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    Patrícia Campos Mello

    Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

    08/11/2013 03h00

    Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas até explicar...

    Como disse a presidente Dilma Rousseff, a espionagem da Abin não pode ser equiparada à vasta rede de grampos eletrônicos e telefônicos da NSA.

    A Abin nem sequer consegue prever as manifestações, que são convocadas pelo Facebook!

    Mas o fato é que os americanos vão se agarrar à revelação de que o Brasil espionou diplomatas do Irã, Rússia, e um escritório da embaixada americana em Brasília, conforme descrito na brilhante reportagem de Lucas Ferraz na Folha.

    Autoridades americanas e a imprensa já estão deitando e rolando.

    "Olha só, todos os países se envolvem em atividades de inteligência, é natural", dizem americanos.

    Dilma e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, enfatizaram que o Brasil fez apenas contraespionagem e só monitorou estrangeiros em território nacional, nada ilegal.

    Mas nos EUA, a revelação sobre a Abin reverberou na imprensa, à direita e à esquerda.

    Reihan Salam, do conservador National Review, ironizou a "hipocrisia" do Brasil. "O governo de Dilma Rousseff acredita mesmo que o Brasil iria se beneficiar de uma ordem mundial mais multipolar, ou está pensando apenas em benefícios eleitorais de curto prazo, tentando lucrar com o sentimento nacionalista? ", escreve Salam. E logo depois conclui: "Dado o estado precário da economia brasileira, Rousseff e seus aliados têm poucas alternativas, e optaram por dar um soco no nariz dos EUA".

    John Aravosis, do blog de esquerda AmericaBlog, diz que a notícia sobre a Abin não é uma surpresa. "Os países espionam, e é universalmente aceito que até países amigos espionam", diz.

    "Os países fazendo mais escarcéu sobre a espionagem dos EUA provavelmente são aqueles que fazem muita espionagem, mas talvez não tão tecnicamente sofisticada como a nossa (não por falta de tentativa)." E arremata: "O fato de outras pessoas o fazerem (espionagem) significa que nós não temos mais de ouvir esses governos quando eles nos criticam por fazer o que eles também fazem, simplesmente porque nós fazemos melhor."

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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