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    Mônica Bergamo

    Após assalto a sua casa, Angela Maria mantém show e diz: 'Sou corajosa'

    04/09/2016 02h00

    Na noite do dia 27 de julho, Daniel D'Ângelo, empresário e marido da cantora Angela Maria, foi abordado por três assaltantes na porta de sua casa, no Jardim Marajoara, em São Paulo. Enquanto dois o rendiam com um revólver na cabeça e outro na barriga, o terceiro entrou na sala e levou a bolsa de Angela.

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    "Eu nem percebi. Estava de costas na cozinha preparando uma peça de carne", conta no dia seguinte ao repórter Fillipe Mauro, ainda perturbada, e sem dormir, a célebre intérprete de canções como "Gente Humilde".

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    "E graças a Deus! Porque estava pronta para enfrentá-lo. Já me assaltaram outra vez: deram um tapa em meu cunhado e devolvi outro na pistola deles. Sou corajosa."

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    Daniel também se sente aliviado por Angela não ter notado o assalto. Pensa que, se ela gritasse, o matariam. Ele reclama da falta de policiamento em seu bairro."E o mais curioso é que Angela prestou há pouco tempo uma homenagem à Polícia Militar. Foi aplaudida de pé. Mas, quando mais precisamos, demoraram para nos atender."

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    No mesmo dia, Angela tem show agendado para plateia cheia no Sesc Santana, ao lado do violonista Ronaldo Rayol, irmão do cantor Agnaldo Rayol. O cantor e ex-vereador Agnaldo Timóteo telefona para saber se tudo vai bem. "Estou abalada. Não consegui pegar no sono a noite toda. Mas eu jamais conseguiria cancelar um show."

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    Daniel, 55, trinta anos mais novo que ela, a observa orgulhoso enquanto tenta acalmá-la: "Fico aflito porque trato a Angela a pão-de-ló: só suco e vitamina importada". Os dois se conheceram há 37 anos, numa festa em que ela era mestre de cerimônias. Foi amor à primeira vista, dizem. Se casaram. Não tiveram filhos. Ela adotou duas crianças antes de conhecê-lo.

    Marlene Bergamo/Folhapress
    O casal Angela Maria e Daniel, em uma gravadora, em 2011

    O assalto veio completar uma temporada difícil da vida de Angela. Em maio, ela perdeu seu melhor amigo e parceiro musical, o cantor Cauby Peixoto. Angela não o visitou no hospital em seus últimos dias para não se abalar.

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    Já Daniel estava no quarto de Cauby quando ele morreu. Disponibilizou o jazigo da família, no cemitério de Congonhas, para sepultá-lo. A seu pedido, a empresária Lilian Gonçalves, filha do cantor Nelson Gonçalves, procurou o deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP) para liberar a Assembleia Legislativa para o funeral.

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    Foi com Angela que Cauby cantou em seu último show, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em março. "Mas ele já não estava bem. Só conseguia cantar sentado. Senti que seria seu espetáculo de despedida", diz ela.

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    Daniel lembra que Cauby dizia, brincando, ter ciúmes de seu casamento com Angela. "Ele dizia: 'Dani, amo a Angela, mas sinto que cheguei tarde. Você veio primeiro e foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela."

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    Ela começa a separar os vestidos do espetáculo, um verde e outro prateado, costurados sob medida pelo estilista Juarez Fernandes. Todo o figurino que veste em suas apresentações é desenhado especialmente para ela, com tecidos escolhidos a dedo por Daniel. O casal entra no carro (um sedã que os assaltantes chamaram de "nave") e Angela se recorda que sua carreira não se resume à parceria musical com Cauby.

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    A cantora Bibi Ferreira é sua fã. Ela prestou uma homenagem em um de seus espetáculos recentes ao saber que Angela estava na plateia."Ela me disse que eu era uma grande mulher. Eu respondi: claro, Bibi, você tem 1,49 de altura e eu tenho 1,50."

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    Amália Rodrigues, nome maior da música portuguesa, procurou Angela nos anos 60, após um espetáculo no Casino Estoril, em Portugal. Ficou impressionada com sua interpretação do fado "Ai, Mouraria". Em Paris, iniciaria uma temporada quando soube que seu pai, um pastor batista, havia morrido e decidiu retornar ao Brasil.

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    No camarim do Sesc Santana, ela é recebida pela cabeleireira Fernanda. Angela tem pressa. O show está agendado para as 15h e já são 14h30. Interrompe o preparo apenas para receber uma flor do filho de Fernanda, Pedro, de 11 anos, a quem chama de "neto emprestado".

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    Daniel repousa a mão sobre as costas de Angela e logo leva uma bronca. A cantora tem aflição que toquem em seus cabelos. "Ela também não gosta de barba, odiou a minha", ri.

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    O produtor Thiago Marques Luiz, que trabalhou com Cauby Peixoto nos últimos dez anos, entra na sala e repassa o programa do espetáculo com Angela. Inclui canções como "Ronda", "Codinome Beija-Flor" e, para encerrar, o clássico cubano "Babalu".

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    Ela não gosta da interpretação que o cantor Johnny Mathis deu a "Babalu" ("não ficou legal") e acha que a versão de Dalva de Oliveira é muito lenta perto da sua, um "cha-cha-cha" latino. "Mas, para falar a verdade, tudo isso pouco importa porque, no fundo, eu odeio 'Babalu'. Já cantei umas cinco milhões de vezes. Não aguento mais!"

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    Soa a sirene. A cinco minutos de as cortinas se abrirem, vai até as coxias amparada por Ronaldo Rayol. Thiago pede aos assistentes de palco que parem com o gelo-seco para não irritar a garganta de Angela. E Daniel alerta à reportagem: "Agora vocês vão ver Abelim [seu nome de batismo] se transformar em Angela Maria".

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    Angela conta à plateia que foi assaltada. O público reage com expressões de indignação. Ela devolve risos e piadas. Canta 1h30 de pé, sem intervalos. "Angela é muito profissional. Sempre digo: seu marido é sua carreira", conta Daniel.

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    Ela fica ansiosa se passar mais de quinze dias sem se apresentar e liga para Thiago cobrando mais shows. Nas horas vagas, visita hospitais e doa alimentos, fraldas e cadeiras de rodas.

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    Em julho, visitou o cantor Roberto Carlos no camarim, antes de assistir a um show em São Paulo. Recebeu dele passe-livre para gravar qualquer canção. "Ele é meu fanzaço!". Angela se prepara agora para gravar um CD em homenagem ao rei e planeja lançá-lo em dezembro.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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