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    Natuza Nery

    Um foguete chamado Marina

    26/08/2014 14h53

    Quem olha as pesquisas internas dos partidos, os chamados "trackings", normalmente solta um palavrão, tamanha é a surpresa com o rápido crescimento de Marina Silva nas sondagens.

    Para manter o nível desta coluna, melhor descrever como "susto" a reação dos generais das campanhas ao ver a escalada da nova candidata.

    Mais do que a disparada, Marina Silva reorganiza a identidade da campanha. As pesquisas qualitativas sinalizam isso: Marina tem cara de povo, quase um Lula de saias; Aécio é, por vezes, associado a "doutor". Dilma, em diversas referências, é descrita como uma "patroa brava".

    É nas chamadas salas de espelho (aquele formato no qual um grupo de eleitores analisa o perfil dos candidatos com uma equipe a monitorá-los secretamente por detrás do vidro) que essas percepções são flagradas.

    O método não tem valor científico, mas costuma mostrar tendência e capturar sentimentos difusos. Tanto é assim que até mesmo os programas do horário eleitoral gratuito passam pelo crivo desses grupos.

    O slogan "deixa o homem trabalhar", usado em 2006 para reeleger Lula, foi criado após uma sala de espelho.

    Nas qualitativas, quase não há resistências à imagem de Marina. Tudo o que ela fala, mesmo que não diga religiosamente nada, soa bonito e honesto. Um desafio para PT e PSDB.

    Desconstruir esse personagem será a obsessão dos adversários. Mas se um deixar para o outro o trabalho sujo de atacar a concorrente da terceira via, o foguete chamado Marina corre o risco de romper a estratosfera.

    Tudo indica, porém, que que ela não desfilará, solene e protegida, pela passarela da eleição. Haverá petardos e muitas caneladas.

    E é bom um alerta: que a presidenciável não confunda sua popularidade com escudo ao contraditório.

    Marina Silva foi candidata em 2010, mas seu estilo de vida, suas ideias e suas relações ainda precisam ser escrutinados. Há quatro anos, a ex-senadora não era alvo dos demais. Agora, está no jogo.

    Os números mostram que ela veio para competir como gente grande.

    natuza nery

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi editora do Painel.

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