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    Nelson de Sá

    "Armas de destruição em massa", dez anos depois

    19/03/2013 16h57

    No dia 8 de setembro de 2002, um domingo, a repórter Judith Miller ecoou na manchete do "New York Times" a versão do governo George W. Bush para a existência de "armas de destruição em massa" no Iraque.

    O alto escalão republicano foi então às mesas-redondas dominicais, na TV americana, ecoar Miller --que eles mesmos haviam alimentado. Não demorou e os EUA invadiram o país, iniciando a guerra que faz aniversário hoje.

    O "NYT" mentiu, num erro que entrou para a história como o maior, dentre os muitos da imprensa, então sob a desculpa do 11 de Setembro --que permitiu também defender tortura etc.

    Miller acabou demitida, mas o risco de erro semelhante só faz crescer, desde então.

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    Em contraste com a repórter do "NYT", Jonathan Landay havia publicado dois dias antes o relato "Falta de evidência de armas no Iraque preocupa autoridades", o exato oposto, nos jornais da rede McClatchy.

    E é Landay quem alerta, agora, para o impacto dos cortes das redações sobre a cobertura, sobretudo diante de um governo Obama que prometia transparência, mas entregou excesso de controle da informação.

    "Estou preocupado porque não há mais tanto bom jornalismo", diz. "E você ainda enfrenta o mesmo jogo de acesso, em que alguém dá informação e você escreve como foi passada, porque quer manter o acesso."

    Landay trata de um risco que se agravou nos últimos anos e que é o destaque do décimo relatório sobre o Estado da Mídia
    nos EUA, do projeto para jornalismo do instituto Pew, divulgado ontem por Amy Mitchell.

    O problema, em suma, é que o escrutínio do que falam/fazem os políticos está em queda.

    Um dado: na corrida eleitoral de 2012, a maioria das "narrativas de personalidade"
    dos candidatos, na mídia, nasceu das próprias campanhas. Uma década atrás, a maioria era resultado de informações levantadas por repórteres.

    Ou seja, nas campanhas e fora delas, atuando para governos e também empresas, hoje as redações de relações públicas e marketing têm mais poder sobre a cobertura.

    Para Mitchell, como para Landay, é efeito dos cortes nas redações de jornais e TVs dos EUA.

    Cortes que são, por sua vez, uma resposta à aceleração da queda na receita publicitária, que já alcança níveis catastróficos por lá.

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    Por aqui, pelo contrário, como divulgou o Projeto Inter-Meios
    , a receita até cresce --o que se explica em parte pelo ritmo diferenciado das economias emergentes, com efeitos positivos sobre o setor na Índia etc.

    Outra explicação, lembrada por mais de uma fonte no setor, é que o mercado publicitário no Brasil é envolto em normas e procedimentos que tornam a chamada "disrupção" mais lenta, quase imperceptível, na superfície.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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