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    Natuza Nery

    A conta

    13/05/2014 17h20

    O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, aproveitou uma reunião com empresários ontem para, mais uma vez, dizer que não incentivará a redução do consumo de energia. A frase, porém, veio acompanhada de uma revelação esquisitíssima, para dizer o mínimo.

    "Eu aplaudirei o cidadão que economizar por conta própria. Eu faço a minha economia. Porém, não iremos propor isso até que o comitê ache necessário."

    Se o comandante do setor público de energia não deixa a luz do quarto acesa quando está na sala, e acha isso importante, é porque sabe que a oferta não está bombando. E, se acha isso, por que raios não diz para a população que o ideal é economizar?

    A resposta, com uma declaração dessas, chega a saltar da ponta da língua: o governo não quer mexer nesse vespeiro no ano da eleição. Não quer que o brasileiro confunda racionalização do consumo com racionamento e desperte no eleitor a memória negativa de 2001.

    Uma campanha assim, que o próprio ministro chegou a admitir e depois recuou, ajudaria a dar uma folga para os reservatórios das hidrelétricas e a diminuir a necessidade de acessar a energia térmica, mais cara para o bolso do governo e do consumidor.

    E um programa governamental de consumo consciente poderia ter vindo antes do tanque esvaziar. E isso serve para energia e para água também, viu, governador Geraldo Alckmin.

    Com São Paulo, aliás, a situação há muito passou do caráter preventivo e aconselhável. Há áreas inteiras com interrupção de fornecimento de água. No fim de semana, as torneiras secaram na sexta e só voltaram a gotejar no domingo de manhã. Ocorreu no bairro da Lapa; não deve ter sido o único.

    Enquanto uns, no caso da energia, têm horror a admitir ações de conscientização, outros negam a própria crise no abastecimento da água. É a eleição arrancando a língua dos governantes, metendo-lhes medo brutal de a falta d'água secar o voto ou de o uso racional da energia apagar a urna.

    O ministro Lobão, a propósito, foi sincero quando prometeu "aplaudir o cidadão que economizar por conta própria". Com uma verdade incômoda assim, fica implícito que quem está "por conta própria" é o próprio eleitor.

    natuza nery

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi editora do Painel.

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