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    Nelson de Sá

    Entre a prisão e os grandes sacos de dinheiro

    05/12/2013 12h57

    Alan Rusbridger foi obrigado a ouvir, no Parlamento: "Você ama o seu país?". O editor-chefe do inglês "Guardian" estranhou a pergunta, mas confirmou, "sim, somos patriotas", e deu como motivo a liberdade de imprensa, ironicamente ameaçada naquele mesmo instante.

    Ele segue os passos de Julian Assange, editor-chefe do WikiLeaks, que foi parar em prisão domiciliar e depois no exílio, na embaixada do Equador em Londres. Existe o risco de que Rusbridger acabe, ele também, na prisão.

    Mal terminou seu depoimento e o governista "Telegraph" deu na manchete on-line que a Scotland Yard, também no Parlamento, confirmou estar investigando se jornalistas do "Guardian" transgrediram a lei anti-terror, um crime que pode resultar em dez anos de cadeia.

    Momentos antes, Rusbridger contava como o "Guardian" havia enfrentado uma série de ações do governo "planejadas para intimidá-lo". Entre elas, a destruição dos computadores que armazenavam, na redação, as informações passadas por Edward Snowden.

    O editor-chefe declarou ter noticiado apenas 1% dos vazamentos do "whistle-blower" e adiantou, algo conformado, que o jornal não deve "publicar muito mais".

    *

    Enquanto isso, Glenn Grenwald, que abandonou o "Guardian" por um quarto de bilhão de dólares, levando com ele as informações de Snowden, está se enredando em explicações.

    Ele voltou a ser questionado na última semana pelo repórter Mark Ames, que sublinha o fato de ter "privatizado" os arquivos. "Snowden não os tem mais, o 'Guardian' não tem, o 'Washington Post' não tem..." Só Greenwald e Laura Poitras, também contratada pelo projeto de US$ 250 milhões, NewCo.

    Ambos trabalham agora para Pierre Omidyar, bilionário fundador e presidente do eBay, que ajudou a sufocar as fontes de financiamento do WikiLeaks em 2010, quando a Casa Branca mandou. Anteontem, Omidyar postou texto em que se diz supostamente contrário àquela decisão.

    Greenwald linkou Omidyar e outros, inclusive um elogio ao fato de ele ter trocado o "Guardian" por Omidyar. Sobretudo, tratou de atacar Mark Ames, dizendo ser um repórter vingativo, mal intencionado etc. O editor de Ames no site Pando, Paul Carr, respondeu, em suma:

    "Existem perguntas sérias a serem feitas, sobre quem detém os segredos dos EUA e como empresas mantidas por bilionários, casos de 'WP', NewCo e Pando, podem se defender dos efeitos persuasivos (e dissuasivos) de grandes sacos de dinheiro. Vamos continuar a fazer essas perguntas, independente de quanta lama atirar contra nós."

    *

    Glenn Greenwald, ao sair do "Guardian" com os arquivos da NSA, segue os passos de Daniel Domscheit-Berg, que saiu do WikiLeaks em 2010 com os arquivos do Bank of America. Que nunca mais foram vistos.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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