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    Natuza Nery

    'The Walking Dead'

    11/11/2014 15h37

    Depois de cobrir este primeiro mandato do começo ao fim, admito que a imagem de Dilma dando posse a Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda é quase exótica.

    Até os escaninhos do Palácio do Planalto sabem que a presidente nunca topou o ex-tucano. A birra, que ninguém nunca soube a origem ao certo, vem desde os tempos de Banco Central. Talvez os dois tenham se estranhado aqui e ali nos tempos de Lula; talvez a petista tenha visto algo do qual nunca se esqueceu.

    O certo é que Meirelles, definitivamente, não é nem nunca será sua escolha. Dilma pode até engolir o ministro a pedido do padrinho, mas não vai facilitar a vida dele dentro do governo.

    E é justamente aí onde mora o perigo. No momento em que Dilma aceitar Henrique Meirelles como chefe da equipe econômica, ela simbolicamente abdica de seu segundo mandato antes mesmo de ele começar. Para o bem ou para o mal, será Lula, e não Dilma, o senhor do governo. E o ministro deverá lealdade a, no melhor dos mundos, a dois deuses.

    Lula acha que Meirelles, ou qualquer representante do mercado financeiro com algum estofo, é a saída encontrada em 2002, quando escolheu Antonio Palocci para acalmar o sistema financeiro, à época em chamas com a eleição do petista.

    Quem convive com Dilma há muito tempo espera uma surpresa à lá Gleisi Hoffmann. Naquele momento, nem Lula soube que, a despeito de indicações e especulações, a senadora de primeira viagem pelo Paraná se tornaria a chefe da Casa Civil por escolha pessoal de Dilma.

    Com decisão dentro ou fora da caixinha, não importa, o fato é que a presidente demonstra (demonstrou em conversa com jornalistas na semana passada, por exemplo) que não tem senso de urgência.

    O problema é que, enquanto a presidente não decide, o trivial fica travado. Os demais ministérios dependem da definição da equipe econômica.

    Tem investidor, por exemplo, querendo colocar dinheiro no Brasil, mas espera sinalizações para decidir o que fazer. Com a demora, o país perde potenciais milhões. E, enquanto nada é decidido, o ministro Guido Mantega toda semana concede uma entrevista dizendo, nas entrelinhas, o que seu sucessor tem de fazer. É o "The Walking Dead" ministerial.

    Assim como a água e a energia, o tempo também se tornou um produto escasso. Alguém pode dar este recado à presidente?

    natuza nery

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi editora do Painel.

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