Depois de ser recebido pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, em uma reunião na quarta (25), o ator Alexandre Frota diz que agora também vai procurar o ministro da Cultura, Marcelo Calero. Frota já havia tentado se encontrar com Calero na quarta, mas a pasta respondeu que não conseguiria espaço na agenda no dia.
"Ele vai ter que me receber porque recebeu a esquerda. Ele recebeu a [produtora] Paula Lavigne em um jantarzinho na casa dele quando ele ainda não tinha assumido. Agora ele tem que abrir a agenda para os artistas e ativistas de direita. Precisa ouvir o nosso lado", diz o ator à coluna.
O encontro de Frota com Mendonça Filho gerou críticas ao ministro e manifestações negativas na internet.
Foto postada por Alexandre Frota
Frota diz que as críticas são resultado de preconceito por ele ser ex-ator pornô. "Eu tenho que respeitar e eles não têm que me respeitar? Eles que estão sendo os intolerantes, os preconceituosos."
A coluna fez contato com Frota por intermédio de Marcello Reis, fundador do movimento Revoltados Online, que também esteve no encontro. O ator passou então a responder às perguntas da reportagem por meio de gravações de áudio no aplicativo WhatsApp. Ele se recusou a dar a entrevista por telefone.
Frota também encaminhou à coluna um áudio que divulgaria em sua página no Facebook para explicar o encontro. "Quando eu liguei para o ministro ele ainda era ministro da Cultura e da Educação. Eu queria falar com ele sobre a CPI da Cultura, sobre a Lei Rouanet", diz ele na gravação. "Entre sábado e quarta ele deixou de ser o ministro da Cultura, então perderia o propósito da minha visita, mas eu achei interessante manter a reunião, porque a doutora Beatriz [Kicis] queria apresentar o projeto escola sem partido", afirma.
Ele segue: "Depois as pessoas estavam me atacando, achando engraçado... O que eles não aceitam é que eu odeio o PT. Eu fui falar com o ministro que eu não aceito doutrinação ideológica, chega dessa doutrinação marxista, chega de Paulo Freire. Pornografia é o que o Lula fez com o Brasil. Eu só fodi nos filmes, o Lula fodeu o Brasil".
O ator diz que também vai procurar outros ministros do governo Michel Temer. Leia abaixo trechos da entrevista à coluna.
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Folha - Como você conheceu o ministro? Como foi marcada a reunião?
Alexandre Frota - Eu conhecia ele antes. Ele sempre foi um deputado muito ativo, apesar de ter estudado em uma escola de esquerda. Ele acompanhou quase todas as manifestações que fizemos contra o impeachment. Eu marquei a reunião por telefone, como eu te falei, quando ele ainda era ministro da Educação e da Cultura. Nesse meio-tempo ele passou a ser ministro só da Educação. Achei que fazia sentido eu manter a reunião porque a doutora Beatriz [Kicis, procuradora aposentada que o acompanhou] queria falar sobre doutrinação nas escolas. Aí eu coloquei algumas preocupações relacionadas ao ensino e a doutora Beatriz apresentou o [projeto] escola sem partido. Fomos muito bem recebidos. E basicamente o que falei é que nós gostaríamos de sala de aula sem a doutrina comunista, sem o PT transformando a sala de aula em "showmício". Eu queria uma escola livre sem partido. Ele ouviu, fez considerações. Ele ainda brincou comigo: "Olha Frota, sou bom de briga também!".
Você diz que as pessoas que criticaram seu encontro e fizeram piada faltam com o respeito. Você acha que sofre preconceito por ser ex-ator pornô?
Preconceito eu sofro, bastante. Eu passo por transição na minha vida, deixando cada vez mais a televisão, minha carreira artística e me dedicando a outras coisas que tenho também. Eu passo, sim, por preconceito. O Brasil é um país preconceituoso, um país que anda muito chato, porque tudo é assédio, tudo é racismo, você precisa pensar muito no que você fala porque as pessoas entendem o que elas querem entender. Eu acho que as pessoas faltam com o respeito [comigo], mas, veja bem, elas só se pegam no detalhe. Não tem outro detalhe. Como se isso [ser ator pornô] fosse um crime, né? Não é crime nenhum. Isso foi uma escolha minha, e as pessoas se pegam nisso achando que vão me incomodar ou que vão me tirar do meu caminho. Geralmente são as pessoas de esquerda e que tanto propagam o respeito ao próximo, o não à discriminalização [sic]. Eles pregam isso. Na verdade eles são falsos moralistas, eles pregam o que interessa para eles. Se eu tivesse do lado deles, eles jamais estariam falando sobre isso. Tem 11 anos que eu fiz isso e se eu quisesse esconder eu não teria feito.
Você também afirma que vai procurar outros ministros. Quem pretende procurar e o que pretende dizer? Acha que será recebido?
Como cidadão brasileiro você precisa ser ouvido. Eu podendo e trabalhando para isso, pretendo me encontrar com outros ministros. Assim como vou a Brasília e me encontro com mais diversos deputados e senadores. Nós sempre devemos ter uma agenda e apresentar ideias. Eu não vejo erro em sentar com o ministro da Justiça, por exemplo, e pedir a ele que olhe mais pelas polícias do Brasil, que andam sucateadas. E que imponha um projeto de tolerância zero. Precisa de um ministro da Justiça que venha dizer o porquê veio, de verdade, sem medo, ser agressivo, viril. São ideias. Assim como vou atrás do ministro da Cultura. Ele vai ter que me receber porque recebeu a esquerda. Ele recebeu a [produtora] Paula Lavigne em um jantarzinho na casa dele quando ele ainda não tinha assumido. Agora ele tem que abrir a agenda para os artistas e ativistas de direita. Precisa ouvir o nosso lado.
O que acha do governo Temer até agora?
Se ele deseja realmente ficar ele precisa ter pulso firme. A proposta dele de ter um teto para os gastos do governo é primordial. A outra é ele ser aberto ao diálogo e não cometer erros como esse de dar um término ao MinC [Ministério da Cultura] e depois dar um passo para trás e restabelecer. Precisa acabar com esse aparelhamento nos ministérios. Eu acho que, apesar de pouco tempo, ele está se mostrando um cara coeso nas propostas. Quero acreditar no governo dele. Eu acho que ele errou em algumas coisas relacionadas a escolha de alguns ministros.
Ouviu os áudios de membros do governo Temer sobre uma tentativa de barrar a Operação Lava Jato?
Eu ouvi todos os áudios. Eu acho que todas as pessoas que estão contra a Lava Jato são contra nós, contra o povo, contra as ruas. Todas as pessoas envolvidas, não tem sobrado nenhum. O primeiro foi o [ex-ministro do Planejamento Romero] Jucá. Assim que ouvimos os áudios colocamos uma pressão enorme, falamos com eles, enviamos e-mails e WhatsApp para deputados, pedindo a demissão dele. E o Temer demitiu, claro que não só por causa da nossa pressão, mas se fosse o governo Dilma ela jamais iria tirar um ministro. Acho muito difícil. É inadmissível essa maracutaia para barrar a Lava Jato. Essas pessoas precisam pagar! Cana!
Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.