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    Nelson Barbosa

    'Quanto pior, melhor' também explica recuperação lenta

    28/12/2017 02h00

    A Folha me informou que Alexandre Schwartsman quer outra rodada do debate iniciado por seus ataques, sempre pessoais, contra mim. Em respeito aos leitores, prefiro deixar o colunista aprender sozinho desta vez. Melhor falar de algo mais relevante.

    O Brasil saiu da recessão neste ano. O crescimento foi concentrado na agropecuária, mas ainda assim deve ser comemorado. As projeções de mercado indicam aceleração em 2018, puxada por indústria e serviços, outra notícia positiva.

    A grande questão sobre a recuperação atual não é sua ocorrência. Depois de uma recessão, sempre vem uma recuperação. O ponto principal é: por que tão devagar?

    Comparada com episódios similares de nossa história, a recuperação em curso tende a ser a mais lenta após três anos seguidos de queda do PIB per capita.

    Um lado do debate público no Brasil atribui a recessão e a lenta recuperação somente aos governos do PT. Segundo essa visão simplista, tudo deu certo a partir de maio de 2016. Não é preciso ser economista para ver o viés político dessa interpretação.

    Uma análise mais isenta ajuda a entender a questão. Sim, houve equívocos de política econômica em 2012-14. Tanto que a presidente Dilma começou seu segundo mandato tentando corrigi-los.

    Por limitação de espaço, destaco dois pontos: adiar o enfrentamento do desequilíbrio orçamentário via operações legais, mas não recorrentes, de antecipação de receita e adiamento de despesa (Temer está indo pelo mesmo caminho) e tentar controlar preços para adiar o aumento da Selic (isso a própria Dilma já corrigiu em 2015).

    A direção da política econômica de 2012-14 foi um dos motivos que me fizeram deixar o governo, em junho de 2013, após encaminhar a criação do fundo de pensões dos servidores (com sucesso) e a reforma do ICMS (sem sucesso). Mas voltemos ao principal.

    Será que os erros de 2012-14 explicam toda a recessão e a lenta recuperação? É claro que não! O momento atual também se deve à estratégia do "quanto, pior melhor" adotada por MDB e PSDB contra o PT.

    Em 2015, houve as pautas bombas. Em 2016, o golpe parlamentar. Nos dois casos, o Brasil ficou paralisado –não se aprovava nem "parabéns para você" no Congresso– enquanto a economia só piorava. Aguardo a autocrítica dos incendiários de ontem, embora saiba que ela nunca virá.

    Depois do golpe parlamentar também houve erros de política econômica que atrasaram a recuperação, quase todos reversíveis.

    O BC demorou a cortar a Selic, mas já está corrigindo isso. A Fazenda ampliou e depois derrubou o gasto discricionário da União, mas depois reconheceu o erro e mudou a meta fiscal.

    No crédito, houve grande contração pelo BNDES, em cima do ajuste já feito por Dilma em 2015. Sem alarde, o governo está procurando corrigir esse erro injetando recursos do FGTS na economia e reduzindo o compulsório dos bancos.

    E houve ainda a inacreditável PEC do teto dos gastos, que adiou a reforma da Previdência e aumentou a incerteza fiscal sobre 2019. Só o próximo governo corrigirá esse erro.

    Feliz 2018!

    nelson barbosa

    Doutor em economia pela New School for Social Research, foi ministro da Fazenda e do Planejamento (governo Dilma). Escreve às sextas, a cada duas semanas.

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