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    Mônica Bergamo

    Dilma apresentou reformas e chocou, diz ex-presidente Lula

    20/12/2017 22h20

    O ex-presidente Lula diz que viu algo "muito estranho no semblante" de Dilma Rousseff no dia ela ganhou a campanha pela reeleição em 2014. "Eu saí de lá [de Brasília] com a ideia de que alguma coisa estava deixando a minha querida companheira Dilma desconfortável", afirmou ele na conversa que teve com jornalistas nesta quarta (20) no Instituto Lula.

    Ele afirma que tentou ajudar a presidente na transição do primeiro para o segundo mandato dela, mas que Dilma "teve o tempo dela". E que a petista, com sua proposta de reformas, "chocou" a parcela da sociedade mais à esquerda que aderiu à campanha no segundo turno temendo a volta "da direita" ao poder. "Os adversários nos chamavam de estelionatários e o nosso pessoal, de traidor", afirma.

    Leia trechos da conversa:

    CAMPANHA DE 2014
    Nós vivemos uma coisa muito atípica na eleição de 2014. Vínhamos de um mundo muito diferente, posterior às manifestações de 2013.
    Primeiro tratamos [os protestos] como uma preocupação da imprensa com a violência da polícia sobre meninos que estavam lutando pelo passe livre.

    Depois achamos que era o povo querendo mais.

    Hoje eu tenho muita desconfiança do que foi 2013. Eu acho que ali começou o processo de desmonte do nosso governo, da ideia de afastar o PT e a Dilma do governo.

    A campanha de 2014 foi uma campanha com uma dosagem de ódio que não estávamos acostumados a ver no Brasil. O Aécio [Neves] está colhendo o que plantou. Ele plantou vento e está colhendo tempestade. Esse clima de ódio, de denuncismo, surgiu no processo da campanha.

    DILMA
    Eu não vou dizer porque um dia ela [Dilma Rousseff] que tem que dizer. Mas eu tentei ajudar a discutir o futuro governo em 2014, mostrando o clima [do país].

    Eu fui [a Brasília encontrar a então presidente] no dia da apuração [da reeleição], quando veio o resultado final.

    Tinha algo estranho no semblante da Dilma. Eu saí de lá com a ideia de que alguma coisa estava deixando a minha querida companheira Dilma desconfortável.

    Não sei se o resultado apertado [da eleição], o clima de raiva, se os ataques pessoais. Mas algo estava errado.

    Eu disse a ela que ainda em novembro era importante que ela montasse o governo, que não esperasse dezembro. Porque, do jeito que estava o andar da carruagem, se a gente esperasse a gente poderia ter um governo nascendo velho.

    Bom, mas ela teve o tempo dela. Eu lembro que, na época, a gente discutiu alguns nomes [para integrar a equipe de governo] e não foi possível ela colocar. Era ela a presidente da República.

    E, sinceramente, houve um momento muito delicado quando a Dilma apresentou a reforma. Foi um choque para aquela parte da sociedade que entrou [na campanha de Dilma] por último, mais à esquerda, mais jovem, que não queria a volta da direita. Esse pessoal tomou um choque.

    Causou dissabores no PT, no movimento sindical. E você leva tempo para recompor a crença das pessoas. Os adversários chamavam a gente de estelionatário e o nosso pessoal, de traidor.

    Eu tenho uma dosagem de pragmatismo muito grande em política. Você não pode colocar em prática a teoria sem testá-la na prática. Se comete um erro, não tem tempo de recuperar.

    Leia mais trechos da conversa aqui.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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