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    Nabil Bonduki

    Por que novos, como Huck, não se candidatam ao Legislativo?

    05/12/2017 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-10-2017, 12h30: O apresentador Luciano Huck, durante palestra no Festival de Cultura Empreendedora, em Sao Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***
    O apresentador Luciano Huck

    É consensual que uma das reformas mais necessárias é a política. Mas, na prática, ela não avança, pois requer aprovação pelo Congresso, que não legisla contra seus membros, eleitos pelas atuais regras.

    A tese de que o presidente se torna um quase refém do Legislativo também é recorrente. A fragmentação partidária e o sistema eleitoral têm feito com que a bancada do seu partido seja sempre minoritária.

    O PSDB, de FHC, elegeu 12% dos deputados em 1994 e 19% em 1999. O PT, de Lula e Dilma, elegeu respectivamente 18%, 16%, 17% e 14% nas eleições que venceu. Obter uma maioria no Congresso foi essencial para implementarem, minimamente, seus programas.

    Construir essa maioria virou um show de horrores. Na conta, entram órgãos públicos, leis ou decretos que favorecem grupos econômicos ou corporações, a nomeação de pessoas sem qualificação, emendas sem sentido. E, às vezes, os conhecidos mensalinhos e mensalões, presentes em inúmeras casas legislativas.

    A armadilha foi uma das causas dos reveses dos governos petistas, que cederam postos chaves, comprometendo seus programas, e foram contaminados por tumores, como o fisiologismo e a corrupção.

    Beneficiários dessa política de governabilidade, o centrão e o PMDB, representantes das elites regionais, fortaleceram suas bases e elegeram grandes bancadas, reproduzindo o mesmo nas legislaturas seguintes. Com Temer, o esquema se fortaleceu e, em 2018, a divisão do fundo eleitoral e do tempo de TV sinalizam para a reprodução do mesmo perfil.

    Romper esse círculo vicioso é indispensável para enfrentar o descrédito com a política e implantar mudanças estruturais. Mas isso não vai ocorrer sem uma forte mobilização social, combinada com uma alteração profunda do Congresso.

    Grupos novos, dispostos a atuar na política, têm surgido, seja no campo progressista, seja no pensamento liberal, como a Bancada Ativista, o Vamos, o Nós, o Agora! e o Acredito. É positivo, mas insuficiente. Mesmo se alguns "novos" se elegerem, o quadro geral não vai se alterar.

    A conjuntura requer a mobilização de lideranças com forte expressão popular —de diferentes tendências— para puxar bancadas expressivas e romper esse círculo vicioso.

    Por que figuras como Luciano Huck, virgens em eleições, não se dispõem a assumir candidaturas ao Legislativo, onde poderiam "trabalhar por soluções coletivas inteligentes e inovadoras para o país, e não focar o próprio umbigo", como afirmou o apresentador na Folha?

    Sair da "zona de conforto", da indignação, para assumir um mandato no Legislativo é difícil e trabalhoso. Mas, neste momento, é uma tarefa tão importante quanto a Presidência, além de ser uma experiência essencial para quem quer alçar voos mais altos.

    nabil bonduki

    Arquiteto e urbanista, é professor da FAU-USP. Em São Paulo, foi vereador, relator do Plano Diretor Estratégico e secretário municipal de Cultura. É autor de 12 livros.
    Escreve às terças-feiras.

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