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    Mônica Bergamo

    Constituição brasileira tem que ser respeitada, diz presidente francês François Hollande

    08/08/2016 02h00

    O presidente da França, François Hollande, chega serelepe, e sozinho, à recepção para chefes de Estado que o presidente interino, Michel Temer, ofereceu na sexta (5) no Palácio do Itamaraty, no Rio. Ele é a estrela da festa.

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    Sobe e desce as escadas, abraça todos os que reconhece, pula de rodinha em rodinha distribuindo sorrisos. Entre um cumprimento e outro, ele fala com exclusividade à coluna.

    Folha - O que está achando do Rio de Janeiro?
    François Hollande - Eu gostaria de visitar muitos lugares na cidade, mas o tempo é curto. Eu fui à Vila Olímpica. Está fantástica, fiquei muito bem impressionado.

    Como está vendo a crise política brasileira?
    Eu sou amigo do Lula. A presidente Dilma me convidou há dois anos para vir a essa festa no Brasil. Muitas coisas aconteceram desde então e o país está tentando resolver os seus problemas. Nós estamos observando. O importante é que a Constituição seja respeitada.

    O senhor teme um ataque terrorista no Brasil? Ou o país corre riscos menores?
    Todo país do mundo pode sofrer um ataque terrorista. Mas nós sabemos que o Brasil se preparou muito bem, nos sentimos seguros aqui.

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    Um interlocutor se aproxima e diz que a colunista trabalha no maior jornal do país. "São todos perigosos!", diz Hollande sobre os jornalistas. E caminha até a roda em que estão o presidente da Argentina, Mauricio Macri, e o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, se aproxima. Todos passam a falar em inglês.

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    Os garçons circulam oferecendo espumante nacional Adolfo Lona, batatinhas recheadas com bacalhau, torradas com surubim ao grana padano e saladinha de camarão sobre palmito servido na colher.

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    Mas o sucesso é a cachaça com limão. "O mundo muda quando a gente toma uma caipirinha", diz John Kerry, que bebe várias (à noite, ele chega a passar mal na cerimônia de abertura).

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    O príncipe Albert, de Mônaco, pede uma enquanto conversa com a Folha. "Eu vim ao Rio pela primeira vez antes de você nascer. Em 1982", diz à colunista, tentando ser gentil.

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    Ele também se refere a Lula como "amigo" e diz que "nós não podemos julgar o que está acontecendo no Brasil. Mas nós entendemos que as pessoas estão muito decepcionadas. Há questionamentos, se a Olimpíada custa pouco ou muito. Pode ser [que custe muito]. Mas sem dúvida será um grande evento".

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    O prefeito do Rio, Eduardo Paes, se integra à conversa. "O país está de mau humor neste momento. Mas eu já estou sentindo isso mudar nas ruas." Paes deu "uma andada" na orla. "Eu fui um pouco com receio, né, de ouvir 'ô, seu f.d.p.'. Mas estava tranquilo, todo mundo feliz."

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    Depois de receber, em uma sala reservada, junto com o chanceler José Serra, os cumprimentos das delegações de mais de 40 países, Temer circula pelo coquetel. Fala com o príncipe Albert, que já está na segunda caipirinha.

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    "Vamos esconder os copos", brinca Temer, referindo-se à presença da coluna. "Essa bebida é um patrimônio cultural do Brasil", explica, em seguida. O tradutor que acompanha a conversa repete a frase em inglês para Albert. "Então não há problema de eu sair no jornal bebendo!", responde o príncipe.

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    Albert passa a elogiar o Brasil e a falar sobre a expectativa da cerimônia de abertura da Olimpíada, para onde os dois iriam logo mais. "Pode haver alguns protestos", alerta Temer. "Little, litlle [pequeno]", segue o presidente brasileiro. "Bem, nós [visitantes estrangeiros] não vamos perceber nada!", responde Albert, em tom de brincadeira.

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    À Folha, Temer diz que está "preparado" para vaias. "Pra lá de preparado." Sobre os protestos da abertura da Copa do Mundo, há dois anos, em que o público mandou Dilma "tomar no c.", o presidente diz: "Aquilo foi um horror. Um horror com a senhora presidente. Uma falta de educação foi aquilo".

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    Os convidados brasileiros, como o governador Geraldo Alckmin, de SP, os ministros Henrique Meirelles, da Fazenda, Eliseu Padilha, da Casa Civil, Alexandre de Moraes, da Justiça, e Raul Jungmann, da Defesa, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, formavam rodinhas à parte dos estrangeiros.

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    A rainha Matilde, da Bélgica, mantinha conversa animada com o primeiro-ministro da Itália. Mais cedo, ela e o marido, o rei Filipe, tinham dado enorme dor de cabeça à segurança dos jogos.

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    Eles queriam porque queriam visitar o Morro dos Macacos, no Rio. A diplomacia belga ameaçou criar um incidente diplomático. "Eu vou desviar câmeras de vigilância, efetivos, só porque o rei quer ir no morro?", questionava o general Sérgio Etchegoyen, da Segurança Institucional. Suas majestades, enfim, se curvaram à dura realidade.

    com JOELMIR TAVARES, LETÍCIA MORI,THAIS ARBEX e FILLIPE MAURO; colaborou LÍGIA MESQUITA

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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