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    Nelson de Sá

    Na linha de frente

    12/03/2013 10h01

    Nos últimos dias, fiz entrevistas com a vice-presidente de Parcerias Estratégicas (com jornais) do Google, Bonita Stewart , e com o presidente do grupo alemão Axel Springer, Mathias Döpfner . Eles estão na linha de frente do conflito entre empresas de tecnologia e mídia.

    Stewart faz hoje, na nova sede do Google na avenida Faria Lima, um encontro com executivos das principais publicações brasileiras. Quer parcerias, mas nada de dividir recursos, como fez na França, ao criar um fundo de 63 milhões de euros para os jornais de lá.

    Döpfner, de sua parte, dá os primeiros passos para transformar uma nova legislação alemã que ainda depende de votação final no parlamento em garantia de respeito ao conteúdo dos jornais, que hoje é explorado pelo Google sem que recebam compensação.

    Mas um terceiro personagem, embora menor, também na linha de frente da disrupção na mídia, precisa ser ouvido hoje. Ontem, como noticiado via Facebook e sites como "Brasil de Fato", toda a redação da "Caros Amigos" foi demitida, após abrir greve contra cortes.

    O diretor-geral, Wagner Nabuco, diz que a editora Caros Amigos está, "como todo mundo, sofrendo dificuldades terríveis na receita publicitária, na receita de banca, na receita de circulação". Os cortes que anunciou seriam, diz, para "fazer sobreviver a revista".

    "Somos uma empresa normal, que vive da receita de bancas, de assinaturas e de publicidade, mas em uma situação de prejuízo que vem se acumulando. E chega um momento em que você não tem mais como se alavancar em dívidas, seja no banco, seja o que for."

    "Você precisa tentar segurar o buraco que vai se abrindo, porque fica inadministrável. Para muita gente de esquerda, esse é o discurso do empresário liberal. É verdade. Só que nós somos uma empresa que está aqui, no mundo capitalista. Não está em outro mundo."

    Segundo Nabuco, em três anos a receita de banca caiu 32%; a de assinaturas se manteve, em valores nominais, mas "se você deflacionar" caiu entre 10% e12%; "e a de publicidade caiu uns 10%". Já os custos com papel e distribuição subiram "acima da inflação".

    O novo número está pronto, "dia 15 está nas bancas, carregando um encarte gratuito sobre o bloqueio dos EUA a Cuba". Quanto à edição de abril, "tenho de fechá-la até 31 de março e vou fechar, com apoio de muitos amigos e jornalistas, que vão continuar colaborando".

    Nabuco diz que a "Caros Amigos" se debate em problemas "como todo mundo" e acaba por opinar, sem precisar ser perguntado, sobre o conflito que se estende ao Google e ao Axel Springer, postando-se ao lado do grupo alemão, de jornais como "Die Welt" e "Bild".

    "Por que o Google não paga conteúdo? Na Alemanha vão ter de pagar. Na França fizeram um acordo. Mas aqui eles sempre tratam como se fosse quintal. O Google é o maior vampiro da internet. Nós produzimos conteúdo e eles é que ganham dinheiro com a publicidade."

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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