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    Mônica Bergamo

    Gloria Pires fala de Oscar, feminismo e família e mostra ser 'capaz de opinar'

    13/03/2016 02h00

    Ao chegar em casa às três da manhã após a apresentação da cerimônia do Oscar na Globo, no último domingo de fevereiro, a atriz Gloria Pires olhou o celular e viu que seu assessor tinha mandado várias mensagens desesperadas. "Tá ruim, tá ruim, precisamos reverter isso! Uma onda de memes... Tá uma coisa muito violenta", dizia ele.

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    "A primeira coisa que pensei foi: será que xinguei alguém, falei alguma coisa ofensiva, fiz algum comentário politicamente incorreto?", conta Gloria, em seu escritório no Rio de Janeiro, à repórter Letícia Mori. "Respondi: 'Calma! Deixa eu me situar!'." Ela tinha voltado de uma viagem ao Uruguai no mesmo dia e dormido pouco.

    Só de manhã a atriz viu as imagens que faziam piada com sua participação na transmissão do prêmio. "Tinha muita coisa negativa, gente falando que eu não vi os filmes, que não sabia o que estava fazendo ou que eu tinha tomado algum remédio."

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    Antes que pudesse responder, precisou levar um de seus dois cachorros, que estava doente, ao veterinário. Na volta, o bichinho vomitou no colo dela. "Tive que tomar um banho, por isso estou de cabelo molhado no vídeo", diz a atriz, referindo-se ao post que publicou no Facebook afirmando que tinha, sim, visto a maioria dos filmes. O vídeo teve mais de 12 milhões de visualizações.

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    "Pensei: não vou responder zoação. Mas preciso que as pessoas saibam que eu não tô doente e que eu estava preparada. A ideia era fazer, no Oscar, um bate-papo informal, à vontade, relax. Minha preocupação, ao não falar sobre algumas coisas, era justamente não falar bobagem!"

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    Nem todas as brincadeiras eram negativas –muitas elogiavam a honestidade da atriz. E as positivas aumentaram depois do vídeo no Facebook. "Teve até uma pessoa bacana que postou '#pormaisgloriapirismonainternet'. Antes era não 'faz a egípcia' [expressão que significa ficar indiferente], agora é não 'faz a Gloria Pires!'", diz a atriz, rindo alto.

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    "Acho que vai virar um case de sucesso sobre relações públicas e mídias sociais", interrompe Betty Prado, amiga e sócia da atriz e diretora da Bemglô, marca que Gloria Pires lançou em 2013. O site vende produtos de decoração e cuidados pessoais, além de ter vídeos da atriz dando dicas de lugares e receitas.

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    A polêmica toda, que Gloria faz questão de dizer que não foi intencional, acabou sendo, na visão da atriz, "mais positiva do que negativa" para ela –e para a sua marca. Na madrugada do Oscar, o site da Bemglô teve seu maior pico de audiência, com 40 mil acessos. Precisou ser retirado do ar rapidamente para aumentar a banda (capacidade de receber visitantes).

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    Na terça-feira seguinte, Gloria participou do humorístico "Tá no Ar", da Globo, e teve a ideia de fazer um "Oscar dos Memes", escolhendo os melhores. Seu assessor procurou o site Sensacionalista para lançar o vídeo da brincadeira, em que incluiu o logotipo da Bemglô. Resultado: mais 64 mil visualizações. A decisão de lançar camisetas com as frases faladas na transmissão foi tomada com a equipe. E gerou outro pico de audiência.

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    A marca depois divulgou que o lucro das roupas iria para a ONG Amparando JG, que atua no Jardim Gramacho, na Baixada Fluminense. "Um negócio que era um tremendo vodu, uma coisa 'baixastralizante', a gente reverteu numa coisa bacana", diz Gloria.

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    "Quando alguém fala uma besteira a seu respeito, dá uma vontade de falar: o que você tá falando? Você não sabe nada da minha vida! Me segurei, segurei a ansiedade. Foi importante ter dado esse tempo, falar só um dia depois. E ter lidado com humor, porque internet é isso, né?"

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    "A internet é um negócio maravilhoso, sou fã. Mas não tenho tempo de administrar pessoalmente as rede sociais, eu me enrolo... Uma vez fui postar um negócio e acabei aceitando um monte de pedido de amizade!", diz, rindo.

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    A camiseta mais vendida foi a que diz "Não sou capaz de opinar #objetividade". Mas, polêmica à parte, tanto fãs quanto amigos pedem sempre que Gloria dê seus pitacos. "O que mais me perguntam é como dou conta de ter uma família grande [são quatro filhos, incluindo as atrizes Cleo Pires e Antonia Morais], trabalhar tanto e fazer o casamento durar tanto tempo", diz ela, que é casada com o músico Orlando Morais desde 1987.

    "Essa pergunta é feita só pra mulher, né? Ela que supostamente tem o encargo disso tudo. No meu caso não é assim, porque o Orlando é superparceiro. Nunca tivemos um momento em que um dos dois segurasse a barra sozinho, e isso foi fundamental. Não tem receita pro sucesso, pra fazer o casamento durar. Mas tem receita para dormir melhor, se alimentar de maneira mais leve", diz ela, que não come carne desde os 12 anos.

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    Feminismo é outro assunto sobre o qual opina sem problemas. "A mulher ainda tem um lugar difícil na sociedade, no Brasil. É ela que sustenta a família em uma proporção incrível, no entanto não tem o trabalho reconhecido e na maioria das vezes ganha menos do que ganharia um homem na mesma função."

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    "Nos EUA se fala muito sobre desigualdade de salários em Hollywood, desde o Oscar do ano passado." E no Brasil, há desigualdade de salários no cinema e na TV? "Não sou a melhor pessoa para falar disso. Para mim tudo aconteceu de uma forma muito..."A amiga Betty ouve e faz troça: "Não sou capaz de opinar!", dispara, enquanto trabalha na mesa ao lado. As duas riem. "Produzir cinema e audiovisual no Brasil é muito difícil, para todo mundo", diz Gloria.

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    "Nunca precisei lutar por alguma coisa só pelo meu gênero, mas me considero feminista no sentido de que a mulher tem capacidade igual, talento igual, não precisa ganhar menos ou ter uma vida mais difícil do que os homens só por ser mulher."

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    Sobre a crise política, Gloria Pires "faz a Gloria Pires" e repete, bem-humorada, a frase que virou bordão. Depois fica séria: "Não tenho dados, não posso falar só por falar". Ela, que viveu a mãe de Lula no filme "Lula, o Filho do Brasil" (2009), não comenta os últimos fatos envolvendo o ex-presidente. Diz apenas que adorou fazer o longa. "Fiquei honrada e encantada com a história pessoal dele antes de virar presidente. O filme foi prejudicado por questões que nada têm a ver com o cinema em si. A atuação do Rui Ricardo Diaz [que interpretou Lula] foi maravilhosa."

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    Diz que não tem vontade de se engajar muito em questões políticas, mas defende a propaganda que fez em 2013 para o governo de Goiás. "As pessoas criticaram porque gostam de criticar, né? Gosto muito do Marconi [Perillo, governador do Estado] pessoalmente, conheço a mulher dele, somos próximos e eu confio nele. Frequento o Estado e vi que realmente melhorou."

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    Gloria, que toca dois projetos como atriz e ainda não sabe quando será sua próxima novela, não descarta a possibilidade de participar da transmissão do Oscar ano que vem, se for chamada. A Globo não comenta a escalação, mas diz que em 2016 a audiência aumentou em relação a 2015.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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