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    Mônica Bergamo

    Ivete empolga e Wesley Safadão empaca no Carnaval de Salvador

    06/02/2016 02h00

    "Trá, trá, trá." Com seu trio elétrico em volume máximo, Ivete Sangalo dispara pela avenida Sete de Setembro tocando "Paredão Metralhadora", principal candidata a hit do Carnaval baiano este ano.

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    Duas horas antes, na quinta (4), os termômetros marcam 30 graus. Fãs de Ivete se aglomeram em frente ao prédio da cantora. Estão ali para um momento histórico: pela primeira vez em mais de duas décadas de Carnaval, ela vai desfilar sem as cordas que segregam os foliões que pagam dos que não pagam.

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    Ivete surge numa van enrolada em um roupão rosa que esconde o figurino do dia. Ela acena para os fãs. "É um sonho", diz um garoto franzino ao lado de duas amigas. Pela primeira vez, ele acompanharia a cantora favorita sem ser espremido do lado de fora da corda.

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    "Essa é minha pipoca [referência aos foliões que pulam sem comprar abadá, o uniforme dos blocos], porra", grita Ivete com força. No alto do trio, nenhuma das costumeiras celebridades.

    Embaixo, uma multidão em catarse acompanha o desfile, que custou R$ 500 mil ao governo do Estado. No lugar dos padronizados abadás, surgem fantasias de pierrô e Super Mario, um grupo de aposentadas que dança sem parar, além de fãs com camisas que estampam a frase "quem é essa aí, papai?" e replicam a recente ciumeira de Ivete com o marido, o nutricionista Daniel Cady.

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    Enquanto isso, na Barra, cabelos desgrenhados, gritinhos histéricos, mãos estendidas para cima. Uma van para junto ao trio elétrico e dela sai a principal atração da noite no circuito dos hotéis e grandes camarotes: "Vai, Safadão, vai, Safadão", gritam as fãs ensandecidas.

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    O cantor de forró que virou sertanejo Wesley Safadão teve seu dia de estrela na terra do axé. Desfilou no bloco Cocobambu para 4.000 foliões que gastaram até R$ 600 em uma camisa.

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    Após as primeiras horas de desfile, o trio de Safadão pifa e empaca por 1h15 no circuito, travando a passagem de outros blocos. "Aquele 1%" que pagou pelo abadá para ver o cantor precisou de paciência.

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    Safadão deixa o bloco correndo e segue para o camarote Planeta Band, onde faria uma participação especial no show de Melanina Carioca, comandado pela atriz Roberta Rodrigues. "Vai, Safadão, vai, Safadão", uma plateia lotada o aguarda. Canta três músicas e vai embora.

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    Nos camarotes oficiais, o governador petista Rui Costa e o prefeito ACM Neto (DEM) disputam quem bancou mais atrações sem cordas. O governo do petista pagou por shows de Ivete Sangalo, Bell Marques e outros artistas de axé em ano de crise. Mas prometeu arrecadar R$ 2 milhões com parceiros privados para patrocinar esses desfiles.

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    Cervejaria Itaipava, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram anunciados entre os patrocinadores, mas a marca do concorrente Bradesco foi a única que apareceu no trio de Ivete Sangalo.

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    A Itaipava, que contribuiu com R$ 400 mil para o governador baiano bancar os desfiles, também ficou sem a marca exposta no trio de Ivete. A cantora tem exclusividade com a Schin.

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    Ivete passa pelo governador, agradece e pede para repetir a parceria em 2017. Mas quando vê o prefeito, que não pôs um real em seu desfile, se derrete: "A cidade está linda, Netinho".

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    No dia anterior, na abertura oficial, o prefeitura bancou Carlinhos Brown e Saulo para se apresentarem em trios de graça. Brown aproveitou para tocar "Cidade Miscigenada", na verdade um jingle feito sob medida para a prefeitura celebrar "o novo momento da cidade".

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    Não é a primeira parceria entre Brown e governos carlistas. Em 1999, na comemoração dos 450 anos de Salvador, ele compôs "Cidade Voa". Aliás, o axé anda tão em baixa que Brown fez sua nova música no ritmo do Carnaval... de Pernambuco. É um frevo.

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    Daniela Mercury vai trazer para a avenida a canção "Cidade da Música", em homenagem ao título que Salvador conquistou junto à Unesco. A composição é assinada por Daniela, mas a ideia surgiu de uma agência de publicidade.

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    A música de Daniela até vinha bem nos votos pela internet de uma das principais premiações de música do Carnaval, o Troféu Dodô e Osmar. Mas foi engolida por Claudia Leitte, que catapultou seu placar após os fãs usarem redes sociais para ensinar como conseguir votos com o uso de "robôs". A organização suspendeu a votação. (JOÃO PEDRO PITOMBO, DE SALVADOR)

    com JOELMIR TAVARES, MARCELA PAES e LETÍCIA MORI

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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