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    Mônica Bergamo

    'Vivia fodido, mas era feliz', diz Marco Luque sobre passado como palhaço

    09/10/2016 02h00

    Marco Luque volta a ser uma pessoa tímida. Pelo menos por alguns instantes, enquanto conversa com o repórter Joelmir Tavares, de pé nos bastidores das filmagens do longa "O Homem Perfeito".

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    "Fico assim quando tenho que falar com uma ou duas pessoas", diz o ator e humorista de 42 anos. Ele, que prefere falar para os grandes públicos, se vira para o lado e encontra plateia entre os membros da equipe que acompanham a cena. "Quando eu era criança..." E, fazendo caretas que divertem a diminuta audiência, começa a contar do dia em que fingiu ser mudo para uma vendedora de loja.

    Luque trilhou o mesmo caminho de tantos outros artistas: foi fazer teatro para perder a timidez e deixar de "tremer" na frente das garotas. Começou a atuar no colégio e continuou enquanto fazia faculdade de artes plásticas na Faap. Até que, aos 18 anos, largou o curso para virar jogador de futebol. Foi atleta do Santo André e da segunda divisão da Espanha. "Não deu certo. Eu era meio ruinzinho. Acho que não teria sucesso como jogador."

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    De volta a São Paulo, retornou também à arte. Foi trabalhar como palhaço e fez bicos de garçom, animador de festa e monitor de acampamento. Quando passou a morar sozinho, pagava R$ 530 de aluguel em uma casa que montou com móveis de segunda mão, como um guarda-roupa sem fundos que pegou de um tio. "Você abria a porta dele e enxergava a parede."

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    "Eu pegava a roupa de palhaço e ia pro evento dirigindo meu Fiestinha. Vivia fodido, mas era tão feliz. Porque era tudo meu, conquista minha, eu que pagava. Juntava dez cupons da pizzaria que ficava ao lado para ganhar uma pizza na promoção."

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    As experiências aqui e ali foram dando a Luque, fã de humoristas como Chico Anysio, Jô Soares e Tom Cavalcante, inspiração para criar personagens. Com o "Terça Insana", as coisas começaram a melhorar. A estreia aos 33 anos no espetáculo motivou o ator a fazer a primeira das tatuagens que marcam fases importantes da vida dele. Mandou desenhar um dragão sobre a costela direita.

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    A tatuagem fica à mostra quando ele levanta a camisa para colocar um microfone durante a filmagem da comédia, num domingo, no prédio da São Paulo Companhia de Dança, no centro da capital.

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    Na pausa para o almoço, ele brinca com os técnicos. Chama um de Schwarzenegger, o outro de Stallone. Par do ator na história, a atriz Luana Piovani pergunta: "Tá fazendo fisio?". Luque está usando um suporte para imobilizar o braço esquerdo, que ele quebrou em uma queda. Senta à mesa e conta que ainda vai começar as sessões com fisioterapeuta. Canhoto, ele pena para conseguir comer com o talher na mão direita.

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    O comediante ficou conhecido nacionalmente nos oito anos em que fez parte do "CQC", programa que a Band suspendeu em 2015. E alcançou outro nível de fama ao ir para a Globo, em abril. Com as aparições semanais no "Altas Horas", diz que mais gente o para na rua. "Quando o 'CQC' acabou, no mesmo dia ele me ligou: 'Luqueee. Fa-la, ga-ro-to'", relembra, imitando a voz e o jeito do apresentador Serginho Groisman. O humorista entra no palco da atração com o texto de seus personagens, mas tem que se virar mesmo é no improviso.

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    Em maio, uma participação dele no programa viralizou na internet. Caracterizado como o hippie Mustafary, um de seus tipos, o humorista gravava na praia um vídeo quando encontrou um cachorro. Os dois começam a interagir ("esse serumaninho", diz Luque na gravação, fazendo sotaque baiano), até que o vira-lata tenta mordê-lo e ele foge correndo. "Socorro! Sai daqui, seu demônio!", grita.

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    "Não tinha sido nada planejado. Foi parar no exterior como se fosse de 'um hippie brasileiro'. Acharam que ele é de verdade." Com a gravação, a página do comediante no Facebook saltou de 3 para 5 milhões de seguidores. Ela também ajudou a impulsionar seu canal no YouTube, onde aparece com outros personagens, como o motoboy paulistano Jackson Five.

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    Luque diz que nunca trabalhou tanto quanto agora. Lançou duas animações em que fez dublagem e ainda vai entrar na série "Vai Que Cola", do Multishow, sem parar com os espetáculos pelo país. Casado, nas folgas gosta de ficar em casa com a mulher, a jornalista Flavia Vitorino, 33, e as filhas, Isadora, 5, e Mel, 3. "Sou o primeiro a entrar nas bagunças. Pego meus bonecos, chego lá no meio das Barbies. Mas tem hora que falo sério. Elas não podem ver TV durante as refeições, por exemplo."

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    Foi para eternizar na pele o nascimento das meninas que ele tatuou no braço esquerdo uma pena de nanquim. "Agora que entrei na Globo tenho que fazer outra, né?", cogita, para em seguida ponderar: como quer fazer filmes, deveria evitar novas tatuagens, "difíceis de esconder" quando o papel exige.

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    Em "O Homem Perfeito", interpretando um cartunista, os desenhos foram incorporados ao visual. Assim como os cachinhos, ajeitados por um cabeleireiro enquanto Luque bate o texto da cena seguinte com a atriz Juliana Paiva. Para trocar de roupa, ele entra numa espécie de provador feito com uma cortina laranja (que Piovani apelidou nos bastidores de "cenourão").

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    Brincalhão, se contorce quando a maquiadora lança spray no rosto dele. "Parece até que tô jogando um ácido!", ela diz, rindo. De pé, ele canta um rock empunhando uma guitarra imaginária. Para atuar no longa, em seu primeiro papel de destaque no cinema, fez curso com o preparador de elenco Sergio Penna.

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    Na hora do "ação!", Juliana cai na gargalhada ao rodar com ele uma cena séria, de discussão. O ator diz que não entende por que às vezes "as pessoas não acreditam muito" no que ele fala.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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