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    Nelson de Sá

    O modelo Netflix

    30/04/2013 11h46

    Divulgado na última quinta, o balanço do primeiro trimestre na The New York Times Company , que reúne essencialmente os jornais "NYT", "International Herald Tribune" e "Boston Globe", apresentou várias alternativas de enunciado.

    No próprio "NYT", "Empresa do 'Times' reporta queda no lucro líquido". Caiu de US$ 42 milhões no primeiro trimestre de 2012 para US$ 3 milhões agora. Mas o lucro líquido no ano passado se deveu à venda de 16 jornais regionais e de outros ativos, não ao desempenho operacional. Não era a melhor alternativa, tanto que as ações da NYT Co. saltaram 5% no fim do dia _e os acionistas seriam os maiores interessados num lucro maior.

    No "Wall Street Journal", o enunciado foi positivo, "'Times' mostra crescimento digital". O destaque foi para o lucro operacional do jornal "NYT", que "quase dobrou" para US$ 23 milhões devido a "corte de custos e ligeiro aumento nas assinaturas corporativas digitais". Mas também não era a melhor alternativa, pois o crescimento nas assinaturas digitais foi de 36 mil em três meses _o menor ritmo desde a criação do "paywall", a cobrança on-line.

    Bloomberg e Ken Doctor se saíram melhor, evitando destacar lucros e/ou assinaturas e concentrando a atenção na publicidade. No primeiro título da agência, "receita com publicidade mergulha. Na chamada do analista, em seu site Newsonomics, "perda devastadora de publicidade impressa". A queda na receita com publicidade foi de 11,2% na NYT Co. Com publicidade impressa, chegou a 13,3%, "o grande número" do balanço.

    Por outro lado, o ritmo do crescimento na receita com circulação, basicamente assinaturas, está menor, mas continua positivo e até elevado: 6,5% no primeiro trimestre, contra 8,5% no ano passado todo. Por pouco não foi o bastante para equilibrar a queda "precipitada" na receita com publicidade. Lado a lado, circulação e publicidade "começam a pintar o cenário econômico que o 'NYT' tem pela frente a partir de agora", avalia Doctor.

    O segundo título da Bloomberg, já com a entrevista coletiva do novo presidente executivo da NYT Co., Mark Thompson: "'NYT' se volta para o modelo Netflix conforme publicidade leva tombo". Junto com o balanço, Thompson lançou sua "estratégia de crescimento, que consiste em buscar maior receita junto aos leitores através de pacotes mais baratos de assinatura digital, eventos e exploração da marca do jornal em e-commerce e até games.

    Os eventuais pacotes mais baratos para cobertura setorizada ("política, tecnologia, artes, comida") já provocam mudanças no site. O blog Media Decoder, que concentrava notícias e análises de mídia, foi desativado no dia seguinte ao balanço e seus textos passaram a ser postados na home Media & Advertising. Toda a estrutura de blogs do "NYT" está sob avaliação para, como no caso de mídia, eventual concentração em "destino único".

    Quanto aos eventos, um primeiro deles foi anunciado dias antes. É o "Fórum Global NYT intitulado "O Próximo Novo Mundo" e estrelado pelo colunista de política externa Thomas L. Friedman. No dia 20 de junho, em San Francisco, ele e seus convidados, como Moisés Naím, deverão "explorar a complexa dinâmica da infra-estrutura do novo mundo, especialmente o ambiente eletrônico, digital e de aparelhos móveis". Ingresso: US$ 995.

    É o cenário a partir de agora, para o jornal: buscar mais receita nos leitores. Thompson foi questionado expressamente se estava adotando o modelo Netflix e respondeu que é "uma caracterização correta", embora não pretenda "virar as costas para a publicidade". Para o analista de mídia Kannan Venkateshwar, do Barclays, "Thompson quer um modelo Netflix, o que significa crescer com receitas de conteúdo em oposição a receitas publicitárias".

    Ao fundo, na mesma quinta-feira, Sir Martin Sorrel, presidente executivo do maior grupo de agências de propaganda no mundo, WPP, declarou na Conferência de Mídia Digital do "Financial Times" que os investimentos publicitários em jornais e revistas estão desproporcionais. E Barry Diller, presidente do grupo de mídia IAC, declarou depois à TV Bloomberg que "foi um erro" comprar a "Newsweek", algo que ele gostaria de não ter feito.

    *

    Sobre o Media Decoder, o blog sobrevive, de certo modo, em forma de microblog. O Twitter não foi sequer citado no balanço, mas ganhou destaque de Mark Thompson em outro evento dias antes, quando ele afirmou que, na semana do ataque à maratona de Boston, "mais gente veio para o 'NYT' através de mídia social do que por qualquer outro caminho". E que a internet "pela primeira vez suplantou jornalisticamente a TV em uma cobertura.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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