circularam pela cidade no primeiro dia do evento.

    *

    'ELES SÓ VÃO PARAR SE FOREM MORTOS'
    Sobrevivente do atentado ao "Charlie Hebdo", Laurent Sourisseau, o Riss, 48, está em São Paulo a convite da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). O cartunista levou um tiro no ombro durante a ação de terroristas islâmicos que deixou 12 mortos no jornal satírico de Paris, em janeiro.

    O francês, que virou diretor da publicação, tem 13 policiais federais se revezando para fazer sua escolta durante a passagem pelo Brasil. Ele foi recebido na quarta (1º) em jantar do festival de humor Risadaria, na casa do idealizador do evento, Paulo Bonfá, no Alto da Lapa (fotos abaixo). Riss falou à coluna.

    Folha - Como se sente após quase ter morrido?
    Laurent Sourisseau - O que é complicado para mim é que associo tanto o "Charlie" às pessoas que morreram que é difícil agora pensar no jornal sem eles. É triste saber que não vou vê-los mais. Eles eram a alma do jornal. Agora, nós nos sentimos obrigados a fazer o jornal. Não podemos dar razão para aqueles que nos atacaram. Não é nada confortável fazer um trabalho em que somos o tempo todo alvo de pessoas agressivas, que querem o nosso fim. Mas, por outro lado, há milhares de pessoas que esperam ler o jornal. Ficamos entre os dois extremos. É desconfortável [enfático].

    Sente-se seguro no Brasil?
    Sim, porque ninguém me conhece.

    E na França?
    É diferente. Alguns jovens islamitas vieram tirar fotos de mim. [A perseguição] Não acabou. Preciso viver com essa ideia de que alguma coisa vai acontecer de novo. São verdadeiramente uns fanáticos. São como robôs. Eles só vão parar se forem mortos. Se não morrerem, vão continuar. Não se pode conversar com eles. Ou você está com eles e vive ou está contra eles e morre. Querem desestabilizar a democracia, criar um clima de medo, terror, desconfiança. E é contra isso que é preciso lutar também. Não se pode perder a fé.

    No Brasil tem havido casos de intolerância religiosa.
    Se for fazer a lista dos problemas que acontecem no mundo, três quartos são ligados a questões religiosas. Lá na França há os problemas com os muçulmanos integristas. Tem muçulmanos na França que são democratas. São moderados, abertos para a sociedade francesa, querem se integrar. Esses aí, se você faz um desenho de Maomé, podem não gostar, mas não são violentos, não vão atacar. É uma briga de foice que existe também entre os muçulmanos.

    (A coluna mostra ao cartunista imagens dos adesivos que simulam a presidente Dilma Rousseff de pernas abertas e têm sido colados na entrada do tanque de gasolina de carros) O que o sr. acha disso?
    [Risos] Não é muito fino, né? [Risos] Não tem muito senso político. É gratuito, machista. Será que fariam o mesmo com um homem?

    Humoristas no Brasil dizem sofrer pressão de defensores do politicamente correto. Como analisa isso?
    Para mim, o importante é que eu consiga explicar o que está no desenho. Não gosto de desenhar gratuitamente, fazer coisas em que não acredito. O desenho precisa dizer alguma coisa. Senão você cai na vulgaridade e na grosseria sem nada atrás. Precisa causar riso e impacto. Rir é refletir. Meu primeiro trabalho é escrever, escrever e escrever para encontrar a ideia. Depois eu desenho. O desenho satírico é a articulação entre o texto e o visual.

    Como está a sua saúde?
    Saí do hospital há uns 15 dias. Até o fim de abril fiquei no hospital o tempo todo. Estou fazendo a reabilitação do ombro. Não posso levantar o braço, mas vai ficar assim para sempre.

    O sr. se vê como um mártir?
    Não, não [enfático]. Não gosto dessa palavra.

    Foram feitas muitas doações em dinheiro após os ataques. O jornal ficou rico?
    Recebemos muitas doações, mas demos para as famílias das vítimas. E decidimos que o dinheiro das vendas fica com o jornal.

    Como estão as vendas?
    Estavam muito altas logo após o atentado, mas agora baixaram. Hoje são 120 mil exemplares vendidos nas bancas e 200 mil assinantes. Mas acho que pode baixar mais um pouco. Muitas pessoas compram o "Charlie" mas não conhecem o "Charlie". Muitas descobriram e gostaram. Outras não gostaram de jeito nenhum.

    *

    CURTO-CIRCUITO

    Luiz Melodia faz show nesta sexta (3) e no sábado (4), às 21h30, no Teatro J. Safra, na Barra Funda. Classificação livre.

    Dona Inah, Fernando Ferrer e Pepe Cisneros apresentam o show "Noche en Cuba", nesta sexta (3), às 21h, no Sesc Pinheiros. 10 anos.

    O Roupa Nova se apresenta nesta sexta (3) e no sábado (4), às 22h, no Citibank Hall. 16 anos.

    O filme "Sintonizah" será exibido no Matilha Cultural, nesta sexta (3), às 20h30. Logo após, debate com os diretores.

    com JOELMIR TAVARES, MARCELA PAES (de Paraty) e LETÍCIA MORI

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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