Fico me perguntando se o "tsunami da mudança", termo proferido por Aécio Neves na convenção do partido que o transformou em candidato presidencial, é capaz de trazer para seu lado número mínimo de eleitores para ganhar a disputa nacional.

A narrativa, aliás, não parece forte o suficiente para neutralizar o discurso do medo puxado pelo PT para evitar uma diáspora de eleitores de renda mais baixa, mais sensíveis à ideia de perder o que já conquistaram.

Dito isso, o último ato do PSDB focou no mais do mesmo, não no essencial para derrotar o adversário. Com algum exagero, foi quase uma pregação para convertido.

Em suas palavras, o tucano afirmou que um "tsunami" vai "varrer" do Palácio do Planalto aqueles que "não são dignos". "A cada dia que passa, por cada Estado e região pelos quais ando, eu percebo que não há apenas uma brisa, mas uma ventania por mudança, um tsunami que vai varrer do governo federal aqueles que lá não têm se mostrado dignos e capazes de atender às demandas da população brasileira."

Trata-se de declaração dura, mas para um público limitado. Parte da classe média até se sensibiliza com essa virulência toda.

O tom merece, ainda, mais um reparo. Quando um político afirma que está ali para varrer um partido do poder, soa como se sua candidatura fosse motivada apenas por isso, não necessariamente para fazer o bem à população, aos que mais precisam. Varrer alguém de algum lugar não pode parecer um objetivo em si mesmo.

Fora que é quase irritante esse hábito de petistas e tucanos de não reconhecerem o que de positivo o outro fez.

Assim como não cola (ressalte-se que não colou nas eleições presidenciais de 2006 e 2010) a ideia de que é o PSDB, não o PT, o pai dos primeiros programas de transferência de renda.

Isso não neutraliza, nem de longe, o discurso do medo ensaiado no programa partidário criado pelo marqueteiro de Dilma, João Santana.