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    Nabil Bonduki

    Doria adota métodos antiquados de gestão

    16/05/2017 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Sao Paulo, SP, BRASIL, 08-04-2017: Entrevista exclusiva para a FOLHA com o Prefeito de Sao Paulo, Joao Doria -PSDB, na sede da Prefeitura. Com popularidade em alta, Doria completa 100 dias de gestao no cargo de Prefeito (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, COTIDIANO).
    O prefeito de SP, João Doria (PSDB), em seu gabinete

    Recentemente, Doria foi convidado a abrir o seminário Cidades do Futuro, promovido por uma rádio paulistana. Esperava-se que ele apontasse os desafios que as grandes cidades devem enfrentar no século 21 (mudanças climáticas, desigualdade, novos modos de vida, violência, mobilidade) e a estratégia proposta para São Paulo.

    Para surpresa do público, o prefeito proferiu mais um discurso ideológico e raivoso, no tom da polarização simplificadora que domina o debate, defendendo o golpe parlamentar de 2016 e o governo Temer. Em 12 minutos, nada falou sobre o futuro das cidades.

    Muito ruim para um político que diz não ser político. Pior ainda para uma cidade que requer um prefeito que administre o presente com os olhos voltados para o futuro, implementando mudanças estruturais no seu modelo urbano, como propõe o Plano Diretor Estratégico.

    O prefeito busca forjar uma imagem de gestor moderno. Com marketing eficiente, tem obtido bons resultados, mas sua gestão não resiste a uma avaliação qualificada. Nada tem de moderna; é antiquada nos métodos e tímida nos objetivos.

    É autoritária e vertical, desprezando os métodos participativos e colaborativos, contemporâneos. Não trabalha em equipe, impondo aos secretários iniciativas equivocadas e superadas, que contrariam a experiência acumulada de políticas públicas.

    Exemplos não faltam. O Conselho de Política Urbana não se reuniu neste ano. Secretários são cobrados por resultados impossíveis de serem alcançados, como mostrou a demissão de Soninha. Outros não são respaldados, caso do secretário de Educação. A relação com o Legislativo é a de sempre.

    Afirmando priorizar a educação, fecha salas de leitura, de informática e de brinquedos, quando é consenso entre os educadores que a formação infantil requer atividades lúdicas combinadas com educação formal.

    Acelerando, reforça a superada cultura do automóvel, ameaça desativar ruas abertas e ciclovias e aumenta a velocidade, os acidentes e as mortes nas marginais. A solução é recolher as vítimas, com mais rapidez, aos hospitais ou aos cemitérios...

    Doria prometeu trazer a eficiência do setor privado para a gestão pública, mas isso está longe de acontecer, como no caso do Programa de Metas. Reduziu as metas a níveis tão insignificantes que será fácil alcançá-las, preservando sua imagem, mesmo sem trazer benefício algum para a população. A proposta é tão tímida e mal formulada que o gestor de uma empresa que propusesse resultados tão inexpressivos seria trocado pelos acionistas.

    Se os políticos tradicionais estão desgastados, mais arriscado é investir em fraudes midiáticas. Em tempo, Alckmin, que fechou o seminário, falou com mais pertinência sobre o futuro das cidades.

    nabil bonduki

    Arquiteto e urbanista, é professor da FAU-USP. Em São Paulo, foi vereador, relator do Plano Diretor Estratégico e secretário municipal de Cultura. É autor de 12 livros.
    Escreve às terças-feiras.

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