• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 17:32:59 -03
    Nelson de Sá

    Rufar dos tambores passa pelo "NYT", de novo

    30/08/2013 13h04

    Ao longo da manhã de sexta 30, a manchete on-line do "New York Times" foi para uma "análise militar" de Michael R. Gordon, dizendo que o ataque à Síria teria o objetivo restrito de mostrar que as ameaças de Obama não são vazias. Não seria "campanha aberta, sem fim", garantiu Gordon.

    Um vídeo também destacado dizia que, tomando "a história como guia", ataques anteriores "bem-sucedidos tinham objetivos limitados", como Obama promete agora. E mais, afirmava o segundo enunciado na home do jornal, "França apoia EUA em ação na Síria", ainda que "britânicos votam não".

    Onze anos depois, até o protagonista, Michael R. Gordon, é o mesmo da fraude que sustentou o ataque ao Iraque. Foi ele quem assinou a manchete de 8 de setembro de 2002, com Judith Miller, dizendo que Saddam Hussein teria "tubos de alumínio" usados em armas de destruição em massa.

    *

    Como em 2001, foi uma semana em que a ação militar foi precedida por ações de mídia _com a novidade de envolver também outro lado, os hackers sírios. Na segunda, o secretário de Estado, John Kerry, soltou a primeira justificativa do ataque e o "NYT", horas depois, soltou editorial em apoio.

    Na terça, a Syrian Electronic Army derrubou o acesso ao site do jornal, reduzindo por dois dias sua capacidade de influenciar a opinião pública, não só nos EUA, mas mundo afora. Na quinta, o parlamento britânico derrubou a proposta de seu governo de apoiar, uma vez mais, uma guerra americana.

    No meio do caminho, quarta, a revista alemã "Focus", ecoada pelo britânico "Guardian", noticiou que a prova que vinha sendo apresentada de que o governo sírio havia ordenado o uso de armas químicas se originou, na verdade, da agência de vigilância eletrônica israelense, a unidade 8.200.

    Já nas edições de sexta, enquanto o presidente da França insistia na defesa do ataque ao lado dos EUA, na manchete do francês Le Monde, o ministro do exterior da Alemanha descartava participar e cobrava uma decisão tomada em conjunto na ONU, no alemão "Neue Osnabrücker Zeitung.

    *

    Mas a guerra de mídia prossegue, em ritmo cada vez mais intenso. Uma autoridade anônima americana, "a U.S. official", passou à agência Reuters que "a Casa Branca planeja divulgar uma versão não secreta da análise de inteligência sobre o ataque com armas químicas na Síria".

    nelson de sá

    toda mídia

    nelson de sá

    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024