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    Patrícia Campos Mello

    A diferença entre os manifestantes e os ogros

    28/06/2013 20h07

    Quem se recusa a condenar a violência, é conivente com a violência?

    Durante a sabatina que a Folha e o UOL promoveram com os integrantes do Movimento Passe Livre Mariana Toledo e Caio Martins, na quinta-feira, os dois se negaram a criticar os manifestantes que depredaram ônibus e prédios públicos ou saquearam lojas.

    Mariana e Caio insistiram que a violência sempre começava com a polícia, e os manifestantes apenas reagiam. "(Depois de a polícia jogar bombas) é neste momento que começa o quebra-quebra feio", disse Caio. "Aqui no Brasil a gente não está acostumado com manifestação pacífica; é muito difícil a gente conseguir ser pacífico na rua porque o Estado é violento."

    Isso pode ter sido verdade até a fatídica quinta-feira de violência policial na Rua da Consolação. Mas no protesto em frente à Prefeitura, o que se viu foi muito diferente.

    Durante a sabatina, perguntei à Mariana: "Vocês condenam esses atos de depredação, ataques contra prédios públicos, ou eles são um instrumento legítimo de luta?"

    "O descontentamento é tanto, as pessoas são tão pouco ouvidas, e participam tão pouco da política, que a revolta é extravasada de todas as formas...A questão aqui não é condenar ou não condenar, achar legítimo ou não. É que a gente perceba como a população está descontente"

    "Mas você acha legítimo?"

    "Eu não acho nada, estou aqui como membro do Passe Livre. A gente achava que não tem que ter depredação do patrimônio público, nossa disposição é ter manifestação pacífica. Mas, em geral, quem não deixa a gente fazer manifestação pacífica é o Estado."

    Uma pessoa da plateia perguntou se eles ajudariam a polícia de alguma maneira "a identificar os vândalos", para que as manifestações se mantivessem pacíficas.

    Mariana primeiro disse que não iria "ajudar o Estado a criminalizar a população". Depois, não quis distinguir entre manifestantes legítimos e vândalos ou saqueadores.

    "O problema desta distinção é que ela normalmente varia de acordo com interesses muito mais do que de acordo com ações. O uso dessas palavras varia muito, pra gente é muito difícil fazer o que a imprensa faz, que é congelar as duas coisas, os manifestantes pacíficos e os vândalos , esses nomes mudam muito conforme o momento, o que está na pauta."

    O Movimento Passe Livre conseguiu um feito histórico - reduzir o preço da passagem por meio da pressão das ruas. Apesar de eles insistirem que são um movimento preocupado estritamente com transportes, os protestos desencadeados por eles levaram o Congresso a derrubar a famigerada PEC 37, determinar o fim de voto secreto em cassações de parlamentares, além de outras conquistas.

    Mas é bastante preocupante a recusa do movimento de distinguir manifestantes legítimos de vândalos que se juntam aos protestos para quebrar ônibus e saquear lojas.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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