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    Patrícia Campos Mello

    Osama e os 'deathers', os novos birutas americanos

    06/05/2011 06h00

    A decisão de não mostrar a foto de Osama bin Laden morto é combustível garantido para o mais novo grupo de birutas americanos: os "deathers". Primeiro surgiram os "truthers", depois os "birthers" e agora, os "deathers".

    Os "truthers" acreditam piamente que os atentados de 11 de Setembro foram uma enorme conspiração, que o governo americano armou tudo para poder invadir o Iraque. Os "birthers", na maioria conservadores e integrantes do Tea Party, são aqueles seres brilhantes que passam boa parte do tempo acusando o presidente Barack Obama de ter nascido no Quênia --e portanto, estar proibido de presidir os Estados Unidos.

    O movimento ganhou um líder de peso midiático --o onipresente e irritante Donald Trump. Mas os "birthers" sofreram um duro golpe na semana passada, quando Obama entrou em rede nacional para apresentar sua certidão de nascimento em versão longa, do cartório do Havaí, onde ele nasceu. Ainda tem amante de conspiração duvidando, mas o movimento já ficou além do ridículo.

    E agora, damos boas-vindas aos "deathers".

    Os "deathers" duvidam que Bin Laden esteja realmente morto. Ou então, acham que ele está morto há anos, e a recente operação dos Seals foi uma pantomima do governo americano.

    Obama resolveu não divulgar as imagens de Bin Laden, morto com um tiro no peito e outro na cabeça. "Osama bin Laden não é um troféu --ele está morto e agora vamos nos concentrar na luta contra a Al Qaeda até eliminá-la", disse Obama em entrevista. Na Casa Branca, havia a percepção de que a imagem poderia incitar o ódio e estimular violência contra americanos. "Imagine como o povo americano iria reagir se a Al Qaeda tivesse morto um de nossos soldados ou comandantes, e pusesse fotos do corpo na internet."

    A ausência da foto é terreno fértil para cabecinhas afeitas a teorias conspiratórias. "Será que ele morreu mesmo? Eu não sei.....só acredito vendo a foto", é a frase que sai da boca de muita gente.

    Esses amantes da conspiração vicejam na internet, terra de ninguém onde opiniões viram fatos. No site Infowars, do popular radialista Alex Jones, teorias pululavam. Depois do anúncio de Obama no domingo, Jones disse em seu programa de rádio: "Isso é um trote, cadê o corpo? De novo, somos forçados a aceitar a versão do governo para os acontecimentos, ou sermos acusados de ser adeptos de teorias da conspiração."

    Não ajuda o fato de a Casa Branca ter mudado a versão do ataque ao abrigo de Abbottabad --Osama estava armado, depois não estava; a mulher dele morreu, não, não era mulher dele. E a decisão de jogar o corpo no mar só serve pra criar mais minhoca-- embora faça todo sentido, afinal, ninguém quer criar centro de peregrinação de jihadistas.

    "A história que o governo americano inventou sobre Bin Laden foi tão malfeita que não durou nem 48 horas até ser totalmente mudada", dizia o site Infowars.

    Um dos leitores do site comentou: "Osama Bin Laden morreu em 2001 de síndrome de Marfan. O cadáver estava conservado em gelo, para ser revelado quando fosse politicamente conveniente. O assassinato encenado de Bin Laden serve para distrair as massas dos sérios perigos econômicos, entre eles a queda do dólar."

    A mais famosa "deather" é Cindy Sheehan, pacifista cujo filho morreu na guerra do Iraque. Ela ficou conhecida ao armar um acampamento ao lado do rancho de George W. Bush no Texas, para protestar contra a Guerra.

    Em sua página no Facebook, ela duvidou da veracidade das notícias sobre a morte de Osama.

    "Desculpe, mas se você acredita na última notícia da morte de OBL, você é estúpido. Pense bem --quando mataram os filhos de Saddam Hussein, eles mostraram para todo mundo, para provar que estavam mortos. Agora, por que será que enterraram OBL às pressas no mar? Este império mentiroso e assassino só consegue sobreviver com seu consentimento de pessoa vítima de lavagem cerebral."

    Pensando bem, acho que divulgar só as fotos de Osama morto tampouco adiantaria. Eles iam dizer que a imagem, na verdade, era do chupa-cabra, do alien de Roswell, era photoshop, ou qualquer outra coisa. O negócio é confiar no poder do Wikileaks para vazar logo logo a foto, juntamente com áudios da invasão da mansão Bin Laden em Abbotabad, pra ver se o pessoal sossega.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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