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    Mônica Bergamo

    Theodoro Cochrane fala de beijo gay e de suposto caso com Gianecchini

    15/11/2015 02h00

    "Sabe quem é a mãe dele?", pergunta Severino, o porteiro de um prédio nos Jardins, com ar de quem vai contar uma novidade ao repórter Joelmir Tavares, que está à espera de Theodoro Cochrane.

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    O ator (e DJ e figurinista e cenógrafo e diretor), que completa 37 anos nesta terça (17), já se conformou: ser chamado de "o filho da Marília Gabriela" é uma sina que vai acompanhá-lo para sempre. Sem poder mudar isso, ele trabalha. Finaliza o primeiro curta-metragem que dirigiu, "Para Salvar Beth", prepara a direção de arte de uma peça e cria o figurino de outra.

    Em seu apartamento, na tarde de uma quarta-feira, ele se dedica à edição do filme. O branco que cobre desde o chão até o teto só é quebrado pela cor de alguns móveis e das fotos contemporâneas nas paredes. "Sempre quis morar dentro de uma galeria", diz. O anfitrião fica feliz quando seus convidados trocam os sapatos por um dos pares de pantufas empilhados na entrada.

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    A mãe, que para visitar basta ele atravessar a rua, é uma inspiração. Moradora do prédio em frente, a apresentadora (e atriz e cantora e escritora) já "sofreu" e levou muito "cacete", diz o filho, por se aventurar em diferentes áreas.

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    "Antigamente se você não focasse numa única profissão era uma pessoa desnorteada, sem rumo, desconcentrada. Hoje em dia é um mérito ser multifacetado", afirma ele.

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    Nem sempre pensou assim. Fascinado com a "magia" das telas desde criança, mirou primeiro uma carreira atrás das câmeras. Sua mais antiga lembrança da infância, de quando tinha uns três anos, é a imagem da mãe no monitor de um estúdio de TV, "com roupa vermelha de lantejoula, o cabelo de permanente, desse tamanho [põe as mãos em volta da cabeça], loiro".

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    Passou uma temporada em 1997 em Los Angeles, nos EUA, estudando para ser diretor de cinema, mas a vontade de atuar foi mais forte. Virou aprendiz do diretor de teatro Antunes Filho. Depois fez Escola de Arte Dramática da USP, onde percebeu o tino para cenário e figurino. Também se formou na faculdade de desenho industrial.

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    Desde a estreia na TV, em 2003, com um papel na minissérie da Globo "A Casa das Sete Mulheres", fez mais duas séries, seis novelas, cinco filmes. No teatro, ganhou o Prêmio Shell de figurino em 2010. Fez direção de arte para o diretor Antonio Abujamra (1932-2015). Neste ano, cuidou das roupas da peça "Vanya e Sonia e Masha e Spike", com a mãe no elenco.

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    Mas nenhum desses trabalhos fez ecoar seu nome tanto quanto a foto de um paparazzo que mostra Theodoro beijando outro homem no Carnaval da Bahia, em fevereiro.

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    Sentado no sofá da sala, ele suspira e chora. "Escreveram coisas horrorosas a respeito de mim, da minha família, nas redes sociais. Eu tinha medo de sair de casa. Minha página ficou parecendo um site pornográfico, de tanta foto erótica. Foi muito forte."

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    Fez silêncio sobre o fato para barrar mais mágoas e evitar a impressão de que queria se promover. "Não que eu quisesse esconder, mas preferia que não viesse à tona. Acho que vivemos num país extremamente careta em alguns sentidos, bastante hipócrita."

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    Ele segue: "Não quero ser setorizado, ser de um nicho. Gosto de mostrar o meu trabalho e a minha sensibilidade artística. Eu sou Theodoro, eu sou um ator, um figurinista, um DJ, um diretor. Se eu tô beijando mulher, se eu tô beijando homem, se eu tô beijando cachorro, não vai interferir. É minha vida." E revela uma tristeza: "Eu nunca tive reconhecimento com meu trabalho nessa amplitude".

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    No meio do "redemoinho", faltou à entrevista coletiva da peça da mãe porque sabia que o flagra seria tema. Na ocasião, Marília Gabriela falou: "[Ele tem] ótima formação, é inteligente, maduro, um cidadão e tem direito de viver integralmente sua vida. Acho assustador a ignorância, desonestidade, preconceito, homofobia e outras fobias".

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    Theodoro diz que estava bêbado na hora da foto, mas suspeitou ter visto um flash. Pensou: "Paparazzo? Aqui na Bahia, às duas da manhã? E eu nem sou famoso o suficiente para ter paparazzo atrás de mim". Passado o episódio, o ator até ri: "Foi um beijo que, eu juro por Deus, não deve ter durado três segundos. O fotógrafo foi do caralho!".

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    Para ele, o interesse na vida alheia é reflexo da "nossa sociedade Kim Kardashian" –ela é a celebridade americana que ficou famosa mundialmente não se sabe muito bem por quê. "Qual a relevância dessa pessoa? Prefiro saber de quem tem valor artístico, intelectual, político."

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    Ele hesita ("Não vou falar desse assunto") ao ouvir o nome de Reynaldo Gianecchini ser mencionado na conversa. Em sua biografia, escrita pelo jornalista Guilherme Fiuza, o ator e ex-marido de Marília Gabriela abordou o comentário que o liga a Theodoro : a versão de que os dois tiveram um relacionamento amoroso e que o casamento com a mãe era só fachada. No livro, o caso é descrito como boato.

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    "É uma mentira absurda", afirma Theodoro. Na época, tinha namorada, ele lembra. "É ofensivo a mim, a ele e principalmente à minha mãe. As pessoas preferem aceitar que o galã da novela das oito é gay a acreditar que ele é apaixonado por uma mulher mais velha. Para que a minha mãe ia se submeter a isso? E que imagem de sucesso que eu tenho [irônico], de capa de revista, galã de TV, para ela ser obrigada a me 'poupar'?", diz.

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    Ele caminha pela casa. Fala animadamente sobre o curta "Para Salvar Beth", que há dez anos tinha vontade de fazer e hoje é seu maior projeto. A sala foi usada em uma cena de sua mãe e de Antonio Fagundes, que vivem um casal na história. O diretor banca o filme do próprio bolso, "na raça", e quer inscrevê-lo em festivais de Nova York, Berlim, Toronto e Cannes.

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    Na cozinha, diante da ampla janela, a geladeira tem pregados na lateral um papel com sua dieta e um folheto com orientações para a empregada lavar, secar e passar as roupas de acordo com a etiqueta. Na sala, ele ri ao observar a mania de deixar alinhados sobre uma mesinha seis controles remotos de diferentes tamanhos, dispostos invariavelmente na mesma ordem. No quarto, mostra a coleção de edições da "Playboy" –a direção de arte dos ensaios da revista sempre o atraiu.

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    Da "casa dos sonhos, o lugar preferido no mundo", sai à noite ao menos uma vez por semana para tocar. É DJ fixo na programação de três boates da capital. Theodoro, que sempre gostou de festas, também aproveita as voltinhas nas pistas para fazer contatos profissionais e acaba reforçando parcerias de trabalho.

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    Vê nas baladas uma cena cada vez "mais homogênea" e se define como membro da "tribo dos ecléticos". "Nunca gostei de ser padronizado, rotulado, em nada. Na profissão, no estilo, na vida."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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