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    Nizan Guanaes

    Olimpíada das Olimpíadas

    22/07/2014 02h00

    Eu se fosse o prefeito do Rio de Janeiro abraçava logo o termo Olimpíada das Olimpíadas. Porque o Brasil pode se dar a essa folga. E mostrar ao mundo que ele vai fazer uma Olimpíada mais divertida, mais acolhedora e mais alto astral.

    Diferentemente da Copa, nós não temos nenhuma responsabilidade de vencer as Olimpíadas. Nosso lugar no quadro de medalhas nos Jogos de Londres, em 2012, foi o 22º, com três medalhas de ouro apenas. Portanto, não temos que brigar com ninguém. Somos anfitriões.

    Já conseguimos vencer todos os fantasmas que tínhamos. Não porque fizemos uma Copa sem defeitos, sem problemas logísticos e de custos. Mas nós mostramos ao mundo aquilo que todos nós sabemos: que tudo tem um jeito, com exceção da morte e da seleção.

    O Mundial que acabamos de entregar e do qual já sentimos saudade mostrou que o jeitinho brasileiro, que nós tanto criticamos, é um defeito e é também uma virtude nossa. O jeitinho brasileiro precisa ser depurado e evoluir para o "Brazilian way".

    A discussão sobre o dinheiro da Copa ou da Olimpíada ser mais bem usado na saúde ou na educação é mal posta. Dinheiro mal usado é mal usado em qualquer lugar. Esses recursos não são apenas para sediar eventos, mas para nos posicionarmos no mundo. E o Rio de Janeiro já está há tempos usando a Olimpíada para se posicionar como marca, como lugar de negócios, como sociedade e como destino.

    A sequência de Copa do Mundo e Olimpíadas forma oportunidade única de o Rio de Janeiro e o Brasil assumirem o lugar que já é nosso. Mas não basta ser, é preciso ser percebido. Temos de cuidar de como nossos interesses, nossas aspirações, nossos produtos e nossa cultura são percebidos no mundo neste século que pode ser também o século brasileiro.

    O Brasil avançou muito nos últimos 20 anos. Mas nossa história não pode ser contada apenas pelo mercado, ela tem de ser contada por nós, "we, the people", como escreve lindamente a Constituição dos Estados Unidos.

    Isso já foi feito na Copa do Mundo. Apesar de tantas dificuldades e ceticismo, os brasileiros mostraram brio, amor próprio e sangue nos olhos. Esse mesmo senso de história que apareceu na Copa aparecerá nos Jogos do Rio.

    O Brasil tem riquezas naturais e riquezas sobrenaturais, que encantam o mundo, que são mágicas. Há quanto tempo uma Olimpíada não é feita numa cidade tão bonita e inspiradora?

    E sendo numa cidade apenas, as coisas são mais fáceis de serem organizadas e de serem resolvidas. O foco é natural.

    Claro que o COI (Comitê Olímpico Internacional) está cobrando, este é o papel dele. Mas eu tenho profunda confiança no prefeito Eduardo Paes.

    Ele está enfrentado um desafio de comunicação porque o Rio de Janeiro hoje é uma cidade em obras, e uma cidade em obras é como uma mulher de TPM, nervosa. E o Rio daqui a 24 meses vai parir a Olimpíada. E uma mulher grávida também fica nervosa, com desejos. E chora.

    A Olimpíada de 2016 é mais um passo para que essa potência agrícola que é o Brasil, essa potência mineral e energética que é o Brasil se transforme numa potência turística.

    Turismo, que eu tenho dito aqui nesta coluna, não tem plano estratégico, não tem sido prioridade num país de tantos problemas que falha ao não percebê-lo como solução. O ministro do Turismo e o Ministério do Turismo precisam ter mais protagonismo, mais poder. Ministro do Turismo no Brasil deve ser o equivalente a ministro da Cultura na França. Tem que ser forte e ambicioso.

    Os Jogos do Rio são o próximo passo fundamental para esse projeto de potência turística. Eles são outra oportunidade suprapartidária, que não devemos contaminar com a política. Vamos olhá-los como um projeto de nação. A Copa já nos colocou em outro patamar.

    A Olimpíada, portanto, não é um evento, é uma janela para o mundo. Aliás, ela é mais do que uma janela. Ela é uma porta. De ouro.

    nizan guanaes

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