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    Patrícia Campos Mello

    Reforma do FMI fica para as calendas

    17/01/2014 03h00

    A reforma para aumentar o poder dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI), uma grande bandeira do governo brasileiro, foi vetada pelo Congresso dos Estados Unidos.
    Na segunda-feira, o Congresso aprovou um pacote orçamentário de US$ 1,012 trilhão, mas, pressionado por legisladores republicanos, deixou de fora as verbas para implementar as reformas do Fundo.

    A reforma das cotas, que foi acordada em 2010 em Seul, aumentaria o poder de voto de países como China, Brasil e Índia. Isso ajudaria a refletir a maior importância que essas economias passaram a ter no mundo e reduziria o desequilíbrio do Fundo, que tem nações europeias com poder de voto desproporcional a sua (des)importância econômica.

    Os emergentes ganhariam seis pontos porcentuais do total de cotas. O poder de voto Brasil, por exemplo, passaria de 1,72% para 2,21%.

    Mas as reformas acordadas em 2010 não entraram em vigor até hoje porque os Estados Unidos foram o único país a não ratificá-las. Como os EUA têm 16,75% de poder de voto e a reforma exige 85% de apoio, na prática o país tem poder de veto.

    O tema já se havia tornado uma saia justa para o governo Obama. O presidente americano apoiou a "democratização" do Fundo, um gesto de boa vontade com países como o Brasil, só para ser desautorizado pelo Congresso, depois de anos de enrolação.

    A reforma determina que os EUA e outros países aumentem sua contribuição. No caso dos EUA, o país iria apenas transferir seus US$ 63 bilhões de recursos para empréstimos emergenciais para o fundo geral do FMI. Mas isso exigia autorização do Congresso - que não foi incluída no pacote orçamentário.

    Republicanos brecaram a medida, afirmando que a mudança poria em risco os recursos do governo dos EUA e que a instituição gera "moral hazard" - incentiva países a assumirem riscos excessivos, uma vez que eles têm certeza de que podem ser resgatados pelo FMI.

    Como pano de fundo está a ojeriza da direita americana por todo tipo de instituição multilateral internacional. Basta lembrar do embaixador de Bush Filho na ONU, o bigodudo John Bolton, afirmando que poderiam sumir com dez andares do edifício das Nações Unidas em NY que não faria a menor diferença.

    Com eleições legislativas neste ano, será difícil por o tema na pauta de votações. Ou seja, a reforma do FMI ficou para as calendas gregas.

    E isso fortalece a ideia do Banco dos Brics, ou Novo Banco de Desenvolvimento, como também é chamado. O propósito de se fazer um banco reunindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul é ignorar as grandes potências tradicionais e fazer uma instituição banco nos moldes dos emergentes. Por mais entraves que o banco dos Brics tenha pela frente —resistência da Rússia, prepotência da China, ceticismo em relação a sua real utilidade - o FMI do B está cada vez mais atraente com o fracasso da reforma do FMI titular.

    patrícia campos mello

    Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.

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