• Colunistas

    Wednesday, 08-May-2024 13:45:59 -03
    Nelson de Sá

    A máquina de imagem

    02/04/2013 03h00

    Por aqui, a presidente Dilma Rousseff atravessou a última semana se explicando pelas declarações que deu na África do Sul sobre o controle da inflação, num quebra-queixo --entrevista improvisada, cercada por microfones.

    Nos EUA, Barack Obama já resolveu o problema, segundo levantamento de universidade americana: em seu primeiro mandato, aceitou só 107 quebra-queixos, contra 354 de George W. Bush em seus primeiros quatro anos.

    Obama priorizou entrevistas (674 contra 217 de Bush), nas quais "o presidente tem mais poder para escolher o momento, os entrevistadores e o formato", visando passar uma "mensagem determinada", diz a Associated Press.

    A maior agência de notícias do país saiu ontem com um ataque aberto ao que chama de "máquina de imagem", que espalha palavras, vídeos e fotos róseas ao mesmo tempo em que fecha a porta de modo inédito à imprensa.

    Para Mike McCurry, que foi secretário de comunicação do ex-presidente Bill Clinton, do mesmo Partido Democrata de Obama, a Casa Branca hoje tem uma inclinação para a "auto publicação", buscando contornar a mídia.

    A foto de Obama abraçado à mulher, no dia da eleição, se tornou assim o post mais popular do Twitter. E o mesmo acontece com o YouTube, denuncia a AP, lembrando uma piada do próprio Obama sobre controlar vídeos.

    O pano de fundo para a revolta das agências de notícias é o relatório Pew que apontou a vitória do marketing democrata e republicano sobre a cobertura jornalística, pela primeira vez, nas narrativas eleitorais de 2012.

    *

    Uma sequência de reportagens no final de semana mostra que a revolta já chegou aqui, com a revelação dos bilhões gastos com propaganda em São Paulo ou com a definição de João Santana como o roteirista de Brasília.

    Nos EUA, Obama faz até piada com seu crescente domínio da narrativa. Mas aqui os marqueteiros insistem, entra e sai eleição, em declarar que não é propaganda nem marketing, que não querem conduzir ninguém, só informar.

    Era assim com Luiz Gonzalez e é assim com Renato Pereira, que tomou seu lugar no PSDB. "Não sou vendedor de ilusões, não sou marqueteiro", declarou o marqueteiro a Natuza Nery. Ele dirige campanhas há 15 anos.

    Lá como cá, o que mudou, diz um pesquisador do Pew à AP, foram as ferramentas de comunicação, que permitem distribuir conteúdo próprio mais amplamente e com mais eficiência do que acontecia até Bush ou Clinton.

    Daí por que Pereira, como Santana antes dele, busca a assessoria dos marqueteiros de Obama. Ele quer aprender a "encurtar a distância", encontrar meios mais diretos. Em suma, ele também quer o controle da narrativa.

    nelson de sá

    toda mídia

    nelson de sá

    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024