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    Nelson de Sá

    Um dia meu bilionário virá

    26/11/2013 21h22

    Desde que Jeff Bezos, fundador e presidente da Amazon, comprou o "Washington Post", magnatas de tecnologia se tornaram a grande esperança de sobrevivência para o jornalismo nos Estados Unidos.

    Não demorou e Pierre Omidyar, fundador e presidente do eBay, tirou Glenn Greenwald do "Guardian" para um empreendimento jornalístico ainda indefinido. Um empreendimento que por enquanto obteve, como único resultado, conter os vazamentos de Edward Snowden que vinham sendo canalizados pelo jornalista.

    Na semana passada, Omidyar foi criticado pelo NSFWCorp, revista on-line de Paul Carr, também ele egresso do "Guardian". A longa reportagem detalhou o histórico neoliberal do magnata, encerrando com uma insinuação, na suposta voz de Greenwald:

    "América corporativa, não se preocupe. Seus segredos sujos transferidos do desagradável 'Guardian' para Omidyar estão seguros conosco."

    Depois de discutir on-line com Carr, Greenwald tuitou que "talvez a melhor forma de julgar um novo veículo de mídia seja pelos jornalistas que contrata", como ele, "e pelo jornalismo que produzir quando começar de fato". Não existe data, porém, para retomar a divulgação dos segredos de Snowden.

    *

    Glenn Greenwald não saiu bem do confronto com Paul Carr, mas bastaram alguns dias para este e seu NSFWCorp se encontrarem em situação muito parecida.

    O jovem site não achou um modelo de negócios viável, acumulou prejuízos e acabou nas mãos de Peter Thiel, investidor que fundou e foi presidente do PayPal, hoje parte do mesmo eBay. O NSFWCorp vai desaparecer e sua equipe será incorporada pelo PandoDaily, site bancado por Thiel e considerado uma espécie de voz oficial das empresas de tecnologia.

    O episódio todo foi ruim para Greenwald, para Carr e para a esperança de futuro para o jornalismo. Fundadora e editora de outra revista on-line, Rachel Rosenfelt lamentou que o NSFWCorp tenha caído nas mãos de "bilionários do Vale do Silício" e acrescentou, com ironia triste:

    "Um dia meu bilionário virá."

    No caso de eBay/PayPal, é bom lembrar, trata-se do grupo financeiro-tecnológico que aceitou a pressão do governo americano e bloqueou as doações para o WikiLeaks, sufocando assim os vazamentos canalizados por Julian Assange.

    *

    Quanto a Assange, o mesmo governo americano passou agora a dar sinais anônimos de que não vai processá-lo, "provavelmente", porque teria de fazer o mesmo com os jornais que publicaram vazamentos. Seria "o problema New York Times", na expressão usada pelos anônimos.

    Enclausurado há três anos na Inglaterra, primeiro em prisão domiciliar, depois na embaixada do Equador, o editor-chefe do WikiLeaks cobrou dos EUA uma declaração "inequívoca". Do contrário, o jornalista segue no exílio.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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