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    Nelson de Sá

    Edward Snowden, "whistle-blower"

    DE SÃO PAULO

    02/01/2014 14h04

    Fechando o ano, o instituto Poynter anotou, "Conforme menos gente lê jornais, mais gente compartilha as suas primeiras páginas". Na explicação do instituto Pew, as primeiras páginas garantem "a sensação de permanência numa cultura de difusão [broadcast] em que as coisas desaparecem rapidamente".

    O mesmo vale, pelo jeito, para os editoriais. O "New York Times", secundado pelo "Guardian", abre o novo ano com um editorial que proclama Edward Snowden um "whistle-blower", saúda até os crimes que ele precisou cometer e cobra de Barack Obama que abra o caminho para que retorne para casa.

    "Finalmente", reagiu o WikiLeaks. "Poucos editoriais do 'NYT' tiveram o poder e a clareza deste que cobra perdão para Snowden", avaliou Emily Bell, da Universidade Columbia. Michael Calderone, do Huffington Post, observou que pode não ser o bastante, "mas são os editoriais que mais importam na Casa Branca".

    Editoriais importam, talvez mais até do que antes. No caso, servem também, como expresso nas páginas on-line do próprio jornal, para recuperar parte do terreno perdido com a opção de Snowden, de falar com Barton Gellman, do concorrente "Washington Post", passando ao largo do "NYT".

    Gellman ouviu Snowden novamente para a entrevista de Natal em que o "whistle-blower" afirmou considerar sua "missão cumprida". Foi o bastante para ele voltar a ser atacado nas páginas de opinião do mesmo "WP", tratado como "presunçoso, hipócrita, egoísta, megalomaníaco" e assim por diante.

    Em sete meses de cobertura do escândalo, os editorialistas do "WP" fizeram o oposto do "NYT": puseram a perder o que era um trunfo. O exemplo histórico foi o editorial "Estancando o vazamento no caso Edward Snowden", publicado em julho, que defendia interromper as revelações feitas por ele ao próprio jornal.

    *

    Os editoriais de "Washington Post" e outros jornais americanos não estão sozinhos, do lado errado da história. "Google, Facebook... Pode procurar em qualquer lista dos dez mais comentados ou buscados na internet em 2013. Snowden não aparece em nenhuma", avisa Cristina De Luca.

    "É possível controlar o que se passa na rede a esse ponto? Teria Snowden sumido deliberadamente das listas daqueles que acusou de 'colaboradores do sistema' e que sentem seus negócios ameaçados pela desconfiança coletiva? Ou, de fato, Snowden não repercutiu tanto assim na internet?"

    A primeira hipótese, de uma conspiração, é hoje inteiramente plausível, diante do que revelou o próprio Snowden. E a segunda hipótese, de que redes sociais e internet em geral não conseguem repercutir nada além de celebridades, é que se mostra mais "orweliana", no fim das contas: ser humano tornado gado.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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