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    Nina Horta

    A cozinha na TV

    10/09/2014 02h00

    Assisti na TV ao primeiro "MasterChef" brasileiro, na Band (terças, às 22h45). Sei que é um programa de muito sucesso e que vende seu formato para outros países que o usam com pequenas adaptações necessárias.

    É o tipo de programa que gente da cozinha fala mal, mas assiste quando pode. Falamos mal por quê? Porque o programa é mais de relações humanas do que de comida. Não dá prioridade à comida, mas sim à rapidez e à competitividade dos cozinheiros. Desde quando ser rápido e competitivo faz um bom chef? E, se você gosta mesmo do assunto, fica meio chateado por não ter aprendido a fazer aquele bacon doce que ganhou a prova.

    A inovação foi a participação de um membro da família do candidato dando força, atrapalhando, ajudando. Vamos ver se essa parte convence, se se aguenta. Talvez, não.

    Enfim, esse primeiro "MasterChef" teve seus problemas, pois eram 300 de onde seriam escolhidos 50. Foi no Pacaembu, onde mais? Parecia um musical dos anos 1950, de tanta gente junta, cozinhando ao ar livre. Os 50 que ganhassem a colher de pau estavam classificados. Coisa demais para um programa só, mas entrando na rotina aposto que vai ser bom, divertido, bem feito.

    Gostei. O júri está ótimo, impagável. Duas pessoas conheço muito, o Erick Jacquin, que imediatamente achou seu lugar na vida. Ator de TV. Um tipo. Cozinha bem, muito bem, principalmente "foies", e, para minha surpresa, tem uma imagem televisiva formidável. Vai longe. Emburrado, gordo, comilão, manteiga derretida por dentro, chapéu a calhar. Incrível, parabéns, Jacquin.

    Paola Carosella é outra feita para brilhar. Mas já era de se esperar. Faz a parte feminina que abranda e adoça, que entende os cozinheiros, humana, sexy, bonita, mas é muito macho como uma jurada de verdade, não tem problema em falar "não" e fim de assunto. Muito interessante. Natural, segura.

    O único que eu não conhecia é o do restaurante Sal, um tipo descolado, meio Atala, forte, tatuado, articulado, Henrique Fogaça, mas imaginem que chorou apesar daquela braveza toda.

    Acho que seria impensável em qualquer lugar do mundo um membro do júri chorar por causa do discurso de uma candidata que sente seu Estado relegado e esquecido. Uma coisa assim meio parecida àquela camisa do Neymar no campo depois que ele se machucou. Mas aqui no Brasil é assim e pronto. O que mostra que o programa, apesar de ser uma cópia, tem uma cara bem brasileira.

    Só que, pelamordedeus, nada de gritaria como no "Big Brother". Não somos assim, ou não éramos assim, até ontem; desde quando ao ganharmos uma colher de pau ou um avental gritamos a toda altura, pulamos a grande altura, e todos "uuuuuuuu" à nossa volta? Que pesadelo. Vá que a gente se acostume, que terror!

    Me parece também haver uma confusão difícil de acertar, pois esse "MasterChef" é de comida caseira e a maioria dos candidatos apresentou a comida em prato individual com uma decoração de restaurante. É que fica tão difícil apresentar aquele prato misturado que comemos de verdade, não é? Vamos ver como se vai resolver isso, tanto no programa como na vida de todo dia.

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    nina horta

    É escritora e colunista de gastronomia da Folha há 25 anos. É formada em Educação pela USP e dona do Buffet Ginger há 26 anos.
    Escreve às quartas-feiras.

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