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    Natuza Nery

    Para não agir com estômago, Cunha erra ao radicalizar

    17/07/2015 14h07

    O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em uma tacada só, decidiu partir para cima do juiz Sergio Moro, do governo federal, do procurador-geral da República e da Polícia Federal. Tática arriscada para quem é alvo de apuração.

    Se a estratégia era desviar o foco do seu próprio desgaste, Cunha pode ter exagerado na dose.

    Ele é acusado pelo doleiro Alberto Youssef de usar emissários e a CPI da Petrobras para constranger testemunhas, incluindo filhos e ex-mulher.

    Caso a alegação seja comprovada, o Ministério Público pode entender ter havido tentativa de obstruir a investigação e, diante disso, complicar a vida de Cunha junto ao Supremo Tribunal Federal.

    O presidente da Câmara disse à coluna que investigar se familiares se beneficiaram de eventuais repasses de um investigado para ocultar dinheiro é dever, sim, da CPI, não coação.

    Na política, Cunha ameaça convocar ministros de Dilma, contestar juízes e procuradores. Mostra inequívoca força sustentada pelo cargo que ocupa. Mas ela não é infinita.

    Como presidente da Câmara, controla as CPIs, comissões temáticas da Casa e decisões sobre todas as votações em curso.

    Pode muito. Entretanto, não pode tudo.

    Se errar na mão, corre o risco de perder parte do exército de mais de 150 deputados que o acompanha até agora com alto grau de fidelidade.

    Na coletiva de 50 minutos que concedeu a jornalistas na manhã desta sexta-feira (17), o deputado perdeu sua habitual frieza. Literalmente espumava diante da imprensa.

    Enquanto esbravejava contra o Palácio do Planalto, chamando seus residentes de "aloprados", a cúpula do governo se calava de forma surpreendente.

    Nem mesmo a acusação de instrumentalizar as investigações com o suposto intuito de persegui-lo foi respondida por Dilma Rousseff ou por seus funcionários.

    Coube ao vice Michel Temer divulgar uma nota para esclarecer que o rompimento com o PT era uma decisão pessoal do correligionário, não partidária.

    Todo mundo sabe que Cunha já não era aliado há muito tempo. Hoje apenas declarou sua posição real.

    Resta saber por quanto tempo o principal personagem político do Congresso hoje conseguirá seguir lutando contra tantos inimigos ao mesmo tempo.

    natuza nery

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi editora do Painel.

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