• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 18:54:11 -03
    Patrícia Campos Mello

    Linha-dura anti-Chávez pressiona contra aproximação dos EUA com Maduro

    08/03/2013 03h00

    Dificilmente Otto Reich, um dos estandartes da "vasta conspiração de direita", como ele mesmo brinca, e o "Washington Post", jornal bem distante dos conservadores, concordam em alguma coisa.

    Pois foi exatamente isso o que aconteceu nesta semana.

    No editorial "Estratégia equivocada dos EUA para a Venezuela", o "WP" afirmou que os EUA não deveriam estar fazendo gestos de aproximação a Nicolás Maduro, atual presidente interino da Venezuela. Roberta Jacobson, mais alta diplomata no Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, conversou com Maduro em novembro sobre um maior engajamento. Recentemente, outros integrantes do governo americano teriam dialogado com Maduro.

    Horas antes de Maduro revelar que Hugo Chávez havia morrido, ele expulsou dois adidos militares da embaixada americana e tentou culpar os EUA pelo câncer de Chávez.

    "Que belo reinício com Caracas", disse o "Post". "A ridícula acusação lançada por Maduro mostra que os sucessores de Chávez serão mais brutos e menos politicamente hábeis do que ele, e mais inclinados a usar os EUA como bode expiatório para os problemas venezuelanos", diz. "O único mistério é entender porque o governo Obama está focando sua diplomacia para cortejar Maduro e seus asseclas... Uma política razoável dos EUA neste caso deveria começar com um voto justo e democrático para determinar o sucessor de Chávez."

    Otto Reich foi na mesma linha.

    "É um erro grave o governo americano se aproximar de um sujeito pró-Castro, que não foi eleito e é antiamericano, por que não nos aproximamos de democratas venezuelanos?", disse à Folha Reich. Figura controversa, o linha-dura Reich foi embaixador dos EUA na Venezuela entre 1986 e 1989 e secretário-assistente encarregado do hemisfério Ocidental no departamento de Estado. Nessa função, em 2002, manifestou apoio a Pedro Carmona após sua tentativa de golpe contra Chávez.

    Perguntei a Reich se os Estados Unidos não estão sendo realistas, tentando normalizar relações com a Venezuela ao dialogar com Maduro, o mais provável vencedor na eleição presidencial...

    "Isso pode se tornar uma profecia auto-realizável", disse. "Se nós já nos aproximamos de Maduro, sinalizamos que ele é um candidato palatável, e que a oposição é carta fora do baralho, mesmo antes da eleição."

    Ele acha que, com a morte de Chávez, a Venezuela sairá um pouco do cenário nos EUA. Primeiro porque Maduro não é uma figura tão folclórica como Chávez. "Não deve chamar o presidente dos EUA de demônio na Assembleia Geral da ONU", disse. "E o país já estava se tornando menos relevante, porque os EUA estão produzindo cada vez mais energia e se tornando autossuficientes."

    Na semana passada, Maduro disse que Reich era um mafioso, que "financia com dólares do poder imperial os grupos que aqui na Venezuela vêm tentando desetabilizar" o governo.

    *

    Em e-mail à Folha, Otto Reich pede que a colunista faça uma retificação:

    "Eu nunca apoiei Pedro Carmona em seu curto governo. Eu instruí nosso embaixador a informá-lo que, se assumisse a presidência, estaria violando a Constituição da Venezuela e portanto não poderia contar com o apoio dos EUA. A informação de que os Estados Unidos (apoiaram o golpe), amplamente divulgada na época, é falsa."

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024