O Brasil tem um dos candidatos mais qualificados --se não o mais qualificado-- para liderar a Organização Mundial do Comércio, que deve eleger seu novo diretor-geral até maio.
O embaixador do Brasil junto à OMC, Roberto Azevedo, sabe como ninguém navegar os meandros na organização e vários países já demonstraram, aberta ou secretamente, apoio a sua candidatura.
Mas o governo brasileiro não embarcou de corpo e alma na candidatura de Azevedo. Não como fez, por exemplo, com a candidatura do José Graziano à Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Recentemente, um alto funcionário do governo americano tentou entrar em contato com um ministro brasileiro para dizer que os EUA viam com muito bons olhos a candidatura de Azevedo, apesar do recente histórico de protecionismo do Brasil (vide imposto de importação para veículos). Após algumas tentativas, funcionário continuou sem retorno do governo brasileiro.
Em Washington, um integrante da equipe econômica deixou claro, diante de diplomatas, a posição ambígua do governo diante da candidatura de Azevedo. "Não sei porque apresentar uma candidatura à OMC, entidade que só atrapalha nossa política industrial", disse a interlocutores.
Diante das enormes mudanças em curso no xadrez do comércio mundial --negociação do acordo entre Estados Unidos e Europa, Parceria Trans-Pacífico, acordo da China na Ásia-- o Brasil está cada vez mais isolado. Faria bem em deixar de ser "síndico do condomínio dos bolivarianos" e se posicionar direito em pelo menos algum foro. Que seja na OMC, já que a rodada multilateral, apesar de empacada, é que mais pode nos render benefícios. Para isso, o governo deveria abraçar de forma mais entusiasmada a candidatura de Azevedo.
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.