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Friday, 08-Nov-2024 07:30:45 -03Mônica Bergamo
Produtor de Bowie e Gaga vê racismo em premiações musicais e diz temer Trump
05/03/2017 02h00
O americano Nile Rodgers foi um dos nomes mais importantes da música disco nos anos 1970 e 1980, mas ficou mais conhecido por seu trabalho fora do palco, produzindo álbuns de lendas do pop e do rock como David Bowie e Madonna. Mais recentemente, tocou com Lady Gaga e ganhou um Grammy pelo hit "Get Lucky", que compôs com a dupla francesa Daft Punk.
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Rodgers interrompe a gravação de seu novo disco para falar por telefone com o repórter Bruno Fávero sobre sua carreira, Donald Trump e o racismo na indústria musical. Neste ano, ele será uma das atrações do palco Sunset do Rock in Rio, onde toca com sua banda Chic no dia 17 de setembro.
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A entrevista à coluna foi concedida poucos dias depois de a cantora britânica Adele levar o Grammy de melhor disco do ano por "25", superando o aclamado "Lemonade", de Beyoncé, e suscitando debates sobre um suposto viés racista das premiações.
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"A indústria musical é tão racista quanto os Estados Unidos são, é um reflexo do país", afirma Rodgers. "Eu sou um multimilionário e, quando dirijo na rua e vejo um policial, fico preocupado. É parte do nosso sistema, viemos aqui como escravos, não em navios românticos."
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Ele próprio já esteve no centro de uma discussão sobre racismo na música. Isso porque nunca havia sido nomeado para o Hall da Fama do Rock'n Roll, apesar de ter produzido discos icônicos e feito muito sucesso com a Chic, que tem hits como "Good Times" e "Le Freak". Em dezembro, Rodgers entrou na lista, mas sua banda teve o nome recusado –pela 11ª vez.
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Sem disfarçar a decepção pelas rejeições, ele acredita que o resultado foi, sim, influenciado por preconceito contra a música disco e, em parte, pela questão racial. "Acho que nessas organizações [como o Grammy e o Hall da Fama] as pessoas se baseiam na própria visão de mundo. E, na maioria das vezes, as pessoas que votam veem o mundo de uma perspectiva branca."
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Rodgers também critica o governo Trump, do qual diz "ter medo", e afirma "nunca ter visto o país do jeito que está". Fundador do projeto We Are Family, que organiza palestras nos EUA com "jovens líderes" de todo o mundo, ele conta que cinco de seus convidados não conseguiram vistos para ir ao país por conta das restrições à imigração impostas pelo novo presidente.
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Apesar da oposição a Trump, Rodgers e outros artistas enviaram uma carta ao novo presidente logo após as eleições, dando parabéns a ele pelo resultado e pedindo uma reforma nas leis americanas de direitos autorais. Ele reage com aparente irritação quando o episódio é mencionado, mas justifica: "Se você vai ter uma luta, precisa começar sabendo contra quem vai lutar".
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Dos tantos nomes com quem já trabalhou, diz que tocar com Bowie "foi um dos momentos mais divertidos" da sua vida e "olhando para trás, também o mais histórico". Entre outros trabalhos, Rodgers produziu o disco "Let's Dance" (1983), até hoje um dos mais vendidos do britânico.
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No ano seguinte, fez "Like a Virgin" com Madonna, primeiro trabalho da artista a atingir o topo das paradas. Conta que após duas semanas trabalhando com a cantora, percebeu que um dia ela seria "a maior estrela do mundo".
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"Ela era determinada, trabalhava muito. Só as pessoas que trabalham como ela atingem esse nível. Pessoas como Madonna e Lady Gaga, que fazem tudo para ser 'performers'. Basta ver o Super Bowl deste ano, por exemplo [em que Lady Gaga se apresentou]: é uma apresentação de dez minutos, mas que envolve um nível de preparação inimaginável."
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Apesar de falar com animação sobre parcerias passadas, a conversa sempre volta para os trabalhos recentes. O atual é com o cantor pop Adam Lambert. "Vários projetos começam assim do nada. Estou tocando em casa ou no estúdio e um amigo me liga querendo fazer algo. Foi assim com Bowie, com o Daft Punk e agora com Lambert. Minha vida é bem ok", diz.
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Fã de música brasileira, Nile conta que "cresceu ouvindo Tom Jobim", bossa nova e samba. Também tocou com "vários artistas" daqui, entre eles Caetano Veloso. A experiência de que mais gostou, porém, foi um show com o Jota Quest no ano passado no Brazilian Day de Nova York. "Foi meu trabalho mais recente [com brasileiros] e nos divertimos muito", diz. "Havia tipo um milhão de pessoas na plateia. Foi inacreditável".
Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.
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