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    Natuza Nery

    Do PT para o povo

    20/05/2014 16h42

    Claro que tem muito chão pela frente. Mas, dos três programas partidários exibidos por PSB, PSDB e PT, foi o polêmico programa petista, iniciado pelo comercial quase almodovariano "Fantasmas do Passado", a peça publicitária que realmente falou para o povo.

    Nela, um dramalhão para ninguém botar defeito. Pessoas se vendo pelo retrovisor, tristes, roupas puídas, sapato furado. Uma lágrima rola no rosto de uma criança limpa, cabelos arrumados, sorvete na mão. Ela se vê anos atrás suja, faminta, olhar perdido.

    As cenas são apelativas.

    O curioso é que esse tipo de terrorismo político é geralmente usado por campanhas ao redor do mundo como último último recurso para vencer ou virar uma eleição difícil. Aqui, porém, é usada a cinco meses do "torneio" nacional. Eis a explicação: era preciso criar um anteparo que segurasse a queda da presidente da República nas pesquisas. Depois, marcar território e posicionar Dilma Rousseff como segurança dos pobres, um eleitorado hoje menos cativo. De tão sinistro, houve muita gente grande no PT reclamando da inflexão no marketing petista. A esperança de Lula deu lugar ao medo de Dilma.

    Mas uma coisa é inegável: o alvo, ali, é o povão. E isso nem PSB nem PSDB fizeram com clareza.

    Aécio Neves abre sua peça televisiva com o seguinte convite: "Vamos conversar?". Só que o tucano conversa com uma pessoa oculta e pouco fala de temas caros à maior fatia do eleitorado. Inflação é tratada de forma quase genérica. Parece um programa focado na classe média, fatia tradicionalmente mais simpático ao tucanato.

    Fala de gestão, de um jeito novo de fazer as coisas e de uma "nova visão de Estado".

    O programa do PSB, considerado por Eduardo Campos como oportunidade de se apresentar ao Brasil ao lado da já conhecida Marina Silva, optou por um modelo alternativo e de alvo também confuso. Parecia falar para os jovens, para o eleitorado urbano, mas nem isso ficou totalmente claro.

    Nele, Campos e Marina conversam entre si em um cenário em preto e branco. Imagem elegante, mas discurso desconexo. Os cortes das falas são bruscos e, em ao menos um caso, um fala alho e outro, bugalho.
    Ali, a grande massa soube que Marina deseja uma "agenda estratégica para o Brasil" independente de governos; que Campos "sonha com um Brasil democrático".

    E num golpe para atrair não se sabe quem, o programa se aproxima do final com a seguinte frase: queremos "unir boas pessoas em torno de boas ideias para fazer coisas boas".

    O horário gratuito começa logo logo. É prudente falar a língua que a maioria entende. O eleitor agradece.

    natuza nery

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi editora do Painel.

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