• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 19:16:55 -03
    Nina Horta

    Conselhos para uma ceia de Natal simples, bonita e saborosa

    20/12/2017 02h00

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Ceia de Natal preparada para a *sãopaulo*
    Ceia de Natal preparada para a sãopaulo

    Quais os conselhos para uma ceia de Natal simples, Natal de crise, mas que dê as costas a ela, sendo gostosa e bonita ao mesmo tempo?

    Acho que é o único dia na vida em que devemos ser clássicos e fazer o que estamos acostumados a comer. E, já que é comida comum, sempre há que ter um visual diferente, que não precisa estar nos próprios ingredientes, mas nas vasilhas. Se tivermos um aparador, o problema é menor, pois a comida aparece menos, não há muita novidade a se inventar.

    Como geralmente os convidados do Natal são em maior número do que os que cabem numa mesa, podemos fazer a mesa de aparador, onde as pessoas se servirão para comer sentados na sala em poltronas com mesinha do lado ou com guardanapão no colo.

    A tendência brasileira é para fartura e sobras... Quem sabe conseguimos evitar isso, com um prato só e muitos acompanhamentos? Pode-se consultar a família antes, se ganha o peru, o pernil ou o bacalhau.

    Agora, sim, vamos pensar com muito cuidado nos acompanhamentos. Ganhou o pernil? Que ele esteja saboroso, com um bom molho ao lado, que não pareça um elefante num pires, mas que esteja moreno e brilhante e mais alto do que tudo que o vai acompanhar. Como levantá-lo? Criatividade, aí! Tijolos de vidro ou simplesmente tijolos ou uma bandeja sobre um suporte de bolo –é só olhar à sua volta que o suporte aparece.

    E os acompanhamentos não precisam estar rigidamente colocados sobre a mesa inteira, mas abaixo do pernil, envolvendo-o de perto, para aqueles que vão se servir perceberem que fazem parte de um mesmo conjunto. Entenderam? Se alguém da família tem um viés vegetariano e vai comer uma lasanha de berinjela, é bom que ela esteja bem afastada, do outro lado da mesa, com uma salada fresca que é de todos, mas que não faz parte do prato.

    O arranjo de flores pode ser muito alto se a mesa estiver servindo de aparador. Nem há necessidade de flores, um enorme galho de bambu, qualquer coisa verde que escandalize um pouco na altura. Estávamos nos dando bem no Natal, aqui em casa, pois uma vez roubara do jardim de uma cliente uma muda de holly, aquela planta típica de Natal europeu que rapidamente virou um arbusto potente. Nunca deu fruto, aqueles cachinhos pequenos e vermelhos, mas a folha dura, encerada e picotada faz um clima perfeito. Foi podado pela raiz, babau. Não importa, o bambu ficou –alto e delicado vai espiar a ceia lá de cima.

    Pensamos em não variar muito os sabores do prato principal, ou melhor, extrair do porco as suas maiores qualidades. Se o pernil for à mesa já cortado, que seja entremeado por fatias de presunto cru. Se estiver inteiro, pode ser rodeado por flores de presunto cru –é só enrolá-las no dedo frouxamente que tomam um formato bonito. Elas serão o "tempero" do pernil, além do próprio molho. Todos gostam de acompanhar porco com ameixa, é daqueles casamentos feitos no céu. E por que não entrar de brega ou vintage, circundando-o com ameixas enroladas em bacon que foram ao forno por 15 minutos antes de servir? Deixe o bacon bem sequinho, sem gordura.

    Um purê para segurar o molho, de batata-doce roxa. A minha escolha seria um purê de castanhas portuguesas. Antigamente, fazia-se o Montblanc ou um pudim de castanhas, usando poucas e enganando com batata-doce. Não, sem enganos, um belo purê de batata roxa, farto, amanteigado, recebendo no seu centro um monte de castanhas inteiras, bem natalinas e compradas já cozidas. Achou pouco? Um belo espinafre batidinho enfeitado com claras de ovo duro, quem sabe uns tantos pinoli?

    E a farofa? Essa, sim, brasileira e imprescindível. No dia de Natal, para mostrar o quanto vale um pernil, eu teria coragem de fazer uma paçoca de carne. De carne de porco.

    Ceia

    Pois bem, falta uma coisa picante ou um molho ácido. Para a Folha, fizemos uvas variadas em picles. Ficam bonitas em prato raso, com todas as suas cores e um pouco do seu caldinho. Pronto, servindo-se de tudo isso está formado um prato cheio e que não foge ao paladar de todo dia, mas tem um certo tchan.

    Agora, afastem a salada para a outra extremidade da mesa e está na hora de uma rúcula, nacos de melancia refrescante, queijo de cabra ou outro qualquer, como ricota esmigalhada. E ainda por cima tem as cores do Natal. E velas, já ia me esquecendo, velas pequenas e baixinhas, muitas, muitas velas, pela mesa e pela casa inteira.

    O mais difícil para mim é a sobremesa, que não é meu forte. Ficaria contente com talhadas de manga muito doce, lichias, uma noz. Sorvete é preciso, preferiria um de limão ou tangerina. Para as crianças, um bowl de gelo picado todo espetado de picolés coloridos sem o papel. Nada de tortas estufantes, alguma coisa que nos faça lembrar do ano inteiro, simples como morangos e chantilli. E feliz Natal!

    PS - Ingredientes principais: um pernil ou paleta, presunto cru, batata-doce roxa, bacon, ameixas, uvas, espinafre, rúcula, melancia, queijo branco, castanhas portuguesas.

    nina horta

    É escritora e colunista de gastronomia da Folha há 25 anos. É formada em Educação pela USP e dona do Buffet Ginger há 26 anos.
    Escreve às quartas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024