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    Patrícia Campos Mello

    Dilma quem?

    20/09/2013 03h00

    Um dia depois do cancelamento da viagem da presidente Dilma Rousseff a Washington, o assunto já tinha morrido nos Estados Unidos. Embora o cancelamento de uma viagem de Estado, mais alta honraria concedida a um país, seja extremamente raro, nenhum jornalista perguntou sobre repercussões ou desdobramentos do incidente durante as coletivas de imprensa da Casa Branca e do departamento de Estado no dia 18 de setembro.

    Em vez disso, voltaram para o "business as usual": orçamento, massacre no Navy Yard de Washington, Síria, Obamacare, Irã.

    Julgar que o cancelamento não deixa nenhuma sequela é precipitado.

    Como disse Yochi Dreazen no blog The Cable, da Foreign Policy: "O Brasil é um dos mais ricos e poderosos países na América Latina, então a decisão de Rousseff tem implicações amplas para a influência de Washington na região. É muito raro um chefe de Estado cancelar uma visita, então o cancelamento é também um enorme constrangimento para o governo Obama."

    Mas no curto prazo, os prejuízos são pequenos, para ambos os lados.

    Diminuem as chances de a Boeing ganhar o contrato para fornecer caças para a FAB, que pode chegar a polpudos US$ 10 bilhões --embora não se saiba quando e se a licitação vai sair, do jeito que vão a economia e o orçamento brasileiros.

    O Brasil fica sem o plano piloto do Global Entry, que facilita a entrada de alguns viajantes aos EUA, e poderia ser um primeiro passo para o país finalmente entrar no programa de dispensa de visto. Mas do jeito que anda o balanço de pagamentos do Brasil, entende-se que o governo brasileiro não tenha pressa em aumentar o número de brazucas que vão a Miami fazer compras.

    Já o sonho dourado da diplomacia brasileira --apoio a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU-- não ia sair mesmo. Embora fosse quase indolor para Obama --todo mundo sabe que a reforma do CS dificilmente vai sair neste século, diante da oposição da China à entrada do Japão.

    Ou seja, nada que uma visita reagendada para o primeiro semestre do ano que vem não conserte.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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