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    Patrícia Campos Mello

    A Índia é aqui

    08/02/2013 03h00

    Há três semanas, a Índia anunciou um aumento gradual nos preços do diesel. Os preços eram subsidiados e vinham pressionando as contas do país - agências de risco ameaçam rebaixar a nota de crédito do Índia, caso não haja redução do deficit do orçamento, hoje em 6%. O governo anunciou um aumento gradual, mas ainda se considera que o preço do combustível está defasado em relação aos preços internacionais.

    O governo brasileiro anunciou na semana passada um reajuste de 6,6% na gasolina. A defasagem dos preços vem afetando os resultados da Petrobras, que importa o combustível e tinha de vendê-lo aqui dentro com prejuízo.

    Mesmo com o aumento, calcula-se que o preço ainda tenha uma defasagem de 6% a 12%.

    O governo segurou o quanto pode o reajuste esperando a redução das tarifas de energia para não pressionar a inflação, já em índices preocupantes.

    Na Índia, também, a inflação é perigosa. Lá , está em 7,5%, mas a inflação de alimentos chegou a 14%.

    "Estávamos acostumados a uma inflação de 2%, 4%, agora está se tornando uma grande preocupação", disse à Folha Parthasarathi Shome, assessor do ministro da Fazenda indiano, Palaniappan Chidambaram. Partho, como é mais conhecido, é velho estudioso das semelhanças entre Brasil e Índia. Ele foi responsável pelo Brasil no Fundo Monetário Internacional durante muitos anos e chegou a receber a Ordem do Cruzeiro do Sul.

    Aqui, segundo o IBGE, o IPCA ficou em 5,84%, acima do centro da meta de inflação, de 4,5%.

    Outra semelhança é a fragilidade dos resultados fiscais, embora na Índia sejam bem mais acentuados.

    A Índia, inspirada no Brasil, adotou uma lei de responsabilidade fiscal em 2003.

    Mas desde 2008 o país não atinge as metas de deficit do orçamento previstas na lei.

    "Infelizmente, os políticos ainda não se dão conta de que gastos populistas, quando levam a um maior deficit do orçamento, terão um efeito negativo sobre a vida das pessoas comuns. Membros do Parlamento dificilmente irão se opor a medidas populistas que aumentam o deficit", disse à Folha Montek Ahluwalia, vice-presidente da Comissão de Planejamento da Índia. Montek é um dos integrantes do governo mais próximos do primeiro-ministro, Manmohan Singh. E ele foi o primeiro diretor do escritório de avaliação independente do FMI, o ombudsman do Fundo.

    "Mas o crescimento no deficit indiano nos últimos anos não se deve apenas a gastos populistas. Os subsídios aumentaram cerca de 1 ponto percentual do PIB desde 2007, mas a arrecadação de impostos caiu 2 pontos percentuais do PIB. Nós temos uma lei de responsabilidade fiscal, mas ela não é tão rígida como em outros lugares e não há penalidades se o governo não cumpre as metas de deficit."

    No Brasil nem toda a maquiagem contábil do ano passado garantiu o cumprimento da meta de superávit primário. O resultado da economia (descontados os pagamentos de juros) equivaleu a 2,38% do PIB e é cerca de 25% inferior à meta fiscal estipulada para o ano, de 3,1% do PIB.

    Outra grande preocupação é a taxa de investimento. Na Índia, há uma grande discussão sobre a taxa, que era de 35 % e caiu para cerca de 31% nos últimos meses.

    Aqui, patina em cerca de 18 %. E não cresce.

    A previsão de crescimento do PIB para o ano fiscal indiano, que acaba em março, é de 5,5% a 6% - considerada uma enorme decepção, diante da média de 8% nos últimos anos.
    Aqui, se chegarmos a 3% em 2013, estaremos no lucro.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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