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    Nelson de Sá

    A nova era de ouro do jornalismo

    28/02/2014 22h10

    Na semana passada o Blue Bus postou conversa, até ali informal, sobre o futuro do jornalismo, como modelo de negócios. Usei então uma imagem que vem se espalhando desde meados do ano passado nos EUA, de que esta já pode ser tratada como uma nova "era de ouro".

    Entre outros, vêm usando a expressão, com argumentos jornalísticos diversos, Henry Blodget, do BusinessInsider, Bill Keller , que está de saída do "New York Times", Tom Engelhardt, do Tom Dispatch, e Paul Steiger, que deixou o "Wall Street Journal" e fundou o ProPublica.

    Nesta semana, uma voz de peso do Vale do Silício veio em apoio aos jornalistas, quanto ao modelo de negócios, propriamente. Também ele se declara esperançoso: "Talvez estejamos entrando numa nova era de ouro do jornalismo e só não tenhamos ainda percebido".

    Trata-se de Marc Andreessen, criador meio lendário do Mosaic, ou seja, do primeiro browser, fundador de Netscape e outros, hoje investidor bilionário. Ele proclama, desta vez: "Nos próximos 20 anos, você verá a indústria jornalística crescer de dez a cem vezes o que é hoje".

    Andreessen tenta pensar, como se diz, fora da caixa, mais como investidor, não editor.

    Sobre o que mudou no modelo de negócios, por exemplo, acredita que foi o fim dos monopólios/oligopólios que sustentaram as empresas de distribuição de notícias nos EUA, de jornais a TVs, de 1945 até 2005. E diz que é bom, por abrir caminho para milhares de novas empresas.

    Sobre publicidade, defende envolvimento das empresas jornalísticas na produção ou pelo menos exigência de anúncios e anunciantes melhores. Ele vê hoje uma "corrida ao chão", com as empresas reduzindo qualidade jornalística para ter publicidade também de baixa qualidade.

    Sobre assinaturas, na mesma linha, enfatiza que, reduzindo qualidade, o consumidor não vai querer pagar. De maneira geral, vê perspectiva de êxito financeiro cumulativo em várias direções que vêm sendo testadas: conteúdo "premium", eventos, filantropia, "crowdfunding".

    Entre muitos outros, elogia os experimentos de "New York Times" e "Guardian" na passagem para o ambiente digital, os nativos on-line Politico e BuzzFeed, além de "três investimentos pessoais meus": o TPM de Josh Marshall, o BusinessInsider de Blodget e o PandoDaily de Sarah Lacy.

    Andreessen alerta para os obstáculos que persistem, como a estrutura até física do sistema de monopólios/oligopólios, e prega "pensamento empreendedor", como "um mantra: Nós somos donos da empresa. Nós fazemos o negócio. Nós controlamos nosso futuro".

    A percepção de que o novo modelo de negócios está próximo ou já chegou, ainda que difuso, não se restringe a Andreessen. A profusão de depoimentos e análises sobre a nova "era de ouro" reflete, na verdade, a sensação de que se pode ver a luz no fim do túnel.

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    O jornalista Nelson de Sá cobre mídia e cultura na Folha. Escreve de segunda a sexta.

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