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    Mônica Bergamo

    Condephaat autoriza torres de Silvio Santos em terreno vizinho ao Teatro Oficina

    JOÃO CARNEIRO
    GUSTAVO FIORATTI
    DE SÃO PAULO

    23/10/2017 13h57 - Atualizado às 19h47

    O Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio, reverteu na manhã desta segunda (23) uma decisão de 2016 que proibia a construção de torres da Sisan, braço imobiliário do grupo Silvio Santos, em um terreno vizinho ao Teatro Oficina, no bairro do Bexiga, em São Paulo.

    A construção precisa passar por aprovação do órgão porque o terreno se encontra na área envoltória do edifício tombado do grupo, que tem projeto de Lina Bo Bardi.

    Uma característica do teatro é uma grande janela em uma de suas laterais, que permite ao espectador ver a paisagem da cidade inclusive durante as sessões teatrais.

    O projeto conjuga três torres, e duas delas tampariam essa vista. Por causa do volume e da altura dos prédios, o diretor do Oficina, José Celso Martinez Corrêa, trava longo embate com o Grupo Silvio Santos e a construtora.

    Para ser construído, o empreendimento ainda deve passar por aprovação do Conpresp e do Iphan, órgãos de patrimônio municipal e federal, respectivamente.

    BEXIGA

    Segundo a assessoria do Iphan, o órgão analisou três projetos da Sisan para o terreno, e um deles foi "dispensado de análise, pois a área de proteção da vizinhança do Teatro Oficina, tal como definida pelo Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização, não alcança o imóvel do projeto em questão".

    A hipótese para a liberação de análise de um deles, diz a arquiteta Carila Matzenbacher, que representa o grupo de Zé Celso nos processos, é de que se trata de apenas uma das torres, e não do conjunto. Essa torre não interfere na vista da janela do Oficina, diz, mas na iluminação da sala quando seu teto retrátil é aberto. A arquiteta também fala do impacto do projeto no trânsito da região.

    O Teatro Oficina afirma que as construções "encaixotariam" seu edifício.

    Outro argumento do grupo é de que o empreendimento dificultaria a "contracenação" do teatro com o entorno, o que, segundo eles, é importante para sua dramaturgia.

    O voto do conselheiro relator, Fábio André Uema Oliveira, considerou que as construções não prejudicam as atividades do Teatro Oficina e que a "contracenação" mencionada pelo grupo não justifica que se mantenha um terreno vazio.

    O recurso da Sisan foi aprovado com o mínimo necessário de 15 votos, ou dois terços dos conselheiros presentes. Sete deles foram contra. "Desta maneira, o Grupo pode dar prosseguimento ao processo de obtenção do alvará para realização da obra", informa assessoria do órgão.

    O diretor do Oficina e o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) estavam presentes à sessão e se manifestaram contra a construção das torres.

    Suplicy

    Zé Celso afirma que a decisão é um "conluio" e que provocará o "genocídio" do bairro do Bexiga, onde o prédio está situado.

    "Vamos recorrer [da decisão] ao Ministério Público, vamos tomar todas as medidas necessárias."

    Outros bens tombados, como o Teatro Brasileiro de Comédia e a Casa da Dona Yayá, também são vizinhos do empreendimento.

    PROPOSTA

    A proposta do Teatro Oficina é que o terreno passe a ser público por meio de uma desapropriação ou da troca de imóveis e que se implante um parque com um teatro ao ar livre no local.

    Em agosto, Zé Celso, Suplicy, Silvio Santos e o prefeito João Doria chegaram a se reunir para negociar uma solução, mas não houve acordo.

    Após a reunião, Zé Celso acusou Silvio Santos de ter oferecido uma "propina" de R$ 5 milhões para que ele desistisse da disputa. À época, a assessoria de Silvio Santos disse que ele não se manifestaria sobre a acusação.

    Cerca de 30 apoiadores do Oficina, incluindo atores do grupo, também estavam presentes à sessão de segunda.

    Houve confusão ao final da votação porque alguns gritaram que o cálculo do número de votos necessários para a reversão da decisão estava errado –mais tarde, percebeu-se que ele estava correto. Ouviram-se gritos de "fascistas" enquanto os conselheiros deixavam o auditório.

    No dia 13/11, integrantes do Oficina e da Sisan, além de Suplicy e Doria, devem se reunir em almoço na prefeitura para debater o caso.

    Procurada, a Sisan não quis se manifestar.

    Colaboraram ISABELLA MENON E MARIA LUÍSA BARSANELLI, de São Paulo

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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