• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 00:50:19 -03
    Nelson de Sá

    Para deter os EUA

    22/10/2013 18h05

    Passado o primeiro leilão do pré-sal, a preocupação no governo é neutralizar as críticas pela esquerda . Não os questionamentos de Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva, que cobram ainda menos Estado, mas o contrário.

    Em reação ao inesperado ataque pela esquerda, de que é entreguista, Dilma Rousseff foi à televisão. E pela internet um dos argumentos ecoados aqui e ali, em defesa do resultado, é que ele muda a geopolítica mundial do petróleo.

    Ainda que não chegue a tanto, o alinhamento do Brasil com China e França no pré-sal não é sinal isolado. Está também, por exemplo, no acordo fechado pelo ministro Celso Amorim (Defesa) com a Rússia, de comércio e cooperação militar.

    Os movimentos coincidem com as revelações de espionagem eletrônica americana no Brasil, inclusive Petrobras e Ministério das Minas e Energia, e agora na mesma França. E com movimentação semelhante nas telecomunicações.

    Foi o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) quem, ao lado de Amorim, concentrou as respostas do governo brasileiro à espionagem, desde os primeiros indícios. Agora também é ele quem, ao lado de Amorim, costura novas parcerias geopolíticas.

    star

    Ontem, abrindo a semana do Internet Governance Forum (IGF) da ONU, na Indonésia, Bernardo afirmou que o Brasil pretende "mudar o atual status quo" da rede mundial: "É chegada a hora de agregarmos mais democracia à internet".

    Do discurso: "Desafios globais requerem tratamento global. Precisamos trazer mais atores e visões de mundo. Para tanto, propomos realizar no Brasil, no primeiro semestre de 2014, um encontro mundial sobre a governança da internet".

    O propósito é alcançar uma governança "multi-stakeholder", não limitada aos EUA, como hoje. A International Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), organização americana que cuida de domínios de internet, diz apoiar.

    "A confiança pública na internet como meio aberto e livre foi ferida", declarou o americano Fadi Chehadé, presidente da Icann, dias atrás na Índia. "Mas isso é bom, no sentido de agora estarmos buscando uma forma de lidar com isso."

    Sem citar a espionagem, promete que "2014 será um ano que vocês vão recordar: haverá evolução palpável na maneira como cooperamos no espaço da internet". Fala até em corrigir a "anglocentricidade" da Icann, hoje em Los Angeles.

    star

    Paralelamente, o ministro-conselheiro da União Europeia no país revelou que UE e Brasil negociam regras comuns sobre nuvem e segurança da rede, "para deter os EUA" . Agendaram "workshop" para daqui a duas semanas, em Brasília.

    "O momento é de restaurar a confiança, que ficou abalada com a comprovação da espionagem das agências dos EUA", afirmou. "Queremos norma comum para ter uma indústria não dependente dos EUA e sua espionagem sistemática."

    Detalhando o que vai propor, defendeu multa de 2% sobre a receita global das empresas envolvidas em espionagem e obrigatoriedade de dados serem hospedados no próprio território, medidas que serão votadas no Parlamento Europeu.

    nelson de sá

    toda mídia

    nelson de sá

    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024