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    Nelson de Sá

    Contra o mal sistêmico

    17/09/2013 13h17

    Durante entrevista publicada neste domingo, o editor-chefe do WikiLeaks, Julian Assange, soava triste ao falar da decepção com a presidente Dilma Rousseff por não ter aceito o pedido de asilo de Edward Snowden, "whistle-blower" que revelou o escândalo da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA.

    Relatou como a jornalista e advogada Sarah Harrison, que acompanhou Snowden em Hong Kong e Moscou e o ajudou nos pedidos de asilo, agora está também em auto-exílio _a exemplo de Snowden na Rússia, do jornalista Glenn Greenwald no Brasil, da documentarista Laura Poitras na Alemanha e do próprio Assange na embaixada do Equador no Reino Unido.

    Ele não confirma, mas a ausência de Sarah Harrison retira seu maior elo com o mundo exterior. Segundo a "Vanity Fair", os dois têm "uma relação romântica" há três anos.

    A perseguição dos EUA e de aliados como Reino Unido e outros de língua inglesa, mas também nações que prometiam mais, como a Suécia, estão transformando os citados e outros, como os hackers que lideravam o grupo Anonymous, em heróis. É expressão usada por Slavoj Zizek, mas a imagem está em toda parte.

    Ontem no alto da home do "New York Times", por exemplo. Sob o enunciado "A banalidade do mal sistêmico", o artigo falava do "esforço na mídia corporativa" para compreender os vazamentos e o hacktivismo de personagens como Snowden, Chelsea Manning e Jeremy Hammond, do Anonymous, agora preso:

    "Em termos gerais, os comentaristas na mídia mainstream tenderam a presumir que todos esses atores precisavam ser levados à Justiça, enquanto os independentes, na internet e em outras partes, têm dado mais apoio."

    E os independentes estão certos, escreve Peter Ludlow, da Universidade Northwestern, e destaca o "NYT": "Claramente, há um princípio moral nas ações dos vazadores, 'whistle-blowers' e hacktivistas e naqueles que os apoiam. Eu argumentaria que o esse princípio foi articulado claramente e pode nos salvar de um futuro distópico".

    Cita Aaron Swartz, que se matou no início do ano, como resultado de uma ação do governo americano pedindo 35 anos de prisão por ele ter baixado trabalhos acadêmicos do MIT. Para o hacktivista, "às vezes é necessário quebrar as regras que requerem obediência ao sistema para evitar o mal sistêmico".

    No dizer de Assange, na entrevista, "é um tempo muito interessante, porque ou vamos derivar para essa distopia pós-moderna, para um estado de vigilância transnacional, ou para esta nova cultura internacional fortalecida, um novo consenso, um novo 'demos', que vai fornecer uma força prática e política de equilíbrio".

    *

    É neste ambiente que Dilma decide que não vai viajar os Estados Unidos.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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